
Há sempre um mundo além da crise
Alargando o horizonte, dois aspectos enquanto professor de história, inquietam-me, no sentido de buscar uma reflexão mais aprofundada que culminem com um diálogo mais consistente entre contextos e gerações independente do momento vivido.
Postado em 03/08/2021 2021 17:15 , Educação. Atualizado em 02/08/2021 17:36
Prof. Diedson Alves Mestre em Ciência da Educação
“A verdadeira crise é a crise da incompetência… Sem crise não há desafios; sem desafios, a vida é uma rotina, uma lenta agonia. Sem crise não há mérito. É na crise que se aflora o melhor de cada um…”
“A. Einstein”
Neste prisma, minhas atenções voltam-se para dois olhares: O primeiro – a expectativa e pressões sobre as gerações futuras e os nós que cada safra terá que desatar por meio de legados humanos experimentados, refletidos, aprimorados e as próprias habilidades e convicções que cada geração estabelece nesta relação passado e presente. O segundo – os recortes históricos desafiadores que cada momento requer da humanidade novos recortes, novos redimensionamentos, pois a história é viva, é mutável, pois assim é a humanidade, assim se coloca a juventude, viva, dinâmica com outros olhares, outros “saberes e fazeres”.
O final do século XX trouxe mudanças significativas em vários campos, principalmente político e econômico que impulsionaram um leque de transformações em infinitas áreas, me refiro especificamente ao campo da saúde, em termos de avanço tecnológicos, políticas públicas de saneamento e popularização de vacinas. Toda essa abordagem para indicar o aumento da expectativa de vida e nele o atrito entre gerações é cada vez maior. Temos o contato efetivo de três gerações de contextos diferentes: a baby boomers – nascidos (1940 as 1960) num mundo buscando a recuperação após duas guerras, uma grande crise (1929), um contexto de Guerra Fria e uma postura familiar e educacional extremamente rígida que tiveram que trabalhar muito cedo no mercado de trabalho pela própria necessidade de sobrevivência, portanto sem direito de escolha e com baixa escolaridade; a geração x – nascidos (1960 a 1980) num mundo marcado por revoluções, especificamente no Brasil com a passagem da democracia, governos militares e redemocratização, esses ingressaram no mercado de trabalho mais bem preparados academicamente. E por fim, a geração y – nascidos (1980 a 2000) num contexto de grande avanço tecnológico e científico com uma economia mais favorável, que tem um maior preparo acadêmico, comparada com as gerações anteriores, e buscam a profissão dos sonhos. Vale salientar, que esse choque não é algo específico no interior das famílias e escolas. Tem sido um desafio do setor de recursos humanos onde cada vez mais é comum as divergências entre faixas etárias no trabalho, com conflitos ideológicos e posturais.
O entrelaçamento dessas gerações, devido ao encontro de diferentes mundos, gera grande questionamentos, principalmente da baby boomers. Particularmente ouço com muita frequência na sala de professores e em reuniões pedagógicas, as seguintes colocações: “essa juventude dará conta do recado?”. “a mesma terá capacidade para tal feito?”. Uma vez que estamos diante de uma economia não clássica, que exige um nível de maturidade, confiança e sutilidade muito maior, entretanto, a atual geração verbaliza sua angústia por não perceber isso nesta nova safra. Há inclusive discursos pessimistas que falam de uma geração alheia, perdida, fora do prumo.
Acrescento ainda múltiplos bordões que atravessam gerações, “juventude, o futuro do amanhã”, que “ocupará os espaços, ora ocupado por nós”, “será que essa juventude estará preparada?!” Independente dos bordões e/ou visões, a juventude terá que buscar um sentido não só para as demandas no contexto que irá atuar, mas também arcar com decisões acertadas e equivocadas de seus antecessores que atuará num mundo ainda mais acelerado, de tomadas de decisões, que impactaram um raio muito maior, com esferas globais.
Enquanto educador, trago convicções muito enfáticas no meu cotidiano educacional em relação a profissão, uma delas é o de “ser condenado à esperança” e “aquele que professa o futuro”, de trazer otimismo para os espaços em que atuo, com profundas reflexões, densidade de conteúdo, socialmente responsável e de postura ética. De crença na juventude, aliás, é o que me motiva. Alegria em ensinar e ver no encontro de gerações uma potencialidade enorme, recíproca em que a humanidade tem muito a usufruir positivamente, pois uma geração não abandona outra, e um dos grandes elos de gerações está na escola, na figura, na postura do professor, que vê na essência, um enorme potencial na geração Y, pois, conflitos, dúvidas sempre existirão e por uma questão de sobrevivência humana, cabe às gerações presentes, prepararem as gerações posteriores.
E essa preparação necessita de consistência em termos de valores, exemplos, estudos, e experiências e a partir de todo esse arcabouço contribuir por meio do “fazer histórico” um protagonismo, para abrir horizontes e perceber que diante de uma crise deve se buscar outros olhares, deve se ver além e buscar respostas não tão prováveis e provisórias.
Para uma geração onde tudo acontece de forma instantânea, exigindo por conseguinte respostas rápidas, proponho relatos e momentos que considero essenciais por ratificar não só a superação de um grave momento de crise, mas também por agregar posturas, valores e perspectivas em que você jovem empreendedor por suas ações, tomadas de decisões e projeto de vida. Encontre-se, motive-se ainda mais e promova o ânimo para ver na crise infinitas possibilidades.
