Marcello Casal JR. Ag Brasil
O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic em 0,5 ponto percentual, para 6% ao ano, o menor percentual desde 1996, quando o regime de meta de inflação foi criado. A decisão atende às expectativas do Palácio do Planalto e, em especial, do presidente da República, Jair Bolsonaro, que, agora, vê os juros cair para o menor patamar da história. De acordo com analistas do mercado, a autoridade monetária sinalizou que novos cortes devem ocorrer na próxima reunião, marcada para meados de setembro.
A diretoria do BC tem mais três encontros em 2019. Com a queda, economistas já cogitam a Selic a 5% ao ano ou até menos neste ano, a depender dos indicadores de crescimento econômico e do cenário externo. Para analistas, o avanço da reforma da Previdência em primeiro turno no plenário da Câmara dos Deputados com placar elástico foi fundamental para a redução de 0,5 ponto percentual.
A diminuição da taxa já era esperada pelo mercado, uma vez que a atividade econômica ficou estagnada no primeiro semestre e ainda demonstra dificuldades de reação. A única divergência existente era sobre a intensidade do corte. Os mais cautelosos esperavam uma diminuição de 0,25 ponto percentual, devido ao perfil do presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto. Desde que assumiu o cargo, em fevereiro deste ano, nenhum tipo de mudança havia sido proposta para a Selic.
Mas, não foi o que ocorreu. O próprio presidente da República, Jair Bolsonaro, disse, na manhã e nesta quarta-feira (31), que “não é Dilmo”, mas que esperava uma redução da taxa básica. “Estou torcendo apenas para que caia. Cada 1% da taxa Selic são R$ 40 bilhões a mais que a gente gasta por ano. A gente torce, pô! Eu não vou influenciar lá, eu não sou o Dilmo de calças compridas”, disse, na entrada do Palácio da Alvorada.
O economista-chefe da Ativa Investimentos, Carlos Thadeu de Freitas Filho, considerou a decisão correta e que o comunicado do BC foi como o esperado. Pelo texto do BC, o comitê informou que a “consolidação do cenário benigno para a inflação prospectiva deverá permitir ajuste adicional no grau de estímulo”. As projeções do Copom para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) se mantiveram em torno de 3,6% para 2019 e 3,9% para 2020.
Freitas Filho destacou que, no penúltimo comunicado, o Copom havia sinalizado que o avanço da reforma da Previdência era preponderante. “Deu muito peso à Previdência e reconheceu que tinha espaço para o corte. Com a votação em primeiro turno, com placar grande, não fazia sentido um corte gradual de apenas 0,25 ponto percentual nesta reunião”, disse.
Patrícia Pereira, especialista da Mongeral Aegon Investimentos, também tem leitura parecida. Ela afirmou, porém, que apesar de o BC sinalizar novo corte na próxima reunião, que deve ser de mais 0,5 ponto percentual, a autoridade monetária não copactua com a animação do mercado que levaria a Selic a índices muito menores.
Um trecho da nota do Copom, enfatiza que a comunicação “não restringe sua próxima decisão e reitera que os próximos passos da política monetária continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação”. Carlos Thadeu de Freitas Filho e Patrícia Pereira afirmaram que esperam mais dois cortes de 0,5 ponto percentual na Selic até o fim do ano, levando-a para 5% ao ano.
“O BC foi correto em começar o corte nesta reunião, com parcimônia, para acompanhar o avanço da reforma da Previdência. Como houve esse avanço, houve a abertura de um ciclo mais forte e mais rápido de queda, que deve ocorrer até a penúltima reunião do ano. Na última, deve manter estável para sinalizar que o ciclo terminou”, avaliou Patrícia.