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Pernambuco, 12 de janeiro de 2025

Agronegócios

A mecanização no meio rural do Semiárido

Há três semanas estive na Estação Experimental do IPA, em Araripina, plantando dois experimentos. Chamou a atenção o fato que aquela unidade preserva o uso de implementos de tração animal, a exemplo do cultivador para capina das áreas plantadas.

Postado em 22/02/2024 2024 18:44 , Agronegócios. Atualizado em 22/02/2024 18:47

Colunista

Um pouco de história

Nas últimas duas semanas não foram poucas as reportagens sobre a demonstração de máquinas chinesas visando o uso para a agricultura familiar nordestina. Vale lembrar que as propriedades na Ásia, com raras exceções, não superam cinco hectares. O imóvel rural na China, Índia, Vietnam e outros países pode ser considerado como minifúndio. Onde se dispõe de alguma água, os cultivos são irrigados e ano após ano incorporam tecnologias como o uso da agricultura de precisão, o zoneamento agroclimático, a aplicação da internet e do e-commerce.

Mas o que se quer aqui demonstrar é que em 1995, na Exposição Nordestina de Animais, ocorrida anualmente no Parque Antônio Coelho, no Cordeiro, em Recife, na antiga sede da Secretaria de Agricultura de Pernambuco, o governo do estado, então liderado por Miguel Arraes em seu terceiro mandato, através do IPA, promoveu uma exposição de máquinas e equipamentos chineses, contendo tratores, centrífugas, plantadeiras e cultivadores voltados à pequena e média propriedade rural. Foi uma iniciativa capitaneada pelo então diretor presidente do IPA, Júlio Zoé de Brito e pelo lado Chinês, pelo Sr. Jiang Zi, representante do governo da província de Sichuan.

É bom lembrar que naquele momento o desenvolvimento tecnológico da China ainda não tinha alcançado os níveis atuais, as máquinas eram simples e, por incrível que pareça, alguns motores tinham seu sistema de partida à manivela. Na condição de Secretário de Agricultura do estado naquele momento nunca duvidei que ali estava o futuro. Anos após, enquanto na Embrapa, tive a oportunidade de acompanhar as mudanças em curso que ocorriam na Índia, na China, na Coréia do Sul e na Tailândia.

Uma situação fundiária diferente.

Aqui no Semiárido, apesar das propriedades contarem com dimensões superiores às asiáticas, grande parte delas tem área inferior a 10 hectares. Considere-se ainda que o terreno cultivado não passa de dois hectares, que equivale a seis tarefas. Uma área aparentemente pequena mas que não é tão fácil para uma família manejá-la apenas com o uso da força humana e da enxada. Nas últimas décadas a situação se tornou ainda mais crítica. A migração contínua dos jovens para as cidades, onde buscam ocupações menos estressantes e mais remunerativas, levou ao despovoamento do campo. Com isto a mão de obra é escassa e cara para os padrões locais. Uma das opções para se encarar esta tendência é a mecanização das atividades agrárias em sua totalidade, a começar por práticas de plantio direto, aplicação de adubos e defensivos, tratos culturais, colheita e processamento.

Em muitos imóveis, com o cultivo de milho, feijão de corda, feijão guandu, fava, mandioca e espécies forrageiras como a palma, o capim para pastejo, o sorgo e o milho forrageiro, a renda é insuficiente para se pagar mão de obra além do familiar com isto nem sempre as os cultivos recebem a atenção devida, as produtividades são modestas e a agricultura no semiárido quase sempre é  tratada como de subsistência.

Máquinas adaptadas às condições locais

A indústria de máquinas nacional não conseguiu apoio governamental e adesão suficiente por parte dos produtores, da extensão e da pesquisa, dos bancos de fomento dirigidos aos pequenos e médios produtores. A verdade é que poucas empresas sobreviveram. A atenção ao parque de máquinas fabricado na China é louvável, desde que, a partir do início das negociações, haja uma preocupação em fortalecer as empresas nacionais e na fabricação conjunta desses equipamentos em território nacional. Não é admissível que o país passe a ser tão somente um parque de montagem e revenda.

Uma outra iniciativa interessante se deu há cerca de 15 anos quando a Embrapa e a Abimaq lançaram o Agrishow do Semiárido, uma feira de tecnologia que perdura até os dias de hoje, como contraponto à grande feira nacional, a Agrishow, realizada em Ribeirão Preto, SP. A lógica inicial era que o evento de Petrolina seria a vitrine para a pequena e média indústria metalmecânica do Nordeste. O que poderá ser um programa estratégico para a região uma vez que conta com dezenas de pequenos e médios fabricantes e montadoras de máquinas e equipamentos voltados para o público em referência.

Não esqueçam a tração animal

Há três semanas estive na Estação Experimental do IPA, em Araripina, plantando dois experimentos. Chamou a atenção o fato que aquela unidade preserva o uso de implementos de tração animal, a exemplo do cultivador para capina das áreas plantadas. O arado, a grade, a plantadeira, a adubadeira e o cultivador a tração animal nem sempre atendem às necessidades do pequeno imóvel rural, entretanto com bons animais e um número mínimo de equipamentos, uma família consegue manejar muito bem uma área mínima de qualquer cultura anual ou temporária.

Neste sentido, merece citar dois profissionais pernambucanos que se dedicaram à tração animal ao longo dos anos. Refiro-me aos Engenheiros Agrônomos Wallace Benedito Guedes e Antônio Timóteo Sobrinho. O primeiro na Zona da Mata, também trabalhando com a cultura da cana-de-açúcar e o segundo no Sertão do Pajeú, particularmente na Estação Experimental de Serra Talhada. É bom que se deixe claro que os pequenos e médios produtores que contem com um bom burro ou uma parelha de bois treinados não abdique desses companheiros. Nem sempre se pode contar com programas públicos de apoio à mecanização ou dispor de tratores para aluguel quando se necessita. As chuvas são preciosas e devem ser aproveitadas da forma mais eficiente possível