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Pernambuco, 12 de setembro de 2024

Saúde

Saúde mental e psicanálise: uma abordagem profunda e abrangente da psique humana

A teoria psicanalítica, apesar de ter sido criticada por alguns autores por sua falta de rigor científico, sua visão determinista e sua generalização excessiva, ainda é uma referência importante para a compreensão da saúde mental, pois oferece uma perspectiva profunda e abrangente da psique humana, que leva em conta a sua complexidade, a sua singularidade e a sua historicidade.

Postado em 05/03/2024 2024 22:06 , Saúde. Atualizado em 05/03/2024 22:06

Colunista

A saúde mental é um tema de grande relevância na sociedade atual, pois afeta diretamente a qualidade de vida das pessoas. Segundo a Organização Mundial da Saúde, saúde mental é “um estado de bem-estar no qual o indivíduo realiza as suas capacidades, pode lidar com o estresse normal da vida, trabalhar de forma produtiva e frutífera e contribuir para a sua comunidade” (OMS, 2013). Nesse sentido, a saúde mental envolve aspectos emocionais, cognitivos, sociais e espirituais do ser humano.

Um dos métodos terapêuticos mais conhecidos e influentes para compreender e tratar os problemas de saúde mental é a teoria psicanalítica, desenvolvida por Sigmund Freud no final do século XIX e início do século XX. A psicanálise parte do pressuposto de que a mente humana é composta por três instâncias: o id, o ego e o superego. O id é a fonte dos impulsos primitivos e inconscientes, como o sexo e a agressividade. O ego é a parte racional e consciente da mente, que busca equilibrar as demandas do id com as normas da realidade. O superego é o representante dos valores morais e sociais, que atua como uma espécie de consciência crítica e punitiva.

Segundo a psicanálise, os conflitos entre essas três instâncias geram ansiedade, que é o sinal de alerta de que algo não vai bem na mente. Para lidar com a ansiedade, o ego recorre a mecanismos de defesa, que são estratégias inconscientes para distorcer ou negar a realidade. Alguns exemplos de mecanismos de defesa são a repressão, a projeção, a negação, a racionalização, a formação reativa, a sublimação, entre outros. Esses mecanismos podem ser úteis em situações pontuais, mas se tornam patológicos quando impedem o indivíduo de enfrentar os seus problemas e de se desenvolver plenamente.

O objetivo da psicanálise é, portanto, ajudar o indivíduo a reconhecer e a resolver os seus conflitos psíquicos, através de um processo terapêutico baseado na relação entre o analista e o analisando. Nesse processo, o analista utiliza técnicas como a associação livre, a interpretação dos sonhos, a transferência e a contra-transferência, para acessar o inconsciente do analisando e revelar os significados ocultos por trás dos seus sintomas, comportamentos e fantasias. Dessa forma, o analisando pode se tornar mais consciente de si mesmo, de suas motivações, de seus desejos e de seus medos, e assim, alcançar uma maior liberdade e autonomia.

A teoria psicanalítica, apesar de ter sido criticada por alguns autores por sua falta de rigor científico, sua visão determinista e sua generalização excessiva, ainda é uma referência importante para a compreensão da saúde mental, pois oferece uma perspectiva profunda e abrangente da psique humana, que leva em conta a sua complexidade, a sua singularidade e a sua historicidade. A psicanálise contribui, assim, para a promoção de uma saúde mental que não se limita à ausência de doença, mas que busca o bem-estar, a realização e a felicidade do indivíduo.

No entanto, a eficácia científica do método psicanalítico é um tema controverso e debatido há décadas. Alguns críticos argumentam que a psicanálise não é uma ciência, mas uma pseudociência, pois não se baseia em evidências empíricas, não é falsificável, não é replicável e não é generalizável. Além disso, apontam que a psicanálise é baseada em conceitos vagos, metafóricos e subjetivos, que não podem ser medidos ou testados de forma objetiva. Por outro lado, alguns defensores afirmam que a psicanálise é uma ciência, mas de um tipo diferente, pois se ocupa de fenômenos que escapam à lógica e à quantificação, e que exigem uma abordagem qualitativa, interpretativa e hermenêutica. Além disso, sustentam que a psicanálise possui evidências clínicas, históricas e culturais, que demonstram a sua validade e a sua relevância.

Uma possível solução para esse impasse é reconhecer que a psicanálise não é uma ciência no sentido tradicional, mas sim uma forma de conhecimento que se situa na fronteira entre a ciência e a arte, entre o natural e o humano, entre o objetivo e o subjetivo. Nessa perspectiva, a psicanálise não pretende ser uma verdade absoluta, mas sim uma hipótese plausível, que pode ser corroborada ou refutada por outras fontes de conhecimento. Assim, a psicanálise não se opõe à ciência, mas se complementa com ela, buscando uma compreensão mais ampla e integrada da saúde mental.

 

Daniel Lima, psicanalista.

www.psicanalisedaniellima.blogspot.com

daniellimagoncalves.pe@gmail.com

@daniellima.pe