Instituto Lumiart usa a arte para incentivar mulheres e jovens do sertão pernambucano a virar o jogo
Núbia Santana saiu da extrema pobreza no Sertão de Pernambuco para as passarelas, quando foi eleita Miss Pernambuco, em 1994. De lá para cá, muita coisa mudou e a beleza que abriu caminhos levou a então menina, que já foi carvoeira, ao ativismo social, tornando-se embaixadora da paz.
Postado em 12/05/2023 2023 11:28 , Cultura. Atualizado em 12/05/2023 11:35
Núbia Santana saiu da extrema pobreza no Sertão de Pernambuco para as passarelas, quando foi eleita Miss Pernambuco, em 1994. De lá para cá, muita coisa mudou e a beleza que abriu caminhos levou a então menina, que já foi carvoeira, ao ativismo social, tornando-se embaixadora da paz.
Neste domingo, 14 de maio, Núbia chega à casa da família para celebrar o Dia das Mães, em Iguaracy, distante 350 quilômetros do Recife, e promover encontros com mulheres da sua cidade e dos municípios de Ingazeira e Tuparetama sobre violência doméstica e a força que cada mulher tem dentro de si.
“A minha missão com esse projeto é despertar a força que tem dentro de cada uma dessas mulheres. Com conhecimento tudo fica mais fácil. A arte e a cultura são fortes instrumentos e me auxiliam bastante nessas rodas de conversa com mulheres. Ir até às comunidades da Área Rural é um resgate de mim mesma, pois foi ali que tudo começou para mim. E uma conversa em torno de questões dramáticas como a violência, uso de drogas e a fome, tendo como pano de fundo a defesa dos direitos da mulher e dos jovens. É alimento para meu coração. Essas mulheres sofrem muito! E o pior sofrimento, a meu ver, é a falta de esperança”, explica a ativista.
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Da infância sob o umbuzeiro, a força para as mudanças
Desde criança, quando ainda morava no sítio dos seus pais José e Maria Odete Santana, na cidade de Iguaracy, sertão do Pajeú, Núbia tinha um sonho de transformar a vida das pessoas, de sua família e da comunidade em seu entorno.
Única mulher de uma prole de oito filhos, Núbia teve uma infância marcada por muito sacrifício, mas também pela união da família diante das dificuldades e a esperança de que dias melhores fossem possíveis.
Dos 7 aos 10 anos, ela trabalhava numa carvoaria junto com os irmãos para ajudar os pais no sustento da família e ainda enfrentava uma rotina de caminhar cerca de 30 quilômetros por dia para ir e voltar da escola, na vizinha Ingazeira.
Mesmo com muito trabalho, a fome rondava e invadia a casa da família Santana, assim como a de tantos sertanejos que até hoje sofrem sem assistência em tempos de seca. Esse embate em sua trajetória gerou resiliência e coragem para enfrentar desafios. E, quando chegou ao limite, saiu de sua casa no sertão e foi em busca do sonho de tirar a família da miséria, no Recife, onde não conhecia ninguém ao desembarcar.
De miss à cineasta
A fé em Deus e a obstinação no seu propósito abriram portas. Da pensão onde foi acolhida aos grandes salões da sociedade pernambucana e do mundo. Na época, o seu empresário era Miguel Braga e o estilista Romildo Alves a abraçou como modelo. ” O estilista Ricardo de Castro me deu a oportunidade de concorrer ao Miss Pernambuco pelo Clube Internacional e cuidou de mim”, lembra a ex- miss.
Quando foi eleita em 1994 como representante de Pernambuco no concurso Miss Brasil, Núbia Santana travou consigo o desafio de fazer daquele prêmio uma oportunidade para mudar sua vida e a de seus familiares. E como mudou.
Depois de viajar por todo o país, fazer contatos, decidiu ir morar em Brasília, onde teve a oportunidade de trabalhar em um órgão público, o Ministério do Trabalho, e fixou moradia, mas sem tirar os olhos do sertão nordestino.
No Distrito Federal, ingressou na Faculdade Dulcina de Moraes, no curso de artes cênicas e, hoje, já tem em seu currículo várias produções cinematográficas e teatrais. Núbia é também presidente da Associação dos Produtores de Cinema (Aprocine), com sede em Brasília, e fundadora do Projeto Nota 10, que promove oficinas de teatro, percussão e atividades audiovisuais para adolescentes autores de infrações graves. Foi nessa “pegada” de estar mais próxima aos jovens dependentes de drogas que nasceu o documentário “Pedra do Mal”, em 2015.