Na Índia, recebido como um irmão
Durante duas semanas, o colunista Agrônomo Geraldo Eugênio estará na Índia para discutir a abertura de universidades e institutos de pesquisa para a Ásia, começando pelo estado de Karnataka, onde está localizado o importante parque tecnológico Bengaluru, conhecido por ser um centro de economia digital.
Postado em 14/09/2023 2023 16:53 , Agronegócios. Atualizado em 14/09/2023 16:53
A opção pelo futuro
Durante as próximas duas semanas tratarei de uma proposta de abertura de nossas universidades e institutos de pesquisa para a Ásia. Neste caso, a Índia. O país é constituído de 28 estados e 8 distritos federais. O primeiro a ser visitado é o estado de Karnataka, conhecido por ter como capital o mais importante parque tecnológico da economia digital no país e um dos mais importantes do mundo, a cidade de Bengaluru, anteriormente conhecida como Bangalore.
O nome Bangalore por muito tempo era conhecido como uma estância turística, de clima agradável e que servia de local para os mais altos funcionários ingleses passarem suas férias de verão no período compreendido entre os meses de abril e maio, quando a temperatura no período que antecede as monções é escorchante. Quando as temperaturas podem chegar entre quarenta e cinquenta graus centígrados em alguns locais.
A partir dos anos noventa a cidade estabeleceu um plano diretor que teve como eixo principal o apoio e investimento em empresas de base tecnológica e se tornou o principal celeiro de talentos para corporações indianas, da Europa e, principalmente, dos Estados Unidos. A iniciativa foi tão ousada que em março de 2000, há 23 anos, o presidente dos Estados Unidos Bill Clinton fez uma visita à Índia por uma semana para conhecer o que estava ocorrendo em Bengaluru e Hyderabad. Outra cidade sobre a qual se falará nas próximas colunas.
Hoje, não se encontra alguém que lide com alguma área relacionada à tecnologia digital que não saiba a importância da Índia para esta mudança mundial de uso e aplicação da computação, internet e áreas conexas.
UASD – Uma universidade rural
O objetivo desta viagem de um professor da UFRPE-UAST não foi o mesmo de Clinton e de centenas de empresários do setor que fizeram este caminho. Em um programa de internacionalização muito bem-sucedido da UFRPE, em março deste ano, atendendo a um edital, três professores de Serra Talhada propuseram consolidar ou dá início a um ambiente de cooperação com os Estados Unidos, Prof. Luiz Guilherme; com o México, Prof. Adriano Simões e com a Índia, o meu caso. A partir de contatos prévios com professores da UASD – Universidade Ciências Agrícolas de Dharwad, localizada na mesma Karnataka de Bengaluru, decidi-me conhecer que se tem feito em melhoramento genético de culturas tropicais e iniciativas que possam servir de base a novos projetos entre os dois países.
Em primeiro lugar reconheça-se a recepção dos colegas professores e estudantes com este estrangeiro que se desloca de um país tão distante para o Sul da Índia. Fui recebido como um irmão. Abriram as portas para mostrar tudo o que estão a fazer, o que pode ser feito e mostrar com toda boa vontade o que dezenas de jovens estudantes e professores estão trabalhando em suas dissertações e teses. E, mais importante, a partir do que é a UFRPE, estabelecer um mapa para, em caso de ser aceito pelas duas partes, servir como guia para uma agenda a ser implementada a partir de 2024.
Coincidentemente a missão para a Índia, como tenho denominado esta visita, chega em um momento positivo. Os mandatários dos dois países, o Primeiro Ministro Narendra Modi e o Presidente Luiz Inácio da Silva estiveram juntos há três semanas na África do Sul, quando do encontro dos BRICS e na cúpula do G20, semana passada, em Delhi. Não há lembrança de um terreno tão fértil para se estabelecer uma agenda de cooperação entre o Brasil e a Índia foi tão propício quanto este.
Integração direta como produtor e o agronegócio
Karnataka, como grande parte dos estados indianos têm um idioma próprio, o Kannada e a maioria dos agricultores da região falam seu idioma. Logo a universidade tem que cuidar da área acadêmica, usando o inglês e o kannada em seu esforço de interagir com o meio rural. Encontrei não alguns, mas dezenas de projetos que podem se constituir em um ambiente de cooperação em culturas como a cana-de-açúcar, o sorgo, os milhetos, o milho, o feijão caupi e as leguminosas conhecidas como pulses, além dos programas de extensão rural.
Diferente do Brasil, na Índia basicamente não há grandes propriedades, mas ao sobrevoar em um avião bimotor entre Bengaluru e Dharwad é que alguém pode ver que não há espaço vazio. Todas as áreas ocupadas.
Há limitações
Como não poderia deixar de ser, há limitações, iniciando-se pelo idioma. Aprendi com os anos de que, para os jovens esta é uma questão menor. A capacidade de aprendizado da juventude é tal que para interagir em um ambiente universitário o inglês básico é suficiente, além do fato de que jovens alunas e alunos têm uma capacidade surpreendente de aprender novos idiomas, incluindo os asiáticos. A distância pode ser considerada uma segunda questão. Lembro que Fernando de Magalhães, o lendário navegador português a serviço do Rei da Espanha, iniciou a volta ao mundo em 1519, há precisamente 504 anos atrás.
Nada mais rico do que a troca de conhecimento
Quando me refiro à UFRPE estendo às demais universidades e instituições de pesquisa do Brasil, incluindo a Embrapa, que chegou a ter laboratórios de seu programa Labex na China e Coreia do Sul. Os países asiáticos merecem uma atenção especial desde algum tempo. Voltando a lembrar que no Programa Ciências sem Fronteiras, o Brasil propunha enviar cem mil jovens ao exterior. Encaminhou algo ao redor de setenta mil, dos quais não mais do que algumas dezenas para a Ásia.
Novas iniciativas surgirão. Neste sentido gostaria de deixar uma palavra de incentivo e suporte aos gestores e professores que pretendam fazer valer a determinação e ousadia de Fernando de Magalhães em enfrentar uma distância que não foi alterada, mas em circunstâncias absolutamente diferentes daquelas que o mundo estava acostumado a ver até bem pouco tempo.
1Professor Titular da UFRPE-UAST