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Pernambuco, 16 de janeiro de 2025

Agronegócios

Agricultura, vai o grão e vem o fertilizante. Nem sempre! Por Geraldo Eugênio

O Brasil conta com a vantagem de ao longo das últimas cinco décadas haver se transformado em um dos mais importantes atores no cenário internacional de alimentos

Postado em 03/03/2022 2022 18:48 , Agronegócios. Atualizado em 03/03/2022 19:27

Colunista

Geraldo Eugênio Engenheiro Agrônomo

 

Mercado internacional

O comércio sempre ditou, em boa parte, a relação entre comunidades e povos. No caso específico de produtos agrícolas não há país que se sinta o suficiente protegido para não comprar nenhum produto de alguém. Alguns são extremamente dependentes. Entre esses existem os que contam com outras habilidades e são capazes de estar no mercado de eletrônicos, por exemplo, e necessitam adquirir alimentos. Por outro lado, outros não conseguem contar com riquezas e nem produzir o que sua população necessita. É aí onde mora o problema.

O Brasil conta com a vantagem de ao longo das últimas cinco décadas haver se transformado em um dos mais importantes atores no cenário internacional de alimentos. Sua agricultura e pecuária evoluíram e tornou-se motivo de admiração e respeito.  No entanto, lamentavelmente, não se consegue produzir no país todos os insumos, máquinas e equipamentos que seu agronegócio demanda. É neste sentido que, obrigatoriamente, ele necessita de terreiros para melhor cumprir com seu papel.

Produzimos alimentos, mas necessitamos adquirir fertilizantes, defensivos, máquinas e serviços

Uma das conquistas mais expressivas da agricultura moderna se deu pela domesticação de microrganismos, em particular bactérias que habitam o solo na transformação do Nitrogênio atmosférico em uma forma mineralizada utilizável pelas plantas através da Fixação biológica de Nitrogênio (FBN). Estas maravilhosas bactérias dos gêneros Rhyzobhium e Bradyrhizobium, em especial, conseguem atender a demanda de milhões de toneladas de Nitrogênio que a soja e algumas outras espécies consomem todos os anos. Infelizmente, ainda não foi encontrado algo similar com relação a um outro elemento essencial, o Potássio.

Insumos agrícolas como fertilizantes fosfatados e potássicos têm causado uma série de preocupações para os que fazem o agronegócio no Brasil. Até pouco tempo atrás com um cenário de calma o suprimento desses produtos estava assegurado por alguns países, entre eles a Rússia.

De uma hora para outra o mundo vira de ponta cabeça e já não temos a certeza de, mesmo pagando mais, se se contará com os adubos no devido tempo e no valor adequado para as próximas safras. Lembrando que o país adquire 85% dos fertilizantes minerais que consome, sendo a Rússia o principal país fornecedor com um valor de transação de aproximadamente 2,5 bilhões de dólares ao ano.

 Os conflitos nem sempre são evitáveis

Na última semana, um conflito que vinha em banho maria desde 2013, ao menos, foge do controle e neste instante russos e ucranianos, contando com uma ´peruada´ geral, deflagraram uma guerra insana, como todas as guerras. Aparentemente não temos nada a ver com a contenda, mas uma coisa é certa seremos influenciados pelos acontecimentos no Leste da Europa pelos menos por mais alguns anos.

Hoje o conflito se estabeleceu há milhares de quilômetros, amanhã, as escaramuças podem se dar bem mais próximas com implicações diretas no cotidiano das pessoas. Ver milhares de famílias todos os dias vagando à procura de uma saída do ambiente de crise é triste. O preço a ser pago é extremamente elevado para que se possa contemplar um cenário de guerra sofrido e dantesco.

Onde o Sertão entra no jogo

Retornemos ao que foi discutido na coluna em alguns momentos. O que Pernambuco tem a oferecer ao agronegócio nacional? Um dos mais importantes insumos à produção agrícola. Não apenas de grãos, é o gesso agrícola. Esse condicionador, juntamente com o calcário corrigem os solos e permitem que as raízes se aprofundem. O gesso transporta os íons de Alumínio da superfície para uma profundidade que alcança dois ou mais metros e assim deixa o ´terreno livre` para que as raízes consigam capturar alimentos e água a profundidades bem maiores.

Neste momento se nota quão importante é a região da Chapada do Araripe para a agricultura que é realizada no Cerrado, do Piauí ao Mato Grosso do Sul. Se inicia uma época de vacas magras, na qual a eficiência por cada sementes, grão de adubo, gota d`água será objeto de acompanhamento. O desperdício não terá espaço e seguindo a clássica teoria Darwiniana, sobreviverão os mais hábeis e com maior capacidade adaptativa.

Tendo posto o que deverá ocorrer, haverá uma corrida pelo mais adequado uso do gesso e do calcário. Mais empresas de fertilizantes verão o Sertão do Araripe como uma parada importante e haverá um redesenho que não se pode prever em que dimensão na disputa entre o valor a se pagar pela gipsita para uso agrícola ou para construção civil. O estado e a região ganharão. Resta aos governantes se esforçarem para rever a questão de logística considerando a importância estratégica da ferrovia Transnordestina até Eliseu Martins, no Piauí, a porta de entrada para o Cerrado brasileiro.