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Pernambuco, 29 de março de 2024

Agronegócios

Castelos, muros de pedra, cangaço, cachaça e café e olhe lá. Tem mais. Por Geraldo Eugênio

O agronegócio do Sertão deve estar conectado às manifestações artísticas, culturais e suas belezas naturais.

Postado em 14/10/2021 2021 18:33 , Agronegócios. Atualizado em 14/10/2021 18:47

Geraldo Eugênio Foto: Divulgação

 

Na semana passada foi discutida a importância de se continuar fabricando uma boa rapadura e o fato de que ela continua presente no paladar e na culinária do sertanejo e dos visitantes.

A região do médio Pajeú tem alguns outros ingredientes a serem somados e os municípios devem trabalhar de forma cooperativa caso queiram ser bem-sucedidos na tarefa de atrair pessoas. Há um cordão de cidades, a começar por Princesa, na Paraíba, passando por Triunfo, Santa Cruz da Baixa Verde, Serra Talhada e São José do Belmonte que constitui um complexo turístico invejável.

 

Potencial turistico.

Dificilmente, à exceção de Triunfo com seu clima agradável; seu casario bem preservado; sua hotelaria; seria objeto de fazer com que uma família de outros estados, como Fortaleza, Salvador ou Recife se desloque para exclusivamente passar um final de semana à exceção das visitas à parentes e amigos. Entretanto se considerar  o conjunto, este rosário de cidades pode se tornar em um ambiente turístico atrativo não apenas para o final de semana no Sesc Triunfo, mas passando toda semana e conhecendo o que existe de melhor em cada uma das localidades.

 

Dos castelos, do cangaço e dos muros de pedra

Que se inicie o tour por São José do Belmonte, imortalizada na obra de um dos mais populares escritores brasileiros, Ariano Suassuna. O Parque da Pedra do Reino e o castelo renascentista/armorial são duas grandes obras do ponto de vista cenográfico e literário, mas continuam sendo tesouros muito pouco explorado como destino turístico. Mas, espera-se que ao se associar com uma visita ao local onde nasceu Lampião, ao teatro, à música, aos restaurantes, aos hotéis e ao comércio de Serra Talhada tudo muda e a pessoa começa a fazer os cálculos e procura estender sua visita por alguns dias a mais. Agora imagine se além disso o visitante queira passar por Santa Cruz e visitar um engenho verdadeiro de rapadura, os muros de pedra que se estendem de Santa Cruz à Triunfo formando uma paisagem belíssima. É como se estivesse visitando a Espanha ou Portugal, podendo ainda colocar em sua agenda uma passagem na Casa das Almas, em Triunfo, um castelo inacabado de um visionário que admirava a nobreza e um certo sentimento bizantino. Adicione-se à isto uma ao descer da serra em direção ao estado da Paraíba, a agradável, aconchegante e linda Princesa. Outro momento que causa admiração e deslumbre, fantasias.

 

E a culinária?

Bem. Além do feijão guandu, da fava, do arroz vermelho, da rapadura, ainda sobrou algo? Talvez aí se inicie o cenário mágico das bebidas, começando pelos licores de jatobá e suas propriedades mágicas, de tamarindo, de jenipapo, de jaboticaba e tantas outras frutas não convencionais.

Licor de tamarindo,

Passando por uma boa cachaça, recém-fabricada ou curada em barris de carvalho, concluindo com um café arábica colhido em pequenas propriedades nas Serras de Triunfo. As papilas gustativas começam a vibrar e salivar só em pensar em tanto alimento gostoso em um só local. Esta conexão cultural, turística e econômica, além do clima agradável e da vista belíssima na descida pelo teleférico do Sesc, fará com que este território ganhe identidade própria e passe a ser um destino turístico com identidade própria, distinta e que se insira no calendário turístico regional. Tem muito o que ainda se pode conhecer neste Nordeste.

 

Ainda não viu onde entra o agronegócio?

O laço campo-cidade será fortalecido. O número de galinha de capoeira necessário a atender a demanda será crescente; as vagas na hotelaria crescerão e com e no encalço o consumo por frutas, hortaliças, carne de bode, coalhada e queijos. Os restaurantes serão mais frequentados nos municípios citados e o transporte mais demandado. Esta movimentação levará ao incremento da renda direta da família que mora no campo e não passaria somente a cuidar da plantação e da criação, mas terá coragem suficiente para abrir uma pequena loja, lanchonete, um café, centro de artesanato de couro, barro ou madeira. O certo é que dia após dia haverá um crescimento das atividades conexas ao mundo rural e se construirá um consórcio em que todos os municípios e sua gente sairão ganhando. Espera-se que este sonho ocorra e assim serão centenas de ônibus turísticos a se deslocar de Recife, Fortaleza, Juazeiro do Norte, Petrolina e Salvador à procura da magia do Sertão cumprindo-se a tão esperada profecia: o sertão vai virar mar.

 


Quem é Geraldo Eugênio: Engenheiro Agrônomo, com mestrado na Índia e doutorado e pós-doutorado nos na Texas A&M University, Estados Unidos, é ex-pesquisador do IPA e Professor Titular em Agricultura e Biodiversidade na UFRPE – UAST, Serra Talhada, PE. Foi Secretário de agricultura de Pernambuco, Presidente do IPA, do ITEP e Diretor Executivo da Embrapa. Nos últimos anos tem acompanhado de forma direta políticas, tecnologias e iniciativas inovadoras aplicadas à gestão de secas, no Brasil e no exterior. Considera essencial entender melhor o Sertão, visualizando-o como um grande ambiente de negócios e sucesso.