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Pernambuco, 29 de abril de 2025

Agronegócios

A Ferrovia Transnordestina de Araripina à Suape. Realidade ou miragem? POR GERALDO EUGÊNIO

Logística, logística, logística

Postado em 19/08/2021 2021 16:34 , Agronegócios. Atualizado em 19/08/2021 17:14

Colunista

 

Geraldo Eugênio Foto: Divulgação

Não é de agora que se sabe que o desenvolvimento está assentado na capacidade de deslocamento. Temos exemplos milenares, entre esses, a Muralha da China que além de fortificação era um elo entre províncias distantes, ou as Calçadas Romanas.

Estradas em pedra que conectavam os extremos do império e permitiamque as tropas e as mercadorias fossem deslocadas com maior facilidade, conforto erapidez, sendo Roma o ponto de convergência desta impressionante infraestruturalogística. Pernambuco tem tratado do tema com timidez. As rodovias sempre forammenos cuidadas do que as equivalentes nos estados vizinhos, a exemplo da Paraíba eapenas ao se investir os recursos próprios advindos da venda da Celpe, no início dosanos 90 foi possível a duplicação da BR 232 entre Recife e São Caetano, em um percurso de 150 km, no governo Jarbas Vasconcelos. E lá se vão 20 anos.

Um negócio que se arrasta há décadas

A inserção da Transnordestina como um dos modais do Porto de Suape tomoufôlego no primeiro mandato do governo Lula, foi à frente e quem andava pelo Sertãopode ver o impacto que esta obra causou em vários municípios, destacando-seSalgueiro, centro de produção de dormentes de concreto e onde grande parte das empresas envolvidas estavam sediadas. A partir de 2010 as obras foram diminuindo de
intensidade chegando o leito da ferrovia a uma situação de abandono. Vagões queforam usados para os testes iniciais se encontravam à deriva e a obra deixou deconstar das prioridades do estado de Pernambuco, embora alertas hajam sido dadosquanto a importância estratégica desta coluna dorsal para o estado.

Imagem NE 10

Pernambuco não foi pego de surpresa

Nos últimos anos, pouco se falou, em Pernambuco, sobre esse assunto, pormais que agora tentem mostrar uma versão diferente e várias obras muito menosimportantes passaram à frente. Negociações se arrastavam sobre o que fazer daferrovia natimorta, já que a empresa contratada para sua construção deu um calotenos cofres públicos. De uma hora para outra ficou claro que levar a ferrovia à Suapecustaria muito uma vez que as desapropriações mais difíceis e onerosas estariam porvir em se tratando de pequenos imóveis no Agreste e nos engenhos com cana-de-açúcar na Zona da Mata. A pescaria em águas claras ou turvas seguia seu curso e, deuma hora para outra lavra-se a sentença: A Transnordestina transforma-se em ferroviade Pecém, o principal porto do estado do Ceará. Vem a reação incipiente e tardia
contra um ataque planejado há tempos. Restando, ao estado, correr atrás do prejuízo.

Promessas e mais promessas

E aí surgem as figuras da história e do folclore Pernambucano. Criam-secomissões, correm de Brasília à Recife, discursos de fé, traição, valentia e heroísmoecoam e, do modo mais infantil, alguns creem na ´fake News`: tudo foi resolvido. Aferrovia finalmente chegará à Suape. Desde que se encontre novos investidores. O que, na prática, volta tudo ao ponto zero. Com dinheiro se faz o que se quer. Até
passeios espaciais, não é mesmo? Relata-se este fato triste para lembrar que, pordécadas, no século XX, Pernambuco foi passado para trás, por questões políticas, emdetrimento dos investimentos nos estados da Bahia e do Ceará. Este filme parece ser
familiar. Na versão atual a narrativa foi construída somando-se negligência, descaso,oportunismo e má fé e é importante que se encontre uma alternativa o mais breve possível. Toda esta conversa é para deixar claro que o agronegócio de Pernambuco, do Sertão à Suape depende não apenas da ferrovia, mas da recuperação e duplicação daBR 232 entre Recife e São Caetano seguindo-se até Serra Talhada, em um primeiromomento. Que o diga quem representa as cadeias produtivas de frutas, gesso, grãos,avicultura e pecuária. E o resto? Ah, o resto, como dizia o intendente Libório, é coisa de boi voador. Ou se leva o animal ao chão, ou a vaca vai para o brejo.

 

Quem é Geraldo Eugênio: Engenheiro Agrônomo, com mestrado na Índia e doutorado e pós-doutorado nos na Texas A&M University, Estados Unidos, é ex-pesquisador do IPA e Professor Titular em Agricultura e Biodiversidade na UFRPE – UAST, Serra Talhada, PE. Foi Secretário de agricultura de Pernambuco, Presidente do IPA, do ITEP e Diretor Executivo da Embrapa. Nos últimos anos tem acompanhado de forma direta políticas, tecnologias e iniciativas inovadoras aplicadas à gestão de secas, no Brasil e no exterior. Considera essencial entender melhor o Sertão, visualizando-o como um grande ambiente de negócios e sucesso.