A psicanálise e o desafio do mundo digital: compreendendo o excesso de uso das telas.
A compulsão por telas pode ser vista como um sintoma de questões mais profundas, que a psicanálise está equipada para desvendar.
Postado em 09/04/2024 2024 15:16 , Saúde. Atualizado em 09/04/2024 15:16
A psicanálise, com sua capacidade de sondar as profundezas da mente humana, oferece uma visão crítica sobre o uso excessivo de telas, um fenômeno cada vez mais prevalente na sociedade moderna. Freud, o pai da psicanálise, embora não tenha vivenciado a era digital, nos deixou ferramentas para entender os mecanismos de defesa que podem estar em jogo quando fugimos da realidade para o mundo virtual. A compulsão por telas pode ser vista como um sintoma de questões mais profundas, que a psicanálise está equipada para desvendar.
O uso excessivo das telas pode ser interpretado como uma manifestação de desejos inconscientes e conflitos internos. Como apontado por Carl Jung, o que resistimos persiste; portanto, a dependência tecnológica pode refletir uma resistência a enfrentar aspectos mais desafiadores da vida, levando a um ciclo de evitação e gratificação instantânea. A psicanálise oferece um espaço para refletir sobre o impacto das telas na formação da identidade, especialmente em jovens. A constante comparação com a vida online dos outros pode levar a uma distorção da autoimagem e autoestima, e a psicanálise ajuda a confrontar e reconciliar essas percepções com a realidade.
Além disso, a psicanálise pode ajudar a identificar os padrões de comportamento que levam ao uso excessivo das telas. Ao reconhecer esses padrões, é possível desenvolver estratégias para interrompê-los, promovendo um uso mais consciente e equilibrado da tecnologia. Como Melanie Klein poderia sugerir, é o medo do desconhecido e a ansiedade da separação que muitas vezes nos mantêm presos a comportamentos repetitivos e autodestrutivos, como o uso incessante de dispositivos digitais.
A terapia psicanalítica também pode ser valiosa para fortalecer a autonomia e a capacidade de encontrar satisfação em atividades fora do mundo digital. Isso é crucial para reduzir a dependência das telas e melhorar a saúde mental e emocional. Winnicott destacou a importância do brincar e da criatividade para o desenvolvimento do verdadeiro self; assim, a psicanálise encoraja a redescoberta de prazeres simples e a criatividade fora das telas.
A psicanálise enfatiza a importância de estabelecer limites saudáveis com o uso da tecnologia. Aprender a desconectar-se e a valorizar o tempo longe das telas é essencial para manter um equilíbrio entre a vida digital e a vida real, algo que a psicanálise pode facilitar. Bion, com sua teoria do pensamento, nos lembra que o excesso de estímulos pode inibir nossa capacidade de processar experiências de forma significativa, levando a um empobrecimento da vida mental.
Por fim, a psicanálise não só ajuda a compreender o impacto do uso excessivo das telas, mas também oferece ferramentas para lidar com ele. Ao promover a introspecção e a compreensão de si mesmo, ela capacita os indivíduos a retomarem o controle sobre suas vidas digitais e a buscarem um bem-estar mais autêntico e duradouro. Lacan diria que é através da fala que nos tornamos sujeitos de nosso próprio desejo, e é esse processo que a psicanálise facilita, ajudando-nos a articular uma relação mais saudável com a tecnologia.
Daniel Lima, psicanalista.
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