Tempo de colheita e grandes festas no Semiárido
Em todo o Nordeste e, de modo mais enfático, no Semiárido, a colheita do milho coincide com as festas juninas que se constituem no período de mais descontração, alegria e expressão cultural na região. Esses eventos dinamizam o mercado da moda, de adereços, de culinária, artístico de forma que todos ganham.
Postado em 13/07/2023 2023 23:33 , Agronegócios. Atualizado em 13/07/2023 23:34
A colheita divina. Até para os pássaros
No Semiárido, o mês de junho em grande parte da região coincide com a colheita do milho. Não é à toa que o São João está diretamente associado à culinária do milho verde. Esta é a marca registrada da região Nordeste. Nos últimos anos, as médias de chuvas anuais têm se mantido na média ou um pouco mais elevadas, o que se traduz por um período virtuoso do ponto de vista climático.
Há pouco estava no campo avaliando uns campos de milho, sorgo e milheto semeados em 20 de maio de 2023. Uma data fora de qualquer recomendação de zoneamento agroclimático. Ficou claro quão diferentes são as três espécies em relação a plantios sob condição de risco. Por incrível que se possa crer, os três cereais serão colhidos, apesar das pequenas espigas de milho. No caso do milheto, o mais precoce, e o sorgo, a produção se dará de forma razoável. O interessante é que à exceção das panículas (cachos) cobertas com sacolas de papel, no exercício do melhoramento genético, não sobrará um grão da voracidade de pequenos pássaros que se comportam de forma ordeira e civilizada entre eles até quando o restaurante escassear com a comida. Daqui a pouco o banquete se tornará palco de empurrões e bicadas. Paciência.
Os agradecimentos começam com as festas Juninas: Santo Antônio, São João e São Pedro
Em todo o Nordeste e, de modo mais enfático, no Semiárido, a colheita do milho coincide com as festas juninas que se constituem no período de mais descontração, alegria e expressão cultural na região. Esses eventos dinamizam o mercado da moda, de adereços, de culinária, artístico de forma que todos ganham.
Dentre os aspectos mais relevantes, destaco o cultural. Durante todo o mês de junho são centenas de shows e danças típicas como as quadrilhas. Há de se convir que nos últimos anos cresceu um movimento neocultural de descaracterização do ciclo junino e uma tentativa de desconectar o momento da maior expressão musical da região, o forró. O ápice deste enredo ocorreu em Campina Grande, quando forçaram a redução do show de Flávio José, um ícone do forró raiz em detrimento de outro artista. A indignação foi tanta que outras cidades optaram pela contratação de músicos nordestinos.
Parabéns aos que reconheceram o equívoco. Espera-se que seja a retomada pela valorização da música tradicional e a força de impulsão ao aprendizado da juventude nordestina por seus ritmos e instrumentos.
Grandes exposições: Expo Crato, Expo Serra e Semiárido Show
Um terceiro momento de modo sequencial se dá entre os meses de julho e dezembro, quando ocorrem as exposições que já não são apenas de animais, mas abrange a moda, a culinária, os insumos e os shows artísticos.
No momento está em curso uma das mais tradicionais festas da região, a Expo Crato que comemora sua septuagésima edição, o que não é algo trivial. Iniciou-se no dia nove de julho, estendendo-se até o dia dezesseis. Atrai um público dos demais estados e nela se movimenta uma quantidade de recursos elevados para o padrão regional.
Em Serra Talhada, logo a seguir, iniciando-se no dia dezenove, estendendo-se até o dia vinte e dois, conta-se com a Expo Serra. Uma oportunidade para a região do Pajeú pernambucano mostrar suas potencialidades e o que se pode esperar do futuro. Pelo segundo ano consecutivo nas instalações do Sesc Serra Talhada, uma arena de eventos das comodidades essenciais ao recebimento de grandes públicos.
Uma terceira exposição plena de simbolismo, é o Semiárido Show, evento organizado pela Embrapa Semiárido e parceiros, concebido para ser a grande vitrine tecnológica para a agricultura e a pecuária sustentável da região. A feira volta com toda sua dinâmica e força após o arrefecimento da pandemia Covid 19, procurando mostrar o que se tem disponível em forma de máquinas, implementos, sistema de irrigação, cultivo, processamento, equipamentos de proteção e segurança, sistemas de acompanhamento e monitoramento dos cultivos, processamento e pós-colheita dos produtos nativos ou cultivados. Esta feira ocorrerá entre os dias primeiro e quatro de agosto de 2023 no município de Petrolina, em Pernambuco.
Este evento em sua concepção inicial teria entre seus pontos altos a exibição de máquinas e equipamentos produzidos por dezenas de pequenas e médias indústrias instaladas no Nordeste adaptados à realidade do Semiárido. Esta é uma aposta que deve ser continuada independente de seu formato atual.
Ainda em se tratando de feiras e exposições, nos próximos anos haverá de se incentivar a participação de empresas estrangeiras especializadas na produção de equipamentos, máquinas e sistemas de controle voltados ao pequeno e médio produtor do Semiárido.
Desde já fica o desafio para os eventos que puderem mostrar a empresários do setor metalmecânico e aos produtores o que de novo tem sido desenvolvido em países como a China, a Índia e a Coréia do Sul, por exemplo.
1Professor Titular da UFRPE-UAST
Serra Talhada, 28 de junho de 2023