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Pernambuco, 22 de março de 2024

Bem Estar

É Preciso Falar Sobre Suicídio. Por Daniel Lima

O mês de setembro é detentor da campanha “Setembro Amarelo,” uma temática criada para  conscientizar a sociedade sobre a prevenção do suicídio. 

Postado em 15/09/2021 2021 16:41 , Bem Estar. Atualizado em 15/09/2021 20:04

Colunista

 

Daniel Lima – Teólogo, Filósofo e Psicanalista/GBPSF/ISFN. @daniellima.pe

Apesar do trabalho de conscientização ser realizada durante o decorrer deste mes, o  suicídio é algo que acontece o ano todo, por esta razão é necessário  romper com os preconceitos sobre o assunto e desmistificar o fato. No Brasil, o evento foi criado em 2015  pelo CVV (Centro de Valorização da Vida), CFM (Conselho Federal de Medicina) e ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria). A palavra suicídio deriva do latim sui (si mesmo) e caederes (ação de matar), ou seja, é um gesto de autodestruição, ou seja, a realização do desejo de morrer ou dar fim à própria vida. O suicídio é um fenômeno complexo e causado por vários fatores que pode afetar indivíduos de diferentes origens, faixas etárias, condições socioeconômicas, orientações sexuais e identidades de gênero. Mas o suicídio pode ser prevenido,  isso, é necessário reconhecer os sinais de alerta, como  primeiro passo. 

 

No Brasil a média é de 6 a 7 mortes por 100 mil habitantes, bem abaixo da média mundial que é entre 13 e 14 mortes por 100 mil pessoas.

O que preocupa é que, enquanto a média mundial permanece estável, esse número tem crescido no Brasil e o maior aumento é registrado entre jovens de 15 a 25 anos. Os homens normalmente se matam mais, embora as mulheres tente mais vezes. Outro dado relevante é que homossexuais, bissexuais e transexuais têm índices maiores de suicídio, talvez essas tendências estejam  ligadas a causas culturais e preconceitos sociais. Há  cada 40 segundos uma pessoa se mata no mundo, totalizando quase um milhão de pessoas todos os anos,  estima-se que de 10 a 20 milhões de pessoas tentem  o suicídio a cada ano. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), 90% dos casos de suicídio podem ser prevenidos. Também é preciso ter atenção com as pessoas que convivem com o suicida, pois a cada suicídio,  de 6 a 10 pessoas são diretamente impactadas sofrendo sérias consequências,  difíceis de serem reparadas.  Sendo assim, é preciso entender as diferenças que envolvem esse fenômeno. Violência autoprovocada: Compreende ideação suicida, autoagressões, tentativa desuicídio e suicídio consumado; Ideação suicida: Quando o suicídio é visto como uma saída para uma situação d sofrimento.

 

O que pode e abrir as portas para um plano de suicídio. 

No caso de crianças e adolescentes, isso pode acontecer quando há uma depressão grave,  com baixa autoestima, humor deprimido, incapacidade de ver que sua situação pode melhorar, sentimento de que não há motivos para viver ou nenhuma chance de ser feliz. Autoagressão: Qualquer ato intencional de automutilação (com faca, aparelho de barbear, caco de vidro, etc) ou outras formas de causar dano a si mesmo (como queimar-se com cigarro), sem intenção de morte. Por vezes, crianças e adolescentes relatam que se auto agridem com o objetivo de controlar e/ou aliviar uma dor emocional. Tentativa de suicídio: Quando o indivíduo se auto agride com a intenção de tirar a própria vida  utilizando um meio que acredite ser letal, sem resultar em óbito. Suicídio: Ato deliberado de tirar a própria vida, com desfecho fatal. Fatores que podem aumentar o risco de autoagressão ou tentativa de suicídio em crianças e adolescentes: História de tentativas de suicídio ou autoagressão (por ex., automutilação); Histórico de transtorno mental; Bullying; Situação atual ou anterior de violência intra ou extrafamiliar; História de abuso sexual; Suicídio(s) na família; Baixa autoestima; Uso de álcool e outras drogas; Populações que estão mais vulneráveis a pressões sociais e discriminação, tais como: LGBTI+, indígenas, negros(as), situação de rua, etc. 

