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Pernambuco, 09 de outubro de 2024

Agronegócios

Pernambuco e seus desafios

Uma iniciativa louvável

Postado em 13/06/2024 2024 17:12 , Agronegócios. Atualizado em 13/06/2024 17:14

Colunista

Antes de ontem, o CREA PE, sob a organização da Exatta, empresas locais e entidades parceiras promoveram uma reunião de trabalho no Senac de Serra Talhada, como parte de uma série de debates que vem sendo realizado diversas regiões do estado,  denominada Pernambuco em Desenvolvimento: elaborando ações para um Pernambuco mais próspero. Um evento que se tornou em uma noite de gala para o Pajeú, conforme tentarei colocar para vocês.

Há algum tempo temos insistido que há uma subavaliação por parte da elite pernambucana quanto ao papel do Agreste e do Sertão para o desenvolvimento estadual. A formulação de gestão pública tem um viés predominantemente metropolitano concentrando a grande parte de sua energia e capacidade de resposta. É compreensível uma vez que é a região onde estão grandes desafios e que décadas a seguir passou a ver seu papel sendo reduzido paulatinamente na vida econômica e política do país.

A escolha dos temas do debate foi criteriosa e mais criteriosa a escolha dos palestrantes. Contou-se com empresários, gestores, políticos e acadêmicos do mais elevado nível apresentando a situação atual quanto a saúde, a educação, a logística e a força do empreendedorismo regional.

A saúde na XI regional     

A XI GERES, gerência regional de Saúde, que tem seu principal polo o município de Serra Talhada, tendo como gestora Karla Millena  apresenta, avanços nítidos  no município, a exemplo de contar com uma escola de medicina da UPE, de um hospital de regional Eduardo Campos – HEC,  dezenas de clínicas e hospitais de qualidade elevada e com a disponibilidade para a população do interior com  quase todas as especialidades médicas. Mas apresenta  desafios que poderiam ter sido resolvidos desde algum tempo. Entre esses, salta aos olhos, o óbito neonatal da região e da cidade, estando entre uma das poucas cidades em que o índice tem crescido acima da média estadual.

Sua fala deixou claro de que a adequação do Hospital Agamenon Magalhães – Hospam em Maternidade Regional é algo a ser encarado em regime de urgência, uma vez que consta do plano estratégico do governo do estado de Pernambuco. A instalação do Hospital Eduardo Campos, no governo Paulo Câmara, dá à XI Geres a opção de abdicar de um dos mais antigos instrumentos de saúde de Pernambuco, o Hospam, e torná-lo o local de atendimento das gestantes e bebês para os dez municípios que compõem esta região de saúde pública.

A educação no Brasil e no mundo

A seguir, contamos com Raul Henry,  ex-deputado federal por três mandatos, ex-secretário estadual de educação e vice-governador de Pernambuco tratando sobre o panorama da educação no Brasil, tendo como destaque os baixos índices de aprendizado da juventude. Os números que demonstram a proficiência das crianças e adolescentes em disciplinas como a matemática e português são preocupantes. Decepcionantes até. Paradoxalmente os esforços que levaram à universalização do ensino infantil e o aumento dos investimentos em educação  acima do que se observa em outros países, não surtiram o efeito desejado no Brasil e na região Nordeste com algumas exceções louváveis.

Onde estaria nossa falha? Por que o aprendizado no Brasil não tem acompanhado os investimentos realizados? Por que nos testes realizados internacionalmente nossos jovens apresentam desempenho tão frágil? As respostas podem ser as mais díspares, entretanto uma situação há de ser posta de forma muito clara. Em poucas nações do mundo os pais se preocupam tão pouco com a formação de seus filhos quanto no Brasil. Na escola pública os temas que mais são destaques são o fardamento, o material escolar e a merenda. Nas escolas privadas, o fato de que os pais pagam mensalidades altas ou muito altas, afeta o ego de cada um fazendo crer que a questão educacional de seus meninos e meninas está resolvida. Esquecendo que a célula básica da formação da criança como uma pessoa sã, culta e atuante é o lar.

Não é isto o que se vê nos países que mudaram a face do desenvolvimento investindo na educação. Raul citou a Coréia do Sul, por exemplo. Há setenta anos o PIB – Produto Interno Bruto, daquele país era inferior ao brasileiro, hoje bem superior ao nosso. Todas as análises sobre o sucesso coreano apontam para o sucesso da revolução educacional e tecnológica aplicada. Não acompanhamos, esta é a verdade.

Outro aspecto muito bem posto pelo nosso conferencista foi a disparidade no ensino superior. Nele, de modo geral, as universidades públicas que oferecem a melhor educação são frequentadas pelos jovens de classe média e alta que tiveram a oportunidade de frequentar colégios particulares desde a infância. Cabe aos jovens de origem mais humilde, as escolas privadas, em grande parte com financiamento público. Neste quesito, a maioria dos estudos ainda não conseguiu detectar uma tendência recente, que é o valor da disseminação das universidades e instituições de ensino públicas, particularmente federais e estaduais, pelo vasto interior do país. Essas escolas, em sua maioria, são frequentadas por jovens pobres, e que não teriam como conquistar um diploma universitário caso a instituição não estivesse em seu município ou próximo dele.

O assunto tem sido recorrente nesta coluna. A oferta de cursos de todas as modalidades traz uma mudança estratégica no meio rural e em particular no Semiárido brasileiro. Ela é a última página do atlas imaginário de desenvolvimento, onde somam-se a energia elétrica, as energias renováveis, a logística, o abastecimento de água, a internet e políticas públicas que procuram erradicar a fome, o desenvolvimento se coloca à porta da região.

A mudança positiva no ambiente social, acadêmico, econômico da região é perceptível, o que nos faz repetir sempre que o desenvolvimento do semiárido pernambucano é uma nave que decolou e ainda não chegou a percepção de muitos, incluindo formuladores de políticas e líderes regionais.

Os dois outros temas, o papel da Transnordestina, abordado pelo professor Maurício Pina e o grande exemplo de empreendedorismo de Serra Talhada nas últimas décadas, o depoimento de Carlinhos da Tupã sobre sua visão de mundo e conquistas ficarão para a próxima semana. Abordagens relevantes para se compreender onde se pretende chegar. Parabéns, presidente Adriano, amigos Francisco Mourato, Tonico, conferencistas, público presente e todos responsáveis pela iniciativa.

1Professor Titular da UFRPE-UAST

Serra Talhada, 12 de junho de 2024.