Turbulência na logística marítima e possíveis impactos no escoamento da produção de frutas do Vale do São Francisco. Por Augusto Barreira
A pandemia Covid-19 vem causando sérios problemas nas cadeias globais de abastecimentos.
Postado em 30/08/2021 2021 11:30 , Economia. Atualizado em 30/08/2021 12:22
Escassez de containeres
Outro sintoma que agrava esse mau tempo é a escassez de containers. Em 2020, logo após as medidas de restrição de circulação de pessoas em diversos países do globo, o famoso “lockdown”, provocou nesse primeiro momento uma forte retração do comércio, setores da atividade econômica interromperam suas atividades pressionando as companhias de navegação a adotarem também medidas contingenciais, como cancelamento de chamada nos portos e omissões de serviços em determinadas rotas, tudo isso para diminuir o impacto da baixa demanda. Em contrapartida, desde do segundo semestre do ano passado, a substancial retomada da economia em diversos países levou a um aumento nos níveis de demanda do comércio internacional elevando as projeções acima da capacidade logística dos armadores e operadores portuários.
Navios a espera de atracação
O centro gerador de todo esse descompasso entre oferta e demanda está na China, principal player exportador de produtos manufaturados do mundo, com seus armazéns e portos abarrotados, essa miscelânea entre alta demanda mundial por produtos, falta de containers vazios e filas de navios a espera de atracação nos portos da china produziu uma disparada nos preços dos fretes marítimo, pois como os navios estão extremamente carregados de produtos sobra pouco espaço para a reposição de containers vazios nos principais terminais do mundo. No Brasil, a situação não é diferente, recentemente o Navio Douce France que atracou dia 16 de agosto, no Porto de Mucuripe, ficou com as operações suspensas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) após confirmação de casos de Covid-19. A embarcação veio ao Ceará buscar um carregamento de frutas para abastecer o mercado Europeu.
Impacto na qualidade das frutas
De fato, essas interrupções de serviços portuários e rupturas nos estoques de containers vazios, em se tratando de container refrigerado (container “Reefer”, container especial para transporte da cadeia do frio), ocasiona forte impacto na qualidade das frutas, pois quanto maior o tempo dessa fruta em trânsito mais ela irá perder suas características organolépticas, ter uma “shelf life” (tempo de prateleira) menor, concomitantemente um impacto financeiro e comercial, uma vez que, essa fruta é vendida no consignado ela não irá performar satisfatoriamente aos exportadores que ali dedicaram muita tecnologia, empenho, mão de obra, insumos, dentro da porteira.
Quem é Augusto Barreira: Engenheiro de produção especialista em logística e gerenciamento da cadeia de abastecimento.