Facebook jornal do sertão Instagram jornal do sertão Whatsapp jornal do sertao

Pernambuco, 07 de janeiro de 2025

Cidades

No Vale do São Francisco, não existe crise para o setor da construção civil e arquitetura 

Grandes condomínios fechados que trazem mais segurança e conforto às famílias são tendências existentes há muito anos em Petrolina e entorno, e trouxeram para tais moradias uma população flutuante, de diversas regiões do País e do mundo, principalmente pela vocação do agronegócio, educação superior, entre outros setores

Postado em 09/07/2021 2021 09:42 , Cidades. Atualizado em 09/07/2021 10:06

Condomínios fechados compõem tendência em alta no Sertão pernambucano/ arquivo pessoal Sandra Guimarães

Num crescente mercado de oportunidades nos setores imobiliário, da construção civil e, principalmente, após a vinda das universidades para o Vale do São Francisco, e da pungência do agronegócio, muitos profissionais de diversas áreas do País e do mundo migraram para as principais cidades polos do Sertão como Petrolina, Serra Talhada, Arcoverde, Juazeiro (BA), Araripina.

 

A arquiteta nascida em Petrolina, Sandra Guimarães, 51 anos, deixou a cidade logo cedo, aos 14 anos, para complementar seus estudos no Recife. Mas, após concluir o curso de Arquitetura na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), decidiu retornar para a cidade natal e lá está morando há 22 anos.

Arquiteta Sandra Guimarães aposta na diversificação de seus projetos com mix de cultura e modernidade/ arquivo pessoal

Em sua opinião, a chegada das Universidades foi o divisor de águas para o desenvolvimento do município e região do entorno. Considerada a capital do São Francisco, Petrolina é um município que atrai até hoje empreendedores e moradores de todos os cantos do mundo. Por possuir uma arcabouço urbanístico moderno, por conta de visões futuristas de ex-gestores municipais, suas avenidas largas foram concebidas com uma concepção de uma cidade inteligente. 

Madeira, vidro e cobogós presentes nos projetos de empresariais em Petrolina, por Sandra Guimarães

“Na minha infância e pré adolescência lembro-me que na minha rua tinha pessoas de Israel, França, Alemanha, Japão, entre outros cantos. Imagine, quantas pessoas se mudaram para a cidade. Alunos, professores que vinham morar aqui por conta das universidades e também de profissionais que trabalhavam nos projetos de irrigação.O que sentimos é que existem pessoas de todo o Brasil e do mundo. É uma cidade que lhe supre de tudo. A população aumentou muito e explodiu o mercado imobiliário e da construção civil”, opina a arquiteta.



Materiais de construção: sinal de demanda crescente

O primeiro sinal crescente dos setores imobiliário e da construção são as lojas de construção em cada bairro. É difícil olhar para uma localidade que não possua uma loja de material de construção.Outra tendência que mostra o quanto tais segmentos crescem na cidade é a quantidade de empreendimentos sob formato de condomínios fechados horizontais, como uma opção de moradia de segurança e um pouco afastado do centro urbano. 

 

“As pessoas querem morar distante do centro, querem mais calma”, diz a arquiteta que, inclusive, possui uma casa em um dos condomínios na cidade. Os preços dos terrenos não são considerados baixos, mas a depender da localidade varia em torno de R $10 mil (10×20), mas podem chegar a R $150 mil. O presidente da Associação dos Engenheiros e Agrônomos do Sertão de Pernambuco (ASSEA), Urbano da Costa Lins, corrobora com a opinião da arquiteta.

Urbano da Costa Lins, da ASSEA,  aposta no dinamismo do mercado e prevê crescimento/ arquivo pessoal

 “Condomínios fechados são os mais presentes em nossas edificações. Houve uma retração, durante o início da pandemia, mas as obras não pararam. O que aconteceu, para esse segmento específico, foi a falta de material de construção que compõe a estrutura básica, além da mão de obra”, disse o gestor da ASSEA.

