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Pernambuco, 06 de fevereiro de 2025

Agronegócios

Valorização profissional dos jovens do semiárido

O ensino superior e médio até então era restrito a poucas instituições, devendo-se reconhecer o papel que as Fundações de ensino dedicadas à formação de professores tiveram ao longo entre os anos setenta e o final do século passado

Postado em 18/05/2023 2023 22:55 , Agronegócios. Atualizado em 18/05/2023 23:05

Colunista

 

 

O grande avanço

Precisamente em 2005 foi iniciada a expansão das universidades federais em direção ao interior do Brasil, através do PROUNI. Ao mesmo tempo em que se acelerou a instalação de centenas de Institutos Federais de Educação, em todo o país e, em alguns estados ocorrendo o mesmo em relação às suas universidades estaduais.

Pernambuco faz parte dessa história uma vez que a UFRPE, que naquele momento tinha como Reitor o Professor Valmar Correia de Andrade, foi a primeira universidade a aderir ao programa, promovendo a instalação do primeiro Campus, em Garanhuns, seguindo-se em 2006 com a UFRPE-UAST, em Serra Talhada. Hoje o Campus de Garanhuns se tornou a Universidade Federal do Agreste de Pernambuco, UFAPE, como instituição independente.

O ensino superior e médio até então era restrito a poucas instituições, devendo-se reconhecer o papel que as Fundações de ensino dedicadas à formação de professores tiveram ao longo entre os anos setenta e o final do século passado. A formação de professores preparados foi o embrião que permitiu a instalação dos campi universitários e o sucesso dos alunos que chegavam à Universidade a partir, preponderantemente das escolas públicas do Agreste e Sertão.

O município de Serra Talhada não é um caso isolado, entretanto é linguagem comum o relato sobre os avanços sociais, econômicos e culturais testemunhados pela cidade desde o início das atividades da UFRPE-UAST seguindo-se das escolas particulares, notadamente a FIS – Faculdades Integradas do Sertão e do campus do Instituto Federal do Sertão. Atualmente a cidade conta com treze instituições de ensino superior, incluindo a escola de Medicina da UPE e um número de matriculados ao redor de doze mil em uma população total de aproximadamente nove mil habitantes. Alvo considerado louvável por todos que com esses números se deparam.

O fortalecimento das atividades profissionais

Também é sabido que ocorreu ao longo dos últimos anos uma melhoria nos serviços nas áreas educacionais, de saúde, do comércio e no campo a partir da disponibilidade no mercado de jovens qualificados em todas as áreas técnicas. A necessidade de busca de profissionais em outras regiões foi reduzida substancialmente e milhares de postos de trabalho ocupados por jovens da região.

Os ganhos são visíveis no desempenho da gestão pública, a exemplo das secretarias e instituições municipais, estaduais e federais e das empresas que demandam serviços especializados. Apesar de sempre ser bem-vindo o recebimento de profissionais de outras regiões e estados, o fato é que na maioria dos casos esta demanda é suprida intraregionalmente.

Quanto custa um profissional qualificado?

Chegaram às escolas e em ritmo acelerado a disponibilidade de técnicos, engenheiros, nutricionistas, contabilistas, engenheiros, administradores e inúmeras outras profissões. O esforço para alcançar uma situação dessa é não apenas louvável, mas de um potencial transformador nem sempre capaz de ser traduzido.

Duas questões merecem ser trazidas à atenção do que está por trás desse cenário. Quem são e de onde vem os professores e estudantes que vieram ao Sertão e quanto custa a formação profissional de cada um desses jovens?

No primeiro caso ocorreu um influxo de professores advindos de todas as regiões do país, particularmente de Pernambuco e estados vizinhos, sem descartar aqueles que se deslocaram da Amazônia ou do Sul do país para o Sertão. Todos pós-graduados e um número substancial de doutores. Pessoas que se dedicaram por mais de vinte anos de estudo para chegarem aonde estão e que escolheram se deslocar de seus estados para o Semiárido, um grande ganho para todos. Quanto aos estudantes, em parte das universidades e campus instalados no interior, a exemplo de Serra Talhada, ao redor de 80% são provenientes de municípios em um raio de 200 km.

Há um fato ainda mais interessante, um número expressivo desses alunos e alunas é de pioneiros na formação superior em suas respectivas famílias e não será exagero informar que em sua maioria vêm de famílias humildes que sem a presença de uma universidade pública ou de um programa de financiamento do ensino universitário, o FIES, não teriam acesso ao ensino superior. Não fosse a presença dessa malha de escolas a realidade seria igual a de três décadas atrás onde apenas os jovens das famílias mais bem posicionadas do ponto de vista econômico teriam condições de ir à Recife cursar uma Universidade.

O valor financeiro para a formação de um jovem engenheiro, médico ou professor não é o caso, mas reconhecendo que este é um dos mais importantes financiamentos que uma sociedade pode legar às futuras gerações.

A importância da valorização do profissional para o desenvolvimento regional

O ponto em que se pretende chegar é qual a chance de ser bem-sucedido um jovem que concluiu uma universidade em nosso entorno? Valerá a pena o esforço? Poderá pagar o empréstimo do FIES? Quanto é o valor de sua remuneração doze meses após a colação de grau?

São questões inconvenientes, mas que devem ser feitas. Sempre coloco que ao chegar em casa e informar que sua nota de ENEM foi suficiente para ingressar em um curso de engenharia de pesca, agronomia ou química, seus pais consideravam que o filho ou filha estavam trilhando um caminho para o bem-estar e o sucesso. Logo, se não ficar bem, após algum tempo, o jovem ainda terá que depender do pai para suas despesas básicas. Isto traz um sentimento de decepção e tristeza para todos e não ajuda aqueles que valorizam o conhecimento e insistem em apregoar que o estudo talvez não seja o caminho mais fácil, mas é o mais nobre em relação à libertação financeira e social.

Nem sempre a sociedade percebe a necessidade de se valorizar o egresso de uma universidade. Há em curso, por exemplo, um concurso em uma Prefeitura Municipal de um município do Pajeú em que é oferecido um salário equivalente à metade do piso salarial para engenheiros civis e um quarto para engenheiros agrônomos. Aqui, independe de profissão, mas este é o tipo de política que trabalho no sentido contrário ao desenvolvimento regional. O jovem que saiu para cursar seu ensino superior fora e não mais retornou está sendo substituído por aquele que conseguiu a duras penas concluir o ensino universitário na região, mas é forçado a migrar em busca de uma remuneração digna e que permita uma vida saudável.

O alerta é para o fato de que os empregadores públicos ou privados entendem que contar com profissionais bem remunerados e em confortável situação de trabalho é um ativo para a empresa ou instituição e reflete diretamente na saúde financeira das empresas e do mercado de trabalho.

Esta pode ser a realidade, mas não foi visando isto que se planejou a expansão do ensino superior no interior do país. O apelo quanto a valorização do profissional da casa é fundamental ou o jargão de que santo de casa não faz milagre continuará impresso na mente de todos bem como o desejo de assegurar qualquer oportunidade que for ofertada em outros ambientes. A migração dos profissionais sertanejos reflete-se em uma grande perda para o Semiárido, para Pernambuco e para o Nordeste. Ou se tem um outro olhar sobre a questão ou a região será condenada a ser a fonte de mão de obra. Não do peão que saía daqui há cinquenta anos para a construção civil no Sudeste, mas dos engenheiros, dentistas, professores, tão necessários ao salto que se espera do Nordeste e do Brasil.

 

1Professor Titular da UFRPE-UAST