Uma das graves desidratações econômicas e sociais mundiais deu-se no século XIII e XIV na Europa Ocidental, decadência econômica devido a queda de produtividade, escassez de alimentos, milhares de pessoas morreram de fome, enquanto outras sobreviveram em grave estado de subnutrição. O contexto era desesperador e funesto, o caos se estabelecia, os problemas econômicos e sociais se avolumavam.
Diante de um momento de tamanha convulsão, diante de uma sociedade fragilizada, vulnerável uma enorme parcela desta população acometeu-se da popularmente conhecida peste negra. Não havia remédio contra a peste. O isolamento era a única forma de se evitar novos contágios. Acreditava-se que era o fim do mundo. Os mais otimistas daquele período não conseguiam vislumbrar solução.
Faltava madeira para fazer caixão, as explicações teocêntricas já não respondiam aos anseios de uma sociedade que buscava outras respostas, e o fim do mundo não chegava. A humanidade necessitava se reconstruir, acreditar nela mesma, na sua capacidade de ir mais além de ver um mundo além da crise. Estamos na passagem do feudalismo para o capitalismo. Estamos historicamente diante do embrião do capitalismo, da globalização e do empreendedorismo.
A resiliência trazida com os declínios ocorridos com a crise feudal projeta um ser humano mais confiante em suas forças e possibilidades, o homem deixou de olhar tanto para o alto, em busca de Deus, passando a dar valor a si mesmo. Nasce a perspectiva sustentável – postura e ações que impactam positivamente no progresso humano.
Fica evidente nesta atmosfera que o ser humano se redescobre como criatura e criador do mundo em que vive. Essa nova maneira de pensar e ver o mundo refletiu na formação de um modelo de homem, caracterizado pela ambição, pelo individualismo e pela competitividade.
Desperta um empreendedor que apesar de muito jovem tem a convicção do seu viés sustentável em que está disposto a empregar suas energias na análise e na transformação do mundo em que vive. Isso refletiu e se desdobrou durante o mundo moderno e contemporâneo. Reafirmo de forma reiterada: atualmente não se admite o distanciamento entre indivíduo e empreendedor, principalmente jovens. Sua postura de vencer na vida, seja num concurso público, seja ingressando num ensino superior ou abrindo uma microempresa, ingressar e fazer carreira numa grande corporação, numa grande multinacional; todos esses projetos exigem um perfil empreendedor.
Partindo desta ótica temos infinitos exemplos de pessoas que encontraram na crise o sustentáculo dos seus sonhos, que entenderam o contexto adverso como uma possibilidade de crescimento pessoal, intelectual e financeiro. Que se reinventaram, se reconstruíram, que começaram a enxergar mais longe e buscaram no mínimo se fortalecer, pois entenderam que as crises passam.
Talvez um jovem não se dê conta a priori, mas sua postura traz um perfil de liderança sustentável vindo à tona uma ação individual que tratará um efeito cadeia extremamente positivo, pois estará contribuindo para o progresso de uma comunidade, de um bairro, de uma cidade. Não consiste num ato isolado o mesmo transforma a teia, o entorno, o todo.
Cria ecos, ao servir de exemplo, gera rendas diretas e indiretas, contribui decisivamente para desmistificar os presságios de fim do mundo. Cria referências positivas, agrega valores. Enfim, a contribuição econômica e social são evidentes, motivando setores e pessoas no contexto de maturidade e confiança.
Desdobramentos que entrelaçam, que caracterizam a sociedade atual voltada para o desempenho, para a produtividade no qual nos tornamos uma empresa em busca de excelência e resultados.
O momento é propício para empreender a si mesmo, vivemos um momento de grandes possibilidades, com o aumento da expectativa de vida temos a oportunidade de feitos que em outros tempos jamais foram possíveis. O contato, a convivência efetiva entre duas ou três gerações. As conexões que podem ser estabelecidas entre as relações rígidas e as relações líquidas nos permitem dar a essa juventude o esteio fantástico diante dos tamanhos desafios e crises que ainda virão.
As crises sempre nos serão apresentadas, não há necessidade de procurá-las, ela é cíclica, está sempre no cio, sedenta por se apropriar de todos os setores da sociedade, gananciosa para derrubar reinos, impérios e sistemas. A única forma de mantê-la adormecida, de detê-la é encontrar soluções e a maior arma que a juventude possui é pensar, empreender, aprendendo a pensar na realidade além da crise.
Quem é Diedson Alves: Mestre em Ciência da Educação pela UDE – Universidade de La Empresa em
Montevideu URU (2012), convalidado pela UTP – Universidade de Tuiuti do
Paraná; Graduado em Licenciatura Plena em História pela UPE – Universidade
de Pernambuco (2001) – Especialista em Psicopedagogia pela FACINTER –
Faculdade Internacional de Curitiba (2002) e Ensino de Sociologia pela UCAM –
Universidade Cândido Mendes- RJ (2019). Docente em História pelo IF-Sertão
Pernambucano (Campus Petrolina) e da Rede Particular de Ensino da Região do
Vale do São Francisco. Palestrante por meio do projeto DIÁRIO DE UM
PROFESSOR – UM ESTALO DE RAZÃO .
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