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Pernambuco, 11 de fevereiro de 2025

Cidades

Conexões com o mundo Luso no Ano do Covid

A pandemia inscreve seus efeitos na própria alma das pessoas ao obrigá-las ao confinamento. A violência doméstica explodiu. As casas ficaram pequenas para abrigar mais pobreza e, ao mesmo tempo passar a conter dentro dela, a vida familiar, mais a escola, o trabalho doméstico e alguma forma de lazer. Quantos desejos presos e sonhos frustrados, no Ano do Covid em Portugal.

Postado em 18/04/2021 2021 06:54 , Cidades, Últimas Notícias. Atualizado em 18/04/2021 11:45

Colunista
Jornalista ,

CENTRO DE LISBOA SEM TURISTAS E VAZIO FOTO INTERNET

A pandemia é uma tragédia de extremos,  com milhões e milhões de sonhos frustrados  no meio e uma conta elevada para pagar  devido ao menor  desenvolvimento humano no futuro. Hápssoas que ganharam  com a pandemia, sim, com certeza. Desde o simples social media a um Elon Musk, da SpaceX e Tesla. E além das vidas humanas, quase três milhões de pessoas, quantos perderam? Ainda é difícil contabilizar  porque não se trata apenas de impacto econômico.

Um ano de frustração no mundo luso

Nas ruas de Lisboa, em Portugal, onde vivo, há um sentimento que me faz lembrar muito os versos de Carlos Pena Filho: “São trinta copos de chopp,/ são trinta homens sentados, /trezentos desejos presos, /trinta mil sonhos frustrados”. Portugal explodia de vigor econômico antes da pandemia. Em um ano, frustrou-se. Só no turismo perdeu 12 milhões de visitantes e algo como 21 bilhões de reais em receitas, segundo dados da Confederação Nacional de Turismo,  publicados pelo Diário de Notícias.

Por trás de cada números destes há uma família de empreendedores, trabalhadoras e trabalhadores. Há o tradicional restaurante que fechou e não vai mais abrir. Há as economias das pessoas usadas para transformar o velho apartamento em Airbnb ou alojamento local, como são classificados. Mas há os produtores de vinhos, de azeite, de queijos, os comerciantes, os artistas, os cantores de fado, os emigrantes na pobreza. Quantos agora trabalham precariamente em algum serviço de entregas e de transporte via aplicativo? O desemprego explodiu por toda parte e entre os portugueses já passa dos 7%, apesar dos fortes investimentos públicos para cobrir salários e rendas das empresas.

COMERCIO FECHADO NO PORTO PORTUGAL FOTO INTERNET

E as Escolas e o ensino como ficaram?

Passados 12 meses de restrições às atividades escolares, ficou claro para especialistas e professores que teremos, com certeza, sequelas graves em gerações inteiras por toda parte do mundo. Adolescentes que perderam o contato físico com os amigos e, por isso, poderão ter algum tipo de problema de personalidade. Pré-adolescentes que seriam atletas e poderão já não sê-lo porque passaram um ano sedentários. Enfim, são muitas as possibilidades de consequências.

Os profissionais da área temem especialmente pelo percurso escolar das crianças mais novas, em fase de alfabetização, por causa do distanciamento das salas de aulas, onde aprofundariam com maior firmeza os conhecimentos iniciais e particularmente o aprender a aprender. Ninguém sabe ainda estimar o saldo deste processo lá adiante, quando tudo isso passar e estivermos vacinados.



E os confinamentos paradisíacos

Contudo, há quem esteja a ganhar muito e a viver confortavelmente seu confinamento em alguma praia paradisíaca. Dados da Bloomberg mostram que as 500 pessoas mais ricas acrescentaram 1,8 trilhão de dólares a suas fortunas, terminando o ano passado com um patrimônio total de 7,6 trilhões de dólares, mais do que o PIB do Japão inteiro – 500 pessoas comparadas a um dos países mais desenvolvidos do mundo com 127 milhões de habitantes.

Talvez por influência destes sujeitos da história, influentes que são, não tenha sido possível produzir vacina em escala global suficiente para conter a pandemia. Uma vacina cujo processo de fabricação é relativamente conhecido e de fácil ampliação. O fato é que mudo interrompeu muitos de seus processos de desenvolvimento e certamente está a ampliar as desigualdades em todos os seus sentidos – econômicos, políticos e humanos.

 E trágica explosão da violência doméstica 

 A pandemia inscreve seus efeitos na própria alma das pessoas ao obrigà-las a confinar. A violência doméstica explodiu. As casas ficaram pequenas para abrigar mais pobreza e ao mesmo tempo passar a conter dentro dela a vida familiar mais a escola, o trabalho, o trabalho doméstico e alguma forma de lazer.

Claro que tudo isso acontece de modos distintos, a depender do suporte que cada família garante para si, emocional e financeiro. As reações, no presente e no futuro, dependerão de como nos colocamos no mundo, porque afinal é nossa própria humanidade que está em jogo. Muitos tentam minimizar as mortes e os efeitos psicológicos da pandemia, como no Brasil de hoje, nesta Mórbida República. O fato é que vão ser necessárias medidas mais profundas do que as econômicas para nos tirar do quadro depressivo.

Clique aqui para ter acesso ao Texto Original publicado no Observatório do Jornal do Sertão Edicao 217

 

Cesar Rocha

Quem é Cesar Rocha .

Jornalista, consultor em comunicação, sertanejo de Petrolina, vive em Lisboa

cesar@wcomportugal.com