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Pernambuco, 13 de fevereiro de 2025

Agronegócios

Chegou o momento de decisões serem tomadas à serviço da agricultura

A situação atual de penúria das estações experimentais é algo relevante a ser conhecido. Por descaso, intrigas internas ou modismo, o fato é que a presença no campo como fator de mudança é limitada, embora haja espaço para melhoria tão logo se proponha fazê-la

Postado em 09/03/2023 2023 20:30 , Agronegócios. Atualizado em 13/03/2023 11:26

Colunista

 

Você sabia que o primeiro presidente do IPA chegou a Diretor da FAO?

Duas personagens intrigantes, o ex-governador Carlos de Lima Cavalcanti e o Engenheiro Agrônomo Álvaro Barcellos Fagundes. O primeiro, puro representante da aristocracia, governo do estado de Pernambuco em um momento conturbado. Quando a nova república, liderada por Getúlio Vargas, dava seus primeiros passos e a imprevisibilidade dos mandatos era mais arriscada do que os dias atuais.  É neste cenário que o governador resolve, em 1935 pela criação de uma instituição de pesquisa agropecuária para Pernambuco, o IPA, então Instituto de Pesquisa Agronômica.

Inicialmente teve sua sede em um casarão da Av. 17 de Agosto, em Casa Forte, mais exatamente em um imóvel que abriga uma instituição de ensino. A iniciativa de Carlos de Lima quase que ia a pique dois anos depois, quando governo que o sucedeu quase que findou com a instituição, sendo ela albergada na Universidade Federal Rural de Pernambuco em um prédio que por muito tempo foi conhecido como a Defesa pelo fato de lá haver sido instalado após a saída do IPA para a Av. General San Martin, um Laboratório de Defesa Pecuária, do Ministério da Agricultura.

O interessante nisto tudo é que Carlos de Lima, não sei por quem inspirado, convidou para presidir a instituição um jovem pesquisador do Jardim Botânico do Rio de Janeiro que há pouco havia estudado em uma das mais prestigiadas universidades Americanas, a Universidade de Rutgers, no estado de New Jersey. Com o Dr. Álvaro Barcellos veio um grupo de ao menos dez pesquisadores estrangeiros que iniciaram os trabalhos. Na mudança de governo, todos foram dispensados e o instituto que seria o ambiente onde se visava o fortalecimento da agropecuária estadual foi jogado às traças. Amargou um período de sucumbência até quando o governador Cid Feijó Sampaio valorizou a instituição, renovou-a e passou a ter um caráter estadual com representação, através de suas instituições em todo o território Pernambuco. Destacando-se algumas estações do Agreste e Sertão como Caruaru, São Bento do Una, Arcoverde, Serra Talhada, Belém do São Francisco e Araripina, as duas últimas até não muito tempo atrás consideradas como os ‘Arquipélagos Gulags`, para onde seriam premiados aqueles que não jogavam conforme as regras, o exílio.

Da importância de o estado contar com uma instituição forte, atual e ativa

Depois de algum tempo localizado na esquina entre a Av. General San Martin e a Engenheiro Abdias de Carvalho, ocorreu uma permuta entre o governo estadual e a CHESF que resultou em uma cessão de parte da área do IPA sede à companhia energética em troca da construção da sede do IPA em seu formato atual. Esta foi uma das poucas vezes em que a instituição contou com algum ganho. Na maioria dos casos, suas estações têm sido fatiadas para todos os fins exceto a pesquisa agropecuária. Duas outras doações nobres e que por si só se justificam foram as cessões de parte da área da Estação Experimental de Serra Talhada, na fazenda Saco, para a instalação da UFRPE-UAST e a Faculdade de Medicina da UPE.

No momento a instituição não passa de uma tênue sombra do que ela e a Emater, responsável pela extensão rural, foram em seu apogeu entre as décadas de 70 e 90. Foi neste período que a maioria das tecnologias ainda hoje utilizadas pela população foi desenvolvida, a exemplo das cultivares de feijão de corda e feijão de arranca, cebola, tomate, sorgo e milheto. Vale salientar que os ganhos obtidos pelo desenvolvimento de cultivares de palma forrageira ocorreram quando a instituição dava sinais de cansaço entre a década de 90 e a primeira década do século XXI, programa que não se exagera em considerá-lo como um do mais importantes para o semiárido em todo o Brasil.

A situação atual de penúria das estações experimentais é algo relevante a ser conhecido. Por descaso, intrigas internas ou modismo, o fato é que a presença no campo como fator de mudança é limitada, embora haja espaço para melhoria tão logo se proponha fazê-la

Ninguém trabalha sozinho. As instituições também.

Como falava Thomas Merton, um filósofo católico do ano sessenta, homem nenhum é uma ilha. As instituições também. Não há espaço para a instituição única, onipresente e que possa trabalhar sozinha em apoio ao homem do campo. Um estado como Pernambuco, é importante que se saiba, conta com um número razoável de universidades públicas e privadas, empresas de tecnologia, institutos de pesquisa e inovação e cadeias produtivas que saltam aos olhos.

Um governo estadual não deve e não pode contar apenas com um IPA, mas necessita obrigatoriamente de um programa envolvendo os atores disponíveis. Em algum outro momento,  o candidato natural para gerir esta orquestra seria seu instituto de pesquisa e extensão, no exato momento algumas dúvidas persistem, mas o fato é que o estado para o bem de seus cidadãos necessita saber dizer o que pretende e congregar quem tem condições de ajudar na causa do fortalecimento da economia no interior e de modo claro, nas comunidades, vilas, distritos. É uma iniciativa que de antemão é sabido quem deve chamar para si a responsabilidade. Não será uma outra instituição por mais qualificada que possa ser a tomar as rédeas da gestão da pesquisa, extensão e inovação.

Dois meses já é tempo suficiente para a seca causar apreensão

O fato é que se chega ao terceiro mês do ciclo de gestão atual e, aparentemente, as ações no que ser refere ao ambiente rural, por difícil que se possa admitir, cessaram. O planeta, dando pouca atenção para nós, humanos, continua em sua órbita. Apesar das boas chuvas entre os meses de novembro e janeiro foram razoáveis mas não o suficiente para assegurarem a colheita. No caso de Pernambuco, o planejamento do que dever ser feito de imediato, é essencial.

É importante considerar que, predominantemente, um período muito curto de umidade que permite a planta de feijão ou milho cresçam de modo saudável. A quadra e chuvas não é tão auspiciosa e alguns alertas foram acionados. Não é possível enfrentar um período de seca com as mesmas ideias e a atual corrida à Brasília.

Voltando a Carlos de Lima Cavalcanti e Álvaro Barcellos, ou o governo do estado toma as providências para fazer com que as tecnologias atuais cheguem ao campo ou teremos que admitir que o Semiárido estará intrinsecamente ligado a carros pipas e programas emergenciais. Se prever o futuro é difícil, ao menos aprenda com aqueles que tiveram sonhos e ousadias a ponto de fundarem o primeiro instituto de pesquisa agropecuária há oitenta e sete anos. Além da importância de valorizar a educação de nível superior

O tempo não espera, mas as intempéries estão à porta, logo, que se cuide do patrimônio que resta e se aproveite o que ainda bom de bom, e se construa um programa de cooperação entre o estado e seus parceiros institucionais.

 

1Professor Titular da UFRPE-UAST