Voltando ao ponto crucial para Pernambuco, a logística
Já se foram 22 anos desde que o governo Jarbas Vasconcelos encarou o desafio de duplicar o número de faixas de duas para quatro entre Recife e São Caetano. Independente do que se possa pensar foi uma das mais importantes obras com impactos decisivos sobre a economia, a interiorização de ações e a autoestima do povo pernambucano.
Postado em 11/05/2023 2023 19:00 , Agronegócios. Atualizado em 11/05/2023 16:05
A esquecida BR 232
Há de se tratar da logística em Pernambuco de forma repetitiva até que se veja um deslocamento qualquer e a inércia ficar para trás. Dificilmente há de se compreender a visão de alguns formuladores de política que não conseguem ver a importância estratégica da BR 232 para o estado.
Já se foram 22 anos desde que o governo Jarbas Vasconcelos encarou o desafio de duplicar o número de faixas de duas para quatro entre Recife e São Caetano. Independente do que se possa pensar foi uma das mais importantes obras com impactos decisivos sobre a economia, a interiorização de ações e a autoestima do povo pernambucano. Esta rodovia é a artéria principal do estado, liga o corredor Leste-Oeste e beneficia a maioria dos municípios do estado. Pois bem, a situação deste corredor é sofrível. A parte que sofreu o processo de duplicação, cujo arranjo jurídico entre o estado de Pernambuco e a União ainda está a ser resolvido, merece reparos e manutenção. Desde sua instalação a obra de modernização que coube à BR 232 foi a adição de uma terceira faixa nos dois sentidos no trecho entre a Av. Abdias de Carvalho e a bifurcação que dá acesso ao TIP – Transporte integrado de passageiros, em um percurso de oito quilômetros, que se estende a ser concluída por 14 meses.
Durante a última campanha eleitoral, dois candidatos elegeram a duplicação da rodovia como prioritária em seus programas, não sendo eleitos, cessou-se a discussão sobre o projeto de engenharia para o qual um orçamento havia sido destinado. O fato é que, sendo uma ação que forçosamente demandará uma negociação política e financeira com o governo federal, o ponteiro continua parado. Nem o estado ou os municípios, mesmo os que se localizam no trajeto da rodovia, movem uma palha para tanto.
O Presidente Lula e a Ferrovia Transnordestina
Pernambuco que se encontrava letárgico perante o tema fez sinal de movimento e, de uma vez para outra surgiu com duas opções. A primeira quando se anunciou que um grupo empresarial estaria disposto a investir na conclusão do trecho entre Custódia e Suape e a segunda, um tanto estapafúrdia, que haveria uma outra opção que era a de uma nova empresa ou consórcio, em caso de haver questões jurídicas intransponíveis, construir uma rodovia paralela entre Salgueiro e Suape, o que grosso modo representam 500 quilômetros de trilhos.
Duas ideias por razões técnicas e econômicas um tanto fora de órbita, mas vendidas como factíveis. Chega o governo atual e apesar das conversas sobre a ferrovia pouco ou nada de fez a partir do governo estadual até que, há duas semanas, alguns jornais noticiam que o Presidente Lula se comprometeu com a conclusão da Transnordestina em seu traçado original beneficiando os portos de Pecém e Suape. O interessante é que não se viu uma nota de agradecimento por parte do estado ou do ecossistema político a este gesto. Ação esta que eleva Suape a um porto com características multimodais e regionais, o que sem a ferrovia reduz sua capacidade operacional às demandas da Refinaria e das exportações de automóveis da fábrica instalada em Goiana, PE.
Alagoas e a duplicação da AL 220
Enquanto isso no estado de Alagoas as obras de duplicação da rodovia AL 220 foram retomadas com intensidade após os primeiros meses da atual gestão estadual. O projeto é contar com um segundo corredor Leste-Oeste do estado, tendo Arapiraca como município estratégico à política de interiorização. As obras que ampliam a rodovia no trecho Arapiraca-Delmiro Gouveia estão avançadas e, no ritmo atual, em um período de dois anos devem estar concluídas. O que significa que 320 quilômetros entre Maceió e Delmiro Gouveia estará em completo uso.
Parece uma ironia que um estado com uma atividade econômica em crescimento, mas inferior a Pernambuco consiga construir um arranjo financeiro capaz de uma obra desta magnitude. O sentimento em Alagoas é que esta obra se consolidou, particularmente quando seu idealizador, o então governador Renan Filho é o atual Ministro de Transportes do país. Algo lógico, ao que parece.
As prioridades devem ser abordadas com rapidez e determinação
Voltando a Pernambuco o que não se consegue perceber são projetos estratégicos prioritários. A tendência é tentar se contemplar com investimentos limitados em todos os municípios sem que haja uma interlocução entre os municípios, muito menos entre as regiões do estado.
Vale lembrar a retomada do crescimento do estado de Pernambuco na primeira década deste século. Projetos impensáveis saíram do papel, como a Refinaria Abreu e Lima e a atração da Fiat para o estado, além de centenas de empresas dos ramos metalmecânico e automotivo que se instalaram no polo Suape ou ao redor de Goiana.
Enquanto há demora em se escolher o que é prioritário, outros estados avançam, negociam e se alinham com o governo federal em seus propósitos. Aqui surge-se algo similar caso não se queira ver o estado continuar em sua letargia, passando anos após anos sem que se testemunhem investimentos diferenciados na malha viária e na logística de Pernambuco.
Perdem todos. O estado, os municípios, o comércio, a indústria, os serviços, mas enquanto isto se continua a acreditar que ainda é o melhor, o maior, o mais importante e mais belo entre as unidades federativas, avançando-se com o culto ao boi voador que nunca aterriza.
Professor Titular da UFRPE-UAST