 

Sinais de alerta para o comportamento suicida

Preocupação com sua própria morte ou falta de esperança; Expressão de ideias ou de intenções suicidas; Diminuição ou ausência de autocuidado; Mudanças na alimentação e/ou hábitos de sono; Uso abusivo de drogas/álcool; Alterações nos níveis de atividade ou de humor; Crescente isolamento de amigos/família; Diminuição do rendimento escolar; Autoagressão: — Mudanças no vestuário para cobrir partes do corpo, por exemplo, vestindo blusas de manga comprida; — Relutância em participar de atividades físicas,  anteriormente apreciadas, particularmente aquelas que envolvem o uso de shorts ou roupas de banho, por exemplo.  O ser humano é o único ser vivo capaz de dar fim à própria vida, também é o único que possui linguagem, talvez aí esteja uma pista. Dentro da psicanálise existem muitas explicações, já que o sujeito é singular, não pode haver apenas uma resposta. Diante da impossibilidade de atender as demandas de uma sociedade que tem como ideal a felicidade, a morte pode parecer, no íntimo de cada sujeito,  como uma alternativa. Porém, existe um paradoxo,  segundo o psicanalista Sigmund Freud,   “é impossível imaginar nossa própria morte e sempre que tentamos fazê-lo, podemos perceber que ainda estamos presentes como espectadores”. Por isso, a escola psicanalítica pôde aventurar-se a afirmar que no fundo ninguém crê na própria morte, ou, dizendo a mesma coisa de outra maneira, que no inconsciente cada um de nós está convencido de sua própria imortalidade” (Freud, 1915). Portanto, se no inconsciente não existe uma representação da própria morte, como podemos pensar o suicídio por um prisma psicanalítico? 

 

O que leva um indivíduo escolher a própria morte? Será ela uma escolha?

Conforme Cassorla, “o suicida não quer morrer – na verdade,  ele não sabe o que é a morte. Aliás, ninguém sabe. O que ele deseja é fugir do sofrimento” (Cassorla, 1991). Assim, podemos entender, segundo Cassorla,  que na verdade o suicida não busca a morte com seu ato,   almeja  uma fuga desse sofrimento insuportável,  que o impede de viver; o suicídio aparece como única saída. Assim sendo, não existe uma única justificativa para esse ato, pois ele é singular,  tem a ver com a história de cada sujeito e sua constituição subjetiva. A ocorrência ou não do suicídio vai depender das condições simbólicas do sujeito, ou seja, da sua capacidade de lidar com o que lhe causa mal-estar; se ele irá responder pela via do real com a morte ou buscar elaborar por meio da palavra.  Numa perspectiva lacaniana, o suicídio pode ser pensado enquanto um ato,  que vem no lugar de dizer. “Não basta um fazer para que haja ato, não basta que haja movimento, ação; é preciso que haja também um dizer que marque e que fixe esse ato”. (Farah, 2000). Segundo o psicanalista francês Jacques Lacan,  no seminário 10 existem três características principais presentes no ato. A primeira se refere a linguagem daquilo que é impossível  ser dito e  acaba por ser executado. Já a segunda característica,  se refere à mudança, pois depois que o ato acontece não há como voltar atrás, depois disso o sujeito não será o mesmo. A terceira,  diz respeito ao ato ser acéfalo, levando em conta que nele o sujeito não se reconhece, o sujeito do inconsciente não se faz presente no ato. Com o auxílio de um profissional especializado, o sujeito através da fala será capaz de compreender melhor a importância dos fatores envolvidos em seu sofrimento.

O sofrimento pode se tornar suportável se o indivíduo puder contar com a ajuda de outro ser humano, um profissional especializado em sofrimento,  que utilizará seu conhecimento para compreender esse mal-estar e ajudar a transformá-lo, ressignificá-lo. Muitas pessoas que pensam em suicídio estão descrentes e não conseguem ver nenhuma saída, porém essas saídas existem e podem ser encontradasm,  desde que se deixe ser ajudadas. É preciso deixar de ter medo de falar sobre o assunto, derrubar tabus e compartilhar informações ligadas ao tema. As ideias suicidas e tentativas de morte são formas de pedir ajuda. Especialistas em saúde mental podem identificar sintomas de transtornos mentais na maioria das pessoas que optaram pelo suicídio.

 

 

 

Quem é Daniel Lima Gonçalves: Psicanalista, Filósofo e Teólogo.
Membro do Grupo Brasileiro de Pesquisas Sándor Ferenczi – GBPSF; Membro da International Sándor Ferenczi Network – ISFN; Membro Emérito – Sociedade Pernambucana de Estudos Psicanalíticos – SPEP; Estudo Permanente em Psicanálise no Instituto Nebulosa Marginal – INM; Especialista em Psicanálise e Teoria Analítica – FATIN; Especialista em Filosofia e Autoconhecimento – PUCRS; Extensão em Certificação Profissional em Neurociências – PUCRS; Pós-graduando em Ciências Humanas – PUCRS; Cursando Formação na clínica psicanalítica com adultos – CPPLRecife.
@daniellima.pe    daniellimagoncalves.pe@gmail.com