Facebook jornal do sertão Instagram jornal do sertão Whatsapp jornal do sertao

Pernambuco, 04 de dezembro de 2024

Agronegócios

Os bioprodutos são o futuro da agricultura

Dentre as mais destacadas conquistas da tecnologia agrícola nacional, a fixação biológica de Nitrogênio é a primeira. Esta história não se deu por acaso.

Postado em 01/02/2024 2024 18:37 , Agronegócios. Atualizado em 01/02/2024 16:39

Colunista

 

Uma dependência inaceitável

Duas questões a serem abordadas. A primeira diz respeito à elevada dependência da agricultura brasileira por tecnologias estrangeiras. A guerra da Ucrânia que não trouxe  nada de bom  à humanidade, desvendou uma situação de extremo desconforto para o aparato de pesquisa e desenvolvimento nacional. A massiva dependência da importação de nutrientes como o fósforo e o potássio, de uma hora para outra chamou a atenção para um discurso fantasioso e uma realidade de risco. De uma hora  para outra, a maioria das instituições de pesquisa apresentaram suas propostas de mitigação, todas baseadas em prazos longos e que necessitavam muito mais do que financiamento ou de uma coordenação similar ao que se deu com a saga da Fixação Biológica de Nitrogênio, liderada pela Dra. Johanna Dobereiner, da qual falaremos mais a frente. O conflito demonstrou ainda que o mesmo se repete em termos de equipamentos, máquinas e agroquímicos. Em outras palavras, a agricultura brasileira tem sido um país para as empresas internacionais instaladas ou não no Brasil.

As últimas muralhas postas abaixo dizem respeito às sementes. Ano após ano os programas de melhoramento públicos foram perdendo fôlego e, atualmente, culturas como o milho, a soja e o algodão, do tomate, da cebola têm suas áreas semeadas por cultivares desenvolvidas por empresas privadas, predominantemente estrangeiras. As empresas multinacionais foram adquirindo as empresas com programas de desenvolvimento de cereais, hortaliças, espécies frutíferas e contam-se nos dedos de uma única mão aquelas que ainda não foram incorporadas.

Entre as grandes culturas, a cana-de-açúcar  é exceção que com uma área de aproximadamente oito milhões de hectares é plantada com novas variedades de um programa público, a RIDESA, constituído por dez universidades federais do Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste. Apesar da existência de bons programas privados, ao redor de 60% das novas áreas cultivadas são com cultivares BR.

Exemplos consistentes em controle biológico

Vez por outra se encontra alguém que caiu na armadilha de considerar que controle biológico de pragas e doenças é coisa de uma agricultura simplória, pouco afeita à tecnologia e uma bandeira de ecologistas. Os amantes do meio ambiente têm feito um excelente trabalho em defesa da natureza. A situação poderia ser bem mais grave. O grande exemplo a ser sempre posto à mesa é o da cana-de-açúcar. Os dois grupos mais destacados de pragas, as cigarrinhas e as brocas são controladas a partir de produtos biológicos, o fungo Metharrizium anisopliae e a vespa, a Cotesia flavipes.

Idem na nutrição de plantas

Dentre as mais destacadas conquistas da tecnologia agrícola nacional, a fixação biológica de Nitrogênio é a primeira. Esta história não se deu por acaso. Coincidiu que um diretor do Departamento Nacional de Pesquisa Agropecuária, do Ministério da Agricultura, o Dr. Álvaro Barcelos Fagundes, desde os anos 30 do século passado, quando concluiu seu mestrado na Universidade de Rutgers, nos Estados Unidos, teria atentado para a importância da microbiologia do solo e, nos anos cinquenta, ter sido a pessoa responsável por dirigir os trabalhos da Dr. Dobereiner para esta área visando desenvolver um conjunto de tecnologias que abolisse ou minimize ao máximo o uso dos adubos nitrogenados minerais na cultura da soja.

A conta é simples. Admitindo-se trinta e seis milhões de hectares com produtividade de oitenta sacas de soja por hectare se supõe que seriam necessários no mínimo 200 quilogramas de Nitrogênio Mineral ou aproximadamente 500 quilogramas de ureia, ou dezoito milhões de toneladas desse fertilizante.

Trocando em miúdos, o que foi obtido no controle das pragas da cana de açúcar e na adubação da soja pode ser obtido no controle das lagartas da soja, do algodão e do milho, bem como na solubilização dos nutrientes como o Fósforo e o Potássio.

Uma empresa diferenciada, a JCO Bioprodutos

Esta narrativa se faz necessária para se trazer ao conhecimento de todos uma façanha vista, na última sexta-feira, em Barreiras, Bahia, a JCO Bioprodutos, fundada em 1999 pelo empresário José Claudio de Oliveira, um gaúcho de Gravataí que se fixou nas Gerais, inicialmente se dedicando a adubação química mas logo a seguir incorporando ao portfólio de sua empresa o controle biológico, a fisiologia vegetal, a interação planta-microrganismo-inseto ou seja qual for o patógeno. O que deixa alguém encantado é o fato de que com seus vinte e cinco colaboradores a nível de doutorado e outra centena de técnicos e colaboradores qualificados, se constitui, antes da empresa comercial, em um centro de pesquisa de qualidade e resultados raramente vistos. São dezenas de produtos sendo aplicados em milhares de hectares em todo MATOPIBA. Há de se enaltecer sua formação acadêmica e humana e o senso de oportunidade ao crer há vinte e cinco anos naquilo que somente muito depois foi ser conhecido como bioeconomia.

A agenda para o futuro

José Cláudio mostra de forma clara qual deve ser o principal foco da agenda de pesquisa de instituições de pesquisa públicas e privadas para as próximas décadas. A outra área que não é parte dos objetivos de sua empresa, é o melhoramento genético, que não pode ser desconsiderado nem sido dado a devida atenção. A JCO Bioprodutos, do ponto de vista de gestão também nos chama a atenção para o que qualquer dirigente que valoriza o desempenho de sua equipe zela, resultados aplicáveis e com impacto na vida do agricultor e no aumento de produtividade dos cultivos.

O compromisso desse desbravador em estar junto à iniciativa capitaneada pelo Prefeito Raimundo Pimentel e Edésio, seu Secretário de Agricultura, pode mudar a face da agricultura do Araripe tendo como fundamento práticas sustentáveis é algo que o semiárido deve reconhecer como um primeiro passo para uma conquista que se avizinha.

Já quanto a JCO Bioprodutos tenho a dizer que deve estar no radar do governo federal e da Bahia dar todo o apoio de forma que a empresa cresça técnica e empresarialmente e, acima de tudo, se mantenha sob o controle do capital nacional. Parabéns, José Claudio de Oliveira e sua equipe. Pernambuco aguarda sua contribuição.