
É o fim do poder de negociação de compradores de carros novos ou seminovos?
Durante muitos anos o Brasil teve forte crescimento na quantidade de novos veículos vendidos, principalmente entre 2006 e 2012.
Postado em 31/08/2021 2021 17:12 , Economia. Atualizado em 31/08/2021 17:55
Economista João Ricardo de Lima Prof. da Facape de Petrolina, escreve quinzenalmente sobre Economia & Negócios para o JS.
Lei da oferta e demanda
O ano de 2021 está diferente. Como boa parte de outras áreas da economia, os custos de produção aumentaram muito. Além disso, faltam peças. O setor de bens intermediários, afetado na pandemia, não tem conseguido atender toda a demanda dos setores de bens finais. A oferta cai, dada a escassez de matéria-prima e os preços aumentam tanto pelo maior custo quanto pelo desequilíbrio existente entre a oferta e a demanda. Para se comprar um carro zero quilômetro, em algumas concessionárias, a fila de espera pode chegar a 90 dias. Os preços são surreais e aumentam a cada 15 dias, em alguns casos. E isso impactou fortemente os preços dos carros seminovos, que tiveram forte crescimento na demanda. O preço de um seminovo hoje pode ser igual ou mais elevado do que o preço dele em 2018, por exemplo. O carro desvaloriza a cada mês, inverteu a tendência e passou a se valorizar a ponto de ter seu preço nominal mais elevado do que o pago em um período anterior, desconsiderando a inflação.
E o mais interessante é que acabou o que chamávamos de negociação. Não existe mais o processo no qual o vendedor dá um preço, sem saber o preço de reserva do comprador, ou seja, quanto ele estaria disposto a pagar pelo carro, mas sabendo que irá receber uma contraproposta menor. O comprador, por outro lado, sempre fazia uma contraproposta por um valor menor que o seu preço de reserva de forma que ele poderia pagar um pouco mais do que propôs e o vendedor também reduziria até que ambos concordassem no preço do carro e o negócio se concretizasse.
Dificuldade de negociação na compra
Hoje isso não existe mais. Os vendedores basicamente não aceitam negociar. É o preço que eles pedem e ponto final. “Se quiser, pague. Caso contrário, deixe o carro aí pois ele irá se valorizar ainda mais na próxima semana”, eles dizem. Com muito esforço e paciência talvez reduzam 1 mil reais se o carro for acima de 100 mil. E são indiferentes se o pagamento é à vista ou parcelado dado que para eles sempre é a vista. A financiadora, depois do crédito aprovado, deposita imediatamente o valor integral na conta do vendedor. Em suma, os compradores de carros seminovos, nos dias de hoje, estão sem conseguir argumentar para fechar negócios. O mercado está complicado para todos os compradores, sejam os de carros novos e os de seminovos. É aguardar para verificar se isto é uma bolha ou até onde irá prosseguir desta maneira. Infelizmente, mesmo com tudo isso, nós brasileiros continuamos comprando esses carros.
Quem é João Ricardo Lima: Doutor em Economia Aplicada. Coordenador da Pesquisa sobre a evolução da Pandemia no Vale do São Francisco realizada pelo Colegiado de Economia da Faculdade de Petrolina (FACAPE).