
Valorização profissional dos jovens do semiárido
O ensino superior e médio até então era restrito a poucas instituições, devendo-se reconhecer o papel que as Fundações de ensino dedicadas à formação de professores tiveram ao longo entre os anos setenta e o final do século passado
Postado em 18/05/2023 2023 22:55 , Agronegócios. Atualizado em 18/05/2023 23:05
O grande avanço
Precisamente em 2005 foi iniciada a expansão das universidades federais em direção ao interior do Brasil, através do PROUNI. Ao mesmo tempo em que se acelerou a instalação de centenas de Institutos Federais de Educação, em todo o país e, em alguns estados ocorrendo o mesmo em relação às suas universidades estaduais.
O ensino superior e médio até então era restrito a poucas instituições, devendo-se reconhecer o papel que as Fundações de ensino dedicadas à formação de professores tiveram ao longo entre os anos setenta e o final do século passado. A formação de professores preparados foi o embrião que permitiu a instalação dos campi universitários e o sucesso dos alunos que chegavam à Universidade a partir, preponderantemente das escolas públicas do Agreste e Sertão.
O fortalecimento das atividades profissionais
Também é sabido que ocorreu ao longo dos últimos anos uma melhoria nos serviços nas áreas educacionais, de saúde, do comércio e no campo a partir da disponibilidade no mercado de jovens qualificados em todas as áreas técnicas. A necessidade de busca de profissionais em outras regiões foi reduzida substancialmente e milhares de postos de trabalho ocupados por jovens da região.
Os ganhos são visíveis no desempenho da gestão pública, a exemplo das secretarias e instituições municipais, estaduais e federais e das empresas que demandam serviços especializados. Apesar de sempre ser bem-vindo o recebimento de profissionais de outras regiões e estados, o fato é que na maioria dos casos esta demanda é suprida intraregionalmente.
Quanto custa um profissional qualificado?
Chegaram às escolas e em ritmo acelerado a disponibilidade de técnicos, engenheiros, nutricionistas, contabilistas, engenheiros, administradores e inúmeras outras profissões. O esforço para alcançar uma situação dessa é não apenas louvável, mas de um potencial transformador nem sempre capaz de ser traduzido.
Duas questões merecem ser trazidas à atenção do que está por trás desse cenário. Quem são e de onde vem os professores e estudantes que vieram ao Sertão e quanto custa a formação profissional de cada um desses jovens?
No primeiro caso ocorreu um influxo de professores advindos de todas as regiões do país, particularmente de Pernambuco e estados vizinhos, sem descartar aqueles que se deslocaram da Amazônia ou do Sul do país para o Sertão. Todos pós-graduados e um número substancial de doutores. Pessoas que se dedicaram por mais de vinte anos de estudo para chegarem aonde estão e que escolheram se deslocar de seus estados para o Semiárido, um grande ganho para todos. Quanto aos estudantes, em parte das universidades e campus instalados no interior, a exemplo de Serra Talhada, ao redor de 80% são provenientes de municípios em um raio de 200 km.
Há um fato ainda mais interessante, um número expressivo desses alunos e alunas é de pioneiros na formação superior em suas respectivas famílias e não será exagero informar que em sua maioria vêm de famílias humildes que sem a presença de uma universidade pública ou de um programa de financiamento do ensino universitário, o FIES, não teriam acesso ao ensino superior. Não fosse a presença dessa malha de escolas a realidade seria igual a de três décadas atrás onde apenas os jovens das famílias mais bem posicionadas do ponto de vista econômico teriam condições de ir à Recife cursar uma Universidade.
O valor financeiro para a formação de um jovem engenheiro, médico ou professor não é o caso, mas reconhecendo que este é um dos mais importantes financiamentos que uma sociedade pode legar às futuras gerações.
A importância da valorização do profissional para o desenvolvimento regional
O ponto em que se pretende chegar é qual a chance de ser bem-sucedido um jovem que concluiu uma universidade em nosso entorno? Valerá a pena o esforço? Poderá pagar o empréstimo do FIES? Quanto é o valor de sua remuneração doze meses após a colação de grau?
São questões inconvenientes, mas que devem ser feitas. Sempre coloco que ao chegar em casa e informar que sua nota de ENEM foi suficiente para ingressar em um curso de engenharia de pesca, agronomia ou química, seus pais consideravam que o filho ou filha estavam trilhando um caminho para o bem-estar e o sucesso. Logo, se não ficar bem, após algum tempo, o jovem ainda terá que depender do pai para suas despesas básicas. Isto traz um sentimento de decepção e tristeza para todos e não ajuda aqueles que valorizam o conhecimento e insistem em apregoar que o estudo talvez não seja o caminho mais fácil, mas é o mais nobre em relação à libertação financeira e social.
Nem sempre a sociedade percebe a necessidade de se valorizar o egresso de uma universidade. Há em curso, por exemplo, um concurso em uma Prefeitura Municipal de um município do Pajeú em que é oferecido um salário equivalente à metade do piso salarial para engenheiros civis e um quarto para engenheiros agrônomos. Aqui, independe de profissão, mas este é o tipo de política que trabalho no sentido contrário ao desenvolvimento regional. O jovem que saiu para cursar seu ensino superior fora e não mais retornou está sendo substituído por aquele que conseguiu a duras penas concluir o ensino universitário na região, mas é forçado a migrar em busca de uma remuneração digna e que permita uma vida saudável.
O alerta é para o fato de que os empregadores públicos ou privados entendem que contar com profissionais bem remunerados e em confortável situação de trabalho é um ativo para a empresa ou instituição e reflete diretamente na saúde financeira das empresas e do mercado de trabalho.
Esta pode ser a realidade, mas não foi visando isto que se planejou a expansão do ensino superior no interior do país. O apelo quanto a valorização do profissional da casa é fundamental ou o jargão de que santo de casa não faz milagre continuará impresso na mente de todos bem como o desejo de assegurar qualquer oportunidade que for ofertada em outros ambientes. A migração dos profissionais sertanejos reflete-se em uma grande perda para o Semiárido, para Pernambuco e para o Nordeste. Ou se tem um outro olhar sobre a questão ou a região será condenada a ser a fonte de mão de obra. Não do peão que saía daqui há cinquenta anos para a construção civil no Sudeste, mas dos engenheiros, dentistas, professores, tão necessários ao salto que se espera do Nordeste e do Brasil.
1Professor Titular da UFRPE-UAST