
Jovens do Sertão, que sejamos empreendedores. Por Geraldo Eugênio
Não é de agora que o emprego formal está sob ameaça. Há muito tempo, em quase todo o mundo, tem se notado que o setor público e a iniciativa privada tradicional seriam incapazes de sustentar o ritmo de postos de trabalho bem remunerados que alguns países possuíam.
Postado em 18/11/2021 2021 18:00 , Agronegócios. Atualizado em 21/11/2021 09:53
Geraldo Eugênio Foto: Divulgação
Onde anda o emprego?
Não é de agora que o emprego formal está sob ameaça. Há muito tempo, em quase todo o mundo, tem se notado que o setor público e a iniciativa privada tradicional seriam incapazes de sustentar o ritmo de postos de trabalho bem remunerados que alguns países possuíam. Os Estados Unidos são um bom exemplo. Valer esclarecer que este nunca foi o caso brasileiro. Mesmo quando a economia esteve aquecida a renda do trabalho permaneceu baixa e, somente há duas décadas o salário-mínimo brasileiro superou o equivalente a cem dólares, o que é algo inimaginável para a maioria dos países, mesmo os mais pobres.
Entre 2005 e 2012 o Brasil viveu um ciclo de crescimento econômico com uma economia aquecida por várias razões: 1. Alta no mercado das ‘commodities` agrícolas; 2. Valor do dólar relativamente baixo; 3. Investimento público elevado em infraestrutura, moradia e educação. A seguir o país entra em recessão e desde há alguns anos que se fala da ´retomada do crescimento`, o que não tem se observado para a grande maioria dos negócios. Poucos prosperaram desde 2014 e, nos últimos dois anos, com a ocorrência da pandemia no país, a perda de postos de trabalho é alta e a renda das famílias foi reduzida de modo drástico.
O emprego público, em qualquer esfera, não teve a capacidade de gerar o a quantidade de postos necessários. O setor privado também não conseguiu responder a contento. Com isto, a demanda por engenheiros no Brasil, por exemplo, que era de 50.000 profissionais por ano em 2005, foi reduzida à metade. O que fazer dos egressos de curso médio e superior, neste contexto?
E a economia que continua desaquecida?
Emprego e renda estão diretamente correlacionados ao aquecimento da economia. Sem ela gerar dividendos, lucros e oportunidades não há aposentadoria, ou contratações. Os concursos desaparecem e quando se abre uma vaga há uma competição quase que insana. Em alguns casos há concursos para professor de universidades onde uma vaga é disputada por mais de cem candidatos. As escolas e universidades continuam a produzir profissionais mesmo que em ritmo bem mais lento, entretanto em números muito superiores ao que o mercado demanda. Vindo assim a questão: o que fazer dessa juventude que sai de um curso de 4 a 6 anos, não tendo oportunidade tenta seguir a carreira de bolsista através de um mestrado, um doutorado e um pós-doutorado até que surja um emprego definitivo. Aos jovens não foi dito que talvez não houvesse o concurso público. Também não lhes foi dito que existem muitas oportunidades desde que reorientem suas carreiras e passem a ver o mundo como um mar de oportunidades e negócios, desde com projetos bem formulados e com foco no tal mercado.
Água é importante, mas o conhecimento é mais
Outra grande contradição da sociedade moderna é não ver que as escolas são o celeiro da inteligência de um país ou região e ali está o bem mais valioso de uma sociedade, a inteligência. Estimular os alunos a pensarem diferentes e incutir a política do empreendedorismo é imperativo para qualquer instituição de ensino que esteja conectada ao mundo real. É neste sentido que, no caso do Agreste e Sertão, com o crescimento significativo, até vertiginoso, de vagas nos cursos técnicos, aqui tratando de modo específico as ciências agrárias, resta-nos o micro empreendimento ou a empresa de base tecnológica.
Vamos mostrar do que somos capazes
Os governos deram conta desta tendência e tentam redesenhar sua linguagem vendendo iniciativas de empreendedorismo e inovação. Independentemente de sua cor ou odor não se pode deixar de reconhecer o que existe de positivo, tentar entender, aprender a participar e incentivar os jovens, sejam estudantes, empresários, pesquisadores, professores e interessados a procurarem o sonho de liberdade que é o negócio próprio.
Pernambuco, devido a questões geográficas e climáticas, jamais será tratado do ponto de vista agrícola como um Cerrado, entretanto pela riqueza do capital humano aqui existente pode se tornar um grande celeiro de pequenas empresas e ‘startups` de base tecnológica para outras regiões e países. No caso específico, a referência é a um programa lançado pelo governo federal em associação com os governos estaduais, inspirado no estado de Santa Catarina, o Centelha.
Este programa é o estopim para que uma ideia se torne um processo, uma tecnologia, um produto, uma inovação e um mercado. Na semana passada, o Sertão recebeu a Caravana da Inovação, uma ação promovida pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação – SECTI, do governo do estado. Anunciou a 2ª fase do programa Centelha, aqui coordenados pelos esforços da FACEPE e do Sebrae/PE, o que foi efetivado no outro dia. Agora resta o desafio de demonstrar-se que há um espaço para a criatividade e surgimento de novos empreendimentos associando a agropecuária, através das ciências agrárias, as engenharias, as ciências humanas e a tecnologia digital.
O número de propostas que surgirem a partir desse esforço será determinante para o futuro do empreendedorismo no sertão e do nosso novo agronegócio. Que todos trabalhem na mesma direção. Conectemos os jovens não apenas através de redes de fibra ótica, mas partir da demanda dos empresários e dos consumidores. Assim, serão formulados projetos mais criativos, com maiores chances apoio e sucesso. Esta é a nossa aposta. Que todos fiquem atentos.