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Pernambuco, 12 de março de 2025

Agronegócios

Recursos Genéticos Vegetais do Semiárido por Geraldo Eugênio

A Caatinga tão falada e comentada é considerada como um dos seis biomas mais importantes do país junto com a Amazônia, o Cerrado, a Mata Atlântica, o Pampa e o Pantanal. É aquele menos conhecido por parte dos brasileiros, por incrível que possa parecer.

Postado em 29/10/2021 2021 14:42 , Agronegócios, Colunistas. Atualizado em 29/10/2021 14:45

Geraldo Eugênio Foto: Divulgação

As plantas do Sertão
A Caatinga é a mata rala ou mata branca. Ela é responsável pela cobertura de 75% da área de todo o semiárido nordestino, uma extensão que se aproxima de um milhão de quilômetros quadrados.
Esta Caatinga tão falada e comentada é considerada como um dos seis biomas mais importantes do país junto com a Amazônia, o Cerrado, a Mata Atlântica, o Pampa e o Pantanal. É aquele menos conhecido por parte dos brasileiros, por incrível que possa parecer. No exterior também, uma vez que uma área geograficamente menor, como é o caso do Pantanal, por tratar-se de um ecossistema também conhecido como Terras Baixas, áreas de importância não somente em regiões litorâneas, mas em outros continentes é um tema dos mais estudados e pesquisados em todo o mundo.
No nosso caso deve-se muito à saga de Antônio Conselheiro e ao relato de Euclydes da Cunha, em os Sertões, um dos primeiros grandes alertas sobre a riqueza que representa a vida nesta região.
Qual a situação atual da Caatinga?
Nossos biomas têm sido modificados de formas justificáveis ou não. Apesar da legislação florestal que o Brasil duramente conseguiu construir a todo o momento se depara com transgressões, desmatamentos não consentidos, erosões gênica e dos solos e mudanças climáticas que não dependem somente de queimadas, mas que são uma realidade e encontram-se em curso.
Cinquenta e cinco porcento da cobertura original ainda são totais ou parcialmente conservados. O que é um grande feito. A valorização do que representa este tesouro biológico ainda não foi devidamente mensurado e, quase sempre subavaliado. É neste sentido que preservar o que se tem e fazer o melhor uso da flora, da fauna, dos microrganismos e das paisagens dos sertões é crucial para o povo nordestino.
Sobre o que se faz para preservar esses recursos
Ainda bem que existem um número significativo de agricultores, quase sempre pequenos, suas organizações e algumas organizações não governamentais (ONG´s) que têm se dedicado com afinco em preservar as sementes conhecidas como crioulas. Assim ainda se pode encontrar sob cultivo os tipos mais diversos tipos de feijões, macaxeiras, abóboras, milhos, pimentas, fármacos, cosméticos, culinários e paisagísticos.
Agregando-se a este exército de defensores do reino entram as universidades, institutos de pesquisa, colégios que ao longo de décadas investiram na preservação dos bancos de germoplasma das plantas e animais da região, seja conservando-as onde estão, in situ, em estações campos experimentais ou fazendas particulares, ex situ. Além de um trabalho mais sofisticado de conservação que são as câmaras de sementes, de pólen, de material vegetativo e de DNA, esta molécula maravilhosa que também é sinônimo de vida.
Conta-se ainda com um conjunto de herbários, que são de fato, bibliotecas de plantas. Só que ao invés de livros e revistas, são catalogadas as folhas, flores, caules e até raízes das plantas em pranchas, tecnicamente conhecidas como exsicatas que guardam o registram de plantas que ocorreram há décadas ou séculos e que em vários casos já se consideram extintas.
Em Pernambuco, por exemplo o herbário que melhor representa a Caatinga é o do IPA, localizado em sua sede, em Recife, com mais de cem mil exemplares e coletas realizadas por monges beneditinos que viviam em Pernambuco há mais de cem anos.
A Rede de Recursos Genéticos Vegetais do Nordeste – RGVNE
Um grupo de pesquisadores, professores e alunos há ao menos duas décadas tem trabalhado incessantemente na coleta, catalogação, preservação e uso dos recursos genéticos vegetais constituindo uma ´rede`. Esta rede, dentre várias atividades, promove seminários a cada dois anos, visando congregar os profissionais e interessados por este tema estratégico para a região e para seu agronegócio.
O quinto seminário da RGVNE ocorrerá, online, entre os dias 10 e 12 de novembro de 2021, contando com a gestão de seus dirigentes que trabalham em dezenas de instituições na região e os colegas professores da UFERSA – Universidade Federal Rural do Semiárido, de Mossoró, Rio Grande do Norte.
Esta conversa da semana foi dedicada à Rede e ao seu simpósio uma vez que para quem vive no Sertão e tem no campo sua atividade econômica, é algo da mais alta importância. É este tipo de trabalho que preservará o que a região tem de melhor e assegurará o uso adequado do ponto de vista ecológico, social e econômico da mata branca, a Caatinga. Que todos interessados na região fiquem atento ao evento, participem, apoiem e se engajem na defesa do nosso meio ambiente. Sem as plantas não haverá vida. Nem o homem ou a barata sobreviverão.

Serra Talhada, 26 de outubro de 2021