Apesar das mudanças profundas e da retração econômica produzidas pela pandemia terem atingido todos os segmentos da sociedade, inclusive o cooperativismo, alguns setores prosperaram, descobriram novos nichos e transformaram sua forma de atendimento e atuação no mercado.

Sobre o tema, Tânia Bacelar, economista e ex-secretária de Políticas de Desenvolvimento Regional do Ministério da Integração Nacional, realizou uma análise detalhada considerando o universo de atuação das cooperativas pernambucanas. 

Segundo a economista, o novo cenário conta com a força do setor terciário e com destaque para o ramo da saúde. Nesse sentido, a produção de fármacos, de origem fitoterápica, também será um setor a crescer com as transformações impostas pelos novos tempos. “Na esfera produtiva, foram gerados novos paradigmas técnicos. A mudança é de grande profundidade. A passagem para a era digital foi acelerada em virtude da pandemia”, frisou Bacelar.

A especialista apontou o setor agropecuário como um dos menos impactados pela pandemia. O segmento continuou produzindo e distribuindo seus itens in natura ou beneficiados no mercado interno e externo, a exemplo do Vale do São Francisco, que é responsável por 95% da produção de uvas de mesa do país e é uma referência para as demais regiões no âmbito da fruticultura. 

Cooperativa de Triunfo é exemplo de resistência e inovação 

Cooperativa em Triunfo cresceu 60% em 2020/Foto: Divulgação

Outro exemplo de sucesso é o município de Triunfo, no Sertão do Pajeú, com a atuação da cooperativa Coopcafa, que produz itens derivados da cana-de-açúcar, como a rapadura agroecológica e o açúcar mascavo. Em 2020, a cooperativa apresentou um crescimento de mais de 60% em relação ao ano anterior, destacando o desempenho positivo no pior cenário econômico dos últimos anos. E, em 2021, o crescimento continuou, embora em percentual menor, com alta de 20% em relação ao ano anterior.

A fruticultura no Vale do São Francisco é um exemplo exitoso, segundo a economista Tânia Bacelar

Outro destaque da economista se refere ao meio ambiente. “Esse novo contexto traz uma mudança das relações humanas com a natureza. A economia do século XXI deverá ser de baixo carbono, começando pela energia. A primeira mudança deverá ser a substituição de combustíveis fósseis por energias limpas e renováveis”, frisou Tânia. 

Em Pernambuco, um grande exemplo são as cooperativas de infraestrutura, que, recentemente, passaram a oferecer serviços no âmbito da energia solar. A própria sede do Sindicato e Organização das Cooperativas Brasileiras no Estado de Pernambuco (OCB/PE) é um exemplo com toda a sua energia gerada a partir de painéis solares. Ainda no âmbito da energia renovável, a biomassa tem apresentado grande potencial. A geração de energia a partir do bagaço da cana-de-açúcar já é uma realidade no cooperativismo estadual, a partir do exemplo da Coaf, de Timbaúba.

A análise da economista mostra que Pernambuco está caminhando para sair da crise do novo mundo pós-pandêmico nos próximos anos, com aprendizados e novas soluções para produtos e serviços. Nesse contexto, os investimentos feitos pelas cooperativas, com o apoio do Sescoop/PE, no âmbito da governança e da gestão, deverão trazer retornos positivos para os desafios que estão por vir. Resultados nesse sentido já existem e são referência nacional, a exemplo do reconhecimento das cooperativas Sicredi Pernambucred e Unimed Vale do São Francisco no prêmio nacional Excelência em Gestão, realizado no ano passado. 

PDGC e as cooperativas pernambucanas

Turma reunida do Programa de Desenvolvimento da Gestão Cooperativista (PDGC)/Foto: divulgação

A análise de Tânia Bacelar foi apresentada na última sexta-feira (18) no lançamento do Ciclo 2022 do Programa de Desenvolvimento da Gestão Cooperativista (PDGC). O objetivo do evento foi apresentar as atualizações da ferramenta disponibilizada pelo programa, bem como os resultados referentes ao ano de 2021. 

Em 2021, vinte e quatro cooperativas pernambucanas preencheram as informações na plataforma do PDGC e cinco delas se inscreveram para o Prêmio Excelência de Gestão. As cooperativas Sicredi Pernambucred e Unimed Vale do São Francisco foram reconhecidas com os selos Prata e Ouro, respectivamente, na categoria Primeiros Passos no Prêmio Excelência em Gestão do ano passado.