Os condomínios fechados são estruturas mistas empreendidas por grandes construtoras que administram e contratam empreiteiras. “Petrolina num raio de 700 km tem um impacto grande em termos profissionais em relação às outras cidades sertanejas. Temos todas as engenharias em nossas universidades. É uma corrente de crescimento econômico. Existem construções de pequeno porte para estudantes e, por tabela, têm outros segmentos como o de serviços e comércio que movimentam a economia”, acrescentou. 

 

Tendências de estilo

Por ser uma cidade pulverizada, com diferentes moradores e uma população flutuante diversificada em seus costumes, não existe ainda uma arquitetura própria em suas construções. “As construções são imponentes. Mas, ainda existem limitações por conta do tamanho dos terrenos. É pouco espaço e não tem como fugir da tipologia dos projetos. Quando temos mais área, ficamos mais livres para fazer os projetos”, avalia Sandra Guimarães.

Condomínios fechados compõem tendência em alta no Sertão pernambucano/ arquivo pessoal Sandra Guimarães

Na orla, por exemplo, existem prédios com uma arquitetura moderna, projetos de uma unidade por andar, mais destinado ao público de poder aquisitivo mais alto, com o apelo da vista para o Rio São Francisco ou à beira do rio, com uso demasiado de placas solares, o que demonstra, sem dúvida, uma cidade conectada com a modernidade. 

“Não identificamos uma pegada rural, de arquitetura sertaneja. Utilizamos muito a madeira, por um apelo rústico e arrojado. Mas, depende muito do que o cliente deseja. Como minha carteira é muito diversificada, e tenho uma ligação forte com a cultura, meus projetos em geral trazem a arte local para minha clientela”, revelou a arquiteta.

 

Projetos com arte e cultura social

Com uma veia artística e cultural presente em seus projetos, Sandra também está envolvida em trabalhos como o espaço do grupo teatral Biruta, onde é responsável pela construção de sua sede, em um projeto de irrigação, como também a Casa das Cores, do movimento LGBTQIA+ (na tradução livre é um movimento político e social que defende a diversidade e busca mais representatividade e direitos para a comunidade por mais igualdade e respeito à diversidade de gênero, seja pela sua orientação sexual, identidade ou expressão de gênero, ou características sexuais). 

“Aqui, as pessoas querem fazer tudo em nível bem criterioso. É uma cidade para se encantar. Depende de nós arquitetos traduzir o que os clientes querem. Faço também projetos comerciais como cafés, galerias de lojas. Sempre estou envolvida com projetos diversos. Tenho uma outra pegada cultural. É instigante. Mas temos um mercado crescente na área de saúde, de mobilidade, mas eu, particularmente, gosto de diversificar”, disse a renomada arquiteta petrolinense. 

 

Um de seus projetos bem conhecidos é o Café de Bule, que possui dois ambientes. No térreo, o café é considerado o número 1 no segmento de cafeteria e chás, segundo classificação no TripAdvisor. Já no primeiro andar, na janela 153, acontecem projetos de exibição de filmes de arte.

 

Na Pandemia, mercado não parou

Mesmo com a pandemia do coronavírus, o mercado para os profissionais da construção civil, de arquitetura, de ambientação e design de interiores, deu uma mexida, mas ao que parece foi para melhor. 

Para Sandra, Petrolina por ser uma cidade atípica, na pandemia fez com as famílias, mais reclusas dentro de casa, olhassem para dentro, daí não pararam de trabalhar. “Aqui falta mão de obra, material de construção. Porém, os trabalhos não param, as pessoas sempre fazem alguma reforma, ampliam suas casas, mudando a decoração, ou construindo”. 

De fato, segundo o presidente da ASSEA, Urbano Lins, não houve paralisação. “O que existiu foi uma leve retração, mais ocasionada pela falta de material de construção, como dito anteriormente. Mas, a demanda sempre existiu. Faltou produto para vender. Neste momento, estamos voltando à normalidade”, acredita.