
Bases para a agricultura periurbana no semiárido
Um comércio que sempre me interessou foi o vendedor ambulante de frutas, hortaliças e, em particular o vendedor de macaxeira pelas ruas de Recife.
Postado em 06/01/2022 2022 18:00 , Agronegócios. Atualizado em 06/01/2022 18:12
Geraldo Eugênio Foto: Divulgação
O comércio porta a porta
Um comércio que sempre me interessou foi o vendedor ambulante de frutas, hortaliças e, em particular o vendedor de macaxeira pelas ruas de Recife. Dificilmente há uma rua em qualquer bairro que não conte com ao menos um comerciante ambulante.
Não é uma prática nova e há séculos o que se vê em quase todas as partes do mundo é este tipo de comércio. Não apenas para os gêneros alimentares, mas uma atividade extensiva a roupas, móveis, pães, manguzá, picolés, sorvetes e, antigamente, os vendedores de livros e tecidos.
No interior a prática é um pouco diferente e a intensidade deste comércio móvel é menor. Foi substituído pelo número incontável de quitandas e lojas que começaram suas atividades com algumas frutas, evoluíram para hortaliças e túberas e ao longo do tempo vendem de tudo. Os conhecidos mercadinhos de bairro.
Nas cidades ou comunidade em que não se dispõe de uma central de abastecimento, tipo CEASA, as quitandas e lojas são abastecidas por intermediários que pegam os produtos em áreas de produção na periferia urbana. Há pouco, a equipe do IPA discutia a implementação de um projeto de agricultura urbana e periurbana na região metropolitana, uma iniciativa louvável e que deve ser objeto de uma ação mais intensiva por parte dos municípios do semiárido.
Recursos naturais disponíveis
A tipificação da produção nas pequenas e médias cidades do interior é distinta. Na maioria dos casos esta agricultura se concentra entre pequenos e médios produtores possuidores ou herdeiros de glebas e sítios localizados em um raio de até cinco quilômetros das cidades. Os imóveis que não foram tragados pela especulação imobiliária resistem como supridores de alimentos para o bem-estar da família e comércio do excedente.
Normalmente, diferente da região metropolitana há disponibilização de água de uma fonte confiável, seja um poço amazonas, um poço artesiano ou a captação superficial em algum rio, riacho ou açude.
Este tipo de agricultor nem sempre está no radar das instituições de pesquisa e extensão uma vez que não fazem parte do contingente beneficiado pelos programas de reforma agrária ou clientes de política públicas como o PRONAF. Trata de um grupo que merece ser observado com mais detalhe e apoiado no que se fizer necessário. Normalmente tem um histórico voltado à produção agroalimentar e em vários casos destaca-se como processadores de frutas, hortaliças e leite, configurando uma indústria de alimentos real com características próprias.
Suprimento de frutas e hortaliças
A educação alimentar deixa clara a necessidade do consumo de frutas e hortaliças diariamente. O que nem sempre é observado seja na região metropolitana ou no semiárido. Uma mudança radical tem ocorrido quanto ao consumo de alimentos e não é à toa que ano após ano o brasileiro deixa de ter no feijão e arroz seu prato favorito do almoço.
No caso do Nordeste, a utilização da farinha de milho como base para o cuscuz tem crescido, devendo-se reconhecer que o uso da tecnologia da farinha pré-cozida, o conhecido flocão, é parte importante nesta conquista.
Os produtos à base de milho são a cada dia mais diversos, de fáceis manipulação, com melhor aparência e mais gostosos. Fica aí um exemplo a ser seguido.
Algo similar deve ser feito com as frutas e hortaliças. Um grande avanço se deu quando da inclusão dos produtos da agricultura familiar na merenda escolar. Apesar de nem sempre as prefeituras cumprirem com o que estabelece a legislação alegando tudo que é de desculpas. Uma coisa é certa, a atração por frutas e hortaliças é algo que se inicia na primeira infância e a criança que aprendeu a apreciar esses alimentos serão seus consumidores para sempre.
Fica o dever de casa para os agentes de extensão e técnicos das secretarias municipais de agricultura bem como para os agentes sociais e de saúde. Educar os jovens no uso de uma alimentação equilibrada e saudável reduz significativamente a intervenção clínica e hospitalar além de apoiar diretamente o agronegócio familiar. Quão mais consumidos forem os produtos advindos dos quintais, hortas e sítios, maior o volume de recursos circulantes na comunidade e mais prósperos são seus habitantes.