A pandemia acelerou a transformação digital em quase todas as atividades profissionais e pessoais, quais sejam nos diversos setores de serviços, da economia e negócios, na educação, e também na saúde, por meio da Telemedicina.

Essas mudanças foram vivenciadas com intensidade no Sertão nordestino, região carente de uma maior capilaridade no atendimento médico básico à população. Foi por meio da Telemedicina, e o trabalho voluntário de médicos pelo Brasil da ONG Amigos do Bem, que milhares de pessoas puderam ser atendidas, nos mais distantes povoados.

Atendimento básico e tecnologia

A iniciativa da ONG Amigos do Bem tomou forma, segundo sua presidente, Alcione Albanesi, em entrevista exclusiva ao JS, durante a pandemia. “Com a crise sanitária ficou claro que precisávamos investir em tecnologia, tanto para promover a saúde quanto a educação diante do que estávamos vivendo”. 

Médica voluntária faz atendimento via computador em tempo real /divulgação

Com o projeto de telemedicina, o atendimento, segundo a presidente, foi possível desde crianças até idosos têm acesso a médicos especialistas em diversas áreas da saúde. “Antes, só era possível para eles serem atendidos por médicos com perfil de clínico geral. Estamos falando de pessoas que vivem em povoados muito distantes, que não têm condições de se deslocar até um consultório médico. Agora, ganharam mais qualidade de vida e dignidade com acesso à saúde”, acrescenta.

Um sistema diferenciado 

O sistema de telemedicina dos Amigos do Bem é diferente do tradicional. Em um atendimento regular de telemedicina, a pessoa fala com o médico por videochamada ou telefone diretamente do seu celular. A Amigos do Bem criou sua própria infraestrutura de internet nos  quatro Centros de Saúde, em Inajá e Buíque (PE), Mauriti (CE) e São José da Tapera (AL). 

Os atendimentos são agendados com antecedência, de acordo com o horário disponível pelos médicos. As pessoas que serão atendidas de acordo com a programação recebem transporte gratuito de seus povoados para os Centros de Saúde – tudo oferecido gratuitamente pelos Amigos do Bem.

“Nos Centros de Saúde, os pacientes se conectam com nossos médicos voluntários por meio de computadores conectados à internet em salas de atendimento disponibilizadas para esse fim”, explicou Alcione. 

Os voluntários do Bem

São 16 médicos voluntários que já atuam há anos oferecendo apoio e assistência de saúde às famílias do sertão. Todos conhecem a realidade local e já fizeram inúmeras visitas de atendimento à população. 

Com a telemedicina, conseguem prestar um atendimento remoto de qualidade, todas as semanas, acompanhando mais de perto os pacientes que atendem e que estão tratando. 

Desafios a enfrentar: conectividade e timidez

Segundo a presidente da ONG existem algumas dificuldades ainda a enfrentar como falhas na conectividade podem acontecer. No entanto, os problemas são rapidamente resolvidos pela  equipe de TI que está em contato com as equipes prestadoras de serviço de telefonia locais.

“Também adaptamos o Sistema dos Amigos do Bem (SAB) para registrar cada atendimento, gerar receitas e criar um prontuário online do paciente, disponível para a consulta médica. Com tantas melhorias de TI e informática, a principal dificuldade ainda é a timidez dos pacientes diante das telas: eles estão se acostumando à ideia de serem atendidos por um médico à distância”. 

Telemedicina: caminho sem volta

Alcione Albanesi, presidente da ONG Amigos do Bem

Na opinião de Alcione Albanesi, a telemedicina, além de encurtar distâncias e garantir um atendimento mais personalizado, possibilita ampliar o acesso da população a diversos especialistas. 

Antes, acrescenta, a maioria dos atendidos era apenas de clínica geral, já que poucos médicos conseguem viajar mensalmente e se ausentar durante quase uma semana para realizar os atendimentos de saúde. “Agora, todas as semanas, oferecemos para as 4 unidades de atendimento dos Amigos do Bem, especialistas de diversas áreas de saúde, garantindo um atendimento mais integral”. 

São 98 povoados atendidos em 11 municípios do sertão nordestino. São 40 mil pessoas que podem ter acesso ao serviço de telemedicina, nos estados de Alagoas, Ceará e Pernambuco. 

Resolução do CFM

A prática da Telemedicina existe desde a edição da Resolução nº 2.227/2018, do CFM (Conselho Federal de Medicina) que definiu alguns procedimentos referentes à prática da telemedicina no Brasil, mediante utilização de tecnologias para fins de consultas médicas online via computador, assistência, educação, prevenção de doenças e lesões e promoção da saúde, a prática alcançou ainda mais espaço com a pandemia, após permissão do Ministério da saúde.