O milho verde é uma hortaliça que se produz nos sertões
O milho além do São João
Postado em 22/07/2021 2021 19:28 , Agronegócios. Atualizado em 29/07/2021 16:50
Nos lembramos bem quando milho verde era quase sinônimo de canjica, pamonha e São João. Semeava-se o milho no dia de São José, 19 de março visando-se a colheita ao redor do dia 22 de junho, em um intervalor de 95 dias, quando os grãos se encontram em estágio de massa mole. Passaram da fase massa aquosa e não chegou ao grão duro. As novas cultivares e híbridos são mais precoces e encurtou o ciclo da colheita do milho verde em 15 dias, o que significa uma menor quantidade de água e uma maior probabilidade de sucesso. Além disso, o sertanejo abriu os olhos para o uso da água em duas culturas, a palma forrageira e o milho. O resultado é que se desenvolveu uma exploração intensiva, em pequenas áreas com característica própria. O milho verde deixou de ser um ´cereal` no sentido da planta que produz grão, para se tornar uma hortaliça, tal qual a berinjela, a abobrinha ou o chuchu.
Passado é o tempo em que a pamonha era uma iguaria junina. Na maioria das cidades do Agreste e Sertão e em todo o Nordeste semiárido, se encontra a pamonha, salgada ou doce, pura ou com recheio, como se faz em Goiás, todos os dias do ano. Não se corre o risco de o desejo não ser atendido. Fiquem tranquilas. Além do mais são três produtos que ganharam fama e grife: a tapioca, o cuscuz e a pamonha, me falou o amigo Roberto, correndo entre o Braz, na velha Sampa e o Paraná. A canjica, vem logo atrás, ainda sem o mesmo apelo comercial dos pratos citados, mas titular no time da culinária desta planta que há tempos foi elevada a condição divina por nossos irmãos pré-Colombianos.
Tornou-se uma grande opção de cultivo
Quanto ao cultivo, tornou-se uma opção de grande valor para os pequenos e médios produtores que passaram a fornecer espigas verdes e bem formadas durante todos os meses do ano e, com isto, aproveitar melhor o pouco de água que lhe sobra, transformando-a nesta matéria prima alimentar. Há um fato adicional que nem sempre se presta a devida atenção. A palha que sobrou no campo passou a ser um produto valorizado para os pecuaristas produtores de leite. Um golpe de Kung Fu, como se dizia antigamente, o agricultor passou a ter uma atividade dupla: jardineiro e produtor de alimento animal.
Temos muito a caminhar
Grandes empresas de sementes de milho passaram a por o olho neste mercado e desenvolver tipos específicos que atendam esta demanda. Qualquer produtor com quem se fale, vai dizer muito bem qual o híbrido quer está plantando no primeiro e no segundo semestre.
Aquele que precisa de mais água ou de mais fertilizante. O que fornece uma melhor espiga para o pamonha ou para o cuscuz. Isto faz parte de uma mudança radical que está ocorrendo à nossa frente com o cultivo do milho em todo o Nordeste. No caso do milho verde, a maioria das áreas são irrigadas, mas o cultivo sob condições de chuva continua e a toda hora se coloca no mercado de sementes de materiais mais precoces e mais tolerantes à secas e também mais saborosos.
A lição que se tira é que a ciência e a pesquisa têm auxiliado muito e não é à toa que o milho passou a ser a grande vedete da agricultura mundial nas primeiras décadas do século XXI. E aqui, no Sertão de Seu Luiz, não tem sido diferente. Pode crer.
Quem é Geraldo Eugênio: Engenheiro Agrônomo, com mestrado na Índia e doutorado e pós-doutorado nos na Texas A&M University, Estados Unidos, é ex-pesquisador do IPA e Professor Titular em Agricultura e Biodiversidade na UFRPE – UAST, Serra Talhada, PE. Foi Secretário de agricultura de Pernambuco, Presidente do IPA, do ITEP e Diretor Executivo da Embrapa. Nos últimos anos tem acompanhado de forma direta políticas, tecnologias e iniciativas inovadoras aplicadas à gestão de secas, no Brasil e no exterior. Considera essencial entender melhor o Sertão, visualizando-o como um grande ambiente de negócios e sucesso.