Bonança da palavra Por Rogério Robalinho
O Sertão é um mar de cultura criativa que abriga uma história rica de manifestações poéticas populares
Postado em 21/05/2021 2021 08:01 , Cultura. Atualizado em 20/05/2021 11:19
Em abril, o Festival Bonança – Do Sertão ao Litoral chegou à oitava edição. Pela primeira vez, devido às circunstâncias da pandemia que aflige todos nós, o evento multicultural com realce para a produção artística sertaneja foi realizado exclusivamente de forma virtual. A presença mediada pela comunicação não retirou a emoção dos participantes, e certamente, não afetou o entusiasmo do público diante das manifestações exibidas pelo canal da Bienal Internacional do Livro no YouTube.
O Festival
A promoção de um evento com essas características de resgate, resistência e divulgação da cultura sertaneja é também uma oportunidade ímpar de estimular a diversidade inerente ao fazer artístico e ao trabalho criativo. O próprio Sertão é amplamente diverso, quando se pode enxergar a pluralidade da arte e dos artistas com origem na região. Como as vozes de Oliveira de Panelas, Cida Pedrosa, Jorge Filó ou do trio Em Canto e Poesia, que marcaram presença no Bonança deste ano.
As atividades formativas compõem um já tradicional e aguardado quinhão do Bonança
Desta vez, a improvisação do repentista e os segredos do repente foram temas da conversa com Edimilson Ferreira. Na roda com Cida Pedrosa, Haideé Camelo e Susana Morais, “Grande Sertão: Poesia e Vida”, o Sertão plural ganhou a cena. A formação agrega a experiência reconhecida de importantes atores com o interesse crescente, sobretudo dos jovens, em dar continuidade à expressividade sertaneja. Além disso, o festival, ao identificar nomes que dão sentido à exposição artística, promove a profissionalização no setor, estimulando relações formais e duradouras de intercâmbio de experiências e condições sustentáveis de maior alcance no mercado regional e nacional.
Edição online do Festival Bonança 2021
A edição puramente online do Festival Bonança 2021 teve as restrições características deste momento de manutenção do distanciamento social. Mas também suscitou a abertura de oportunidade para a participação que independe da logística e dos custos relacionados ao evento tradicional, presencial. Como produtores de grandes e importantes eventos, ao lado do Ideação, estamos alinhados à tendência da realização híbrida, quem sabe a partir do ano que vem, se a Covid-19 estiver sob controle, permitindo o retorno da plenitude das atividades culturais. Enquanto isso, seguimos no plano virtual, somando energia criativa ao esforço de cada artista na divulgação de seu trabalho a partir da ampliação de suas redes.
O fortalecimento das cadeias produtivas da cultura passa pela aproximação e integração de visões transformadoras, com o objetivo de aproveitar o manancial poético legado e existente para sensibilizar e mobilizar as pessoas. Acredito que a arte é o encontro da sensibilidade individual com a catarse coletiva. Desta forma, investir na valorização da cultura sertaneja é apostar na relevância social e econômica da dimensão artística inexorável ao desenvolvimento de um povo. Esse fortalecimento suscita um melhor e maior ambiente de negócios para a arte e a cultura originadas ou que dialogam com o Sertão nordestino.
Que seja o Bonança uma marca de esperança. Bonança que se transmite do Sertão ao Litoral, de geração a geração, de cidade a cidade, de arte a arte, com a poesia no olhar do presente e uma visão coerente e construtiva do futuro almejado pela produção cultural.
Por Rogério Robalinho
Rogério Robalinho é produtor cultural, diretor da Cia de Eventos,
curador do Festival Bonança e coordenador-geral da
Bienal Internacional do Livro de Pernambuco.