UMA REFLEXÃO PERTINENTE. Por Daniel Lima
Nos últimos dias nos deparamos com tristes noticias a partida do querido amigo e editor do Jornal do Sertão, Antônio José, um homem que amava viver e tinha uma paixão pelo Sertão Pernambucano
Postado em 10/11/2021 2021 18:00 , Saúde. Atualizado em 11/11/2021 11:24
Nos últimos dias nos deparamos com tristes noticias a partida do querido amigo e editor do Jornal do Sertão, Antônio José, um homem que amava viver e tinha uma paixão pelo Sertão Pernambucano. A nossa nação tem vivenciado momentos de dores, perdas e uma tristeza solidária nesta pandemia, mas também diante de calamidades e tragédias que tem nos deixado perplexos na imprevisibilidade de existir. O acidente da aeronave com a cantora Marília Mendonça, seu produtor, Henrique Ribeiro, seu tio e assessor Abicieli Dias Filho, o piloto, Geraldo Medeiros Junior, e o copiloto, Tarcísio Viana, trazem uma tristeza nacional deixando uma sensação de um luto generalizado. O acidente do último domingo em Venturosa-PE que vitimou a enfermeira Francilene e o motorista da ambulância Aldama, foram socorrer e acabaram tendo suas vidas interrompidas enquanto prestavam socorro. O jovem Kawã Odilon, 17 anos de Buíque-PE, desaparecido a oito dias, familiares e amigos na esperança de aparecer com vida e tudo ficar bem, infelizmente não foi possível. Todos esses acontecimentos nos lembrando da brevidade da vida tem deixado muitos num estado imerso em uma profunda comoção que se manifesta socialmente de diversas maneiras, que apesar de pluralizada em sua essência traz a singularidade de cada indivíduo. Muitos parecem sentir uma intensa angústia fóbica por se depararem constantemente com a incerteza do logo mais. Outros mergulham numa melancólica e desesperadora reflexão ao olharem para histórias interrompidas, sonhos que não foram vivenciados, momentos que não foram vividos e, em se deparando com isso, acabam tendo que lidar com um recorrente pensamento: “devia ter”. O tom de lamento pelo não vivido, ou pelo que se poderia ter vivido; devia ter feito, ou não devia ter feito.
É, a nossa vida é temporal! Um dos filósofos mais importantes do século XX, o alemão Martin Heidegger dizia que todo ser é “um ser rumo à morte”, mas apenas os humanos reconhecem isso. A morte apesar de ser uma certeza é algo desconhecido, misterioso e que envolve muitos discursos com as mais diversas explicações especulativas que visam amenizar um pouco a angústia que amedronta muitos: o morrer. Os últimos acontecimentos parecem de alguma maneira ter gerado algum tipo de reflexão em torno do viver. Viver este que nas redes sociais é maquiado com falsas expressões de felicidade e que na correria do dia a dia parece ser esquecido, entorpecido pelo recorrente desejo de ter algo, ter sempre mais bens materiais. O morrer nos põe entre estes dois verbos: ter e ser. Não demora muito para se chegar a uma constatação de que o ter é algo efêmero e o ser é algo essencial, duradouro, de modo que a felicidade, o bem-estar não é colecionar, ou acumular bens materiais, títulos, ou qualquer coisa semelhante – isso não quer dizer que não podemos nos esforçar para obtê-los. Todavia, a felicidade, o bem-estar, parece estar nos momentos bem mais que materiais, estão nas experiências, nos instantes em que não estamos vendo a vida passar, mas percorrendo na existência se reinventando apesar dos sofrimentos e construindo uma qualidade de vida. Rubem Alves certa vez disse que “qualidade de vida é uma expressão polissêmica. Escutar música, ter tempo e ter condições de ler. Qualidade de vida são tantas variáveis e muitas vezes mais simples do que podemos pensar.” Se ficarmos de Vi-Ver, vi e/ou vou ver, adiamos momentos únicos que nos trariam a sútil, mas imponente qualidade de vida. Viver bem talvez seja o melhor antídoto contra a ideia da morte. A questão é que às vezes levamos muito tempo para descobrirmos isso.
Portanto, diante das notícias desagradáveis que nos faz solidários com o sofrimento daquele que vivência a dor, tenhamos uma postura de silêncio e reverência. Entretanto, apesar dos abalos subjetivos que possam vir: o medo de morrer, a sensação de impotência por não poder controlar o futuro que ainda nos é desconhecido e, uma incessante busca por felicidade que parece nos catapultar para cada vez mais longe do que almejamos – “Se só quiséssemos ser felizes, seria fácil. Mas queremos ser mais felizes que os outros, isso é quase sempre difícil, porque acreditamos serem os outros mais felizes do que são”, Montesquieu. Talvez precisemos desacelerar um pouco a nossa rotina para desfrutarmos com leveza os instantes do cotidiano com sabedoria e responsabilidade, pois o que de fato e de verdade está ao nosso alcance é o hoje. Como diz uma canção do grande compositor da música popular brasileira, Chico Buarque de Holanda: “apesar de você amanhã há de ser outro dia”. Vivermos o agora sem a angustiante e paralisante ansiedade de querer antecipar tudo para hoje é um desafio. Desenvolver um autoconhecimento que nos coloque no chão da vida de modo consciente de que apesar de nós amanhã será outro dia, é algo necessário. E como tal nos permitimos o exercício de viver um dia de cada vez, o que é libertador. Já dizia Mahatma Gandhi: “o futuro dependerá daquilo que fazemos no presente”. Então, o quê, como e por que estamos fazendo ou não isto ou aquilo no presente? Como estamos vivendo? Estamos construindo nosso futuro no presente, “a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas” – Fernando Pessoa.