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Pernambuco, 11 de janeiro de 2025

Política

“Oh, metade arrancada de mim”

No Brasil, conforme estimativas preliminares de 2023, essa dor foi sentida por pouco mais de 20 mil genitores que perderam prematuramente seus rebentos. Felizmente, dados oficiais revelam uma significativa redução na taxa de mortalidade infantil no país, passando de 25,5 por 1.000 nascidos vivos em 1996 para 12,6 em 2022, o que significa uma queda de 50%.

Postado em 26/06/2024 2024 17:15 , Política. Atualizado em 26/06/2024 14:40

 

Quando um filho perde o pai, torna-se órfão; quando uma esposa perde o marido, é chamada de viúva. Mas como denominamos os pais que perdem seus filhos? A dor indescritível e a culpa perpétua são alguns dos sentimentos que acompanham aqueles que enfrentam a angustiante experiência de enterrar a cria. Esse sentimento foi imortalizado na escultura Pietá, toda em mármore produzida na época da renascença por Michelangelo. Se trata de uma representação bíblica, a Virgem Maria segura no braço e aos prantos seu filho, Jesus Cristo, já sem vida.

No Brasil, conforme estimativas preliminares de 2023, essa dor foi sentida por pouco mais de 20 mil genitores que perderam prematuramente seus rebentos. Felizmente, dados oficiais revelam uma significativa redução na taxa de mortalidade infantil no país, passando de 25,5 por 1.000 nascidos vivos em 1996 para 12,6 em 2022, o que significa uma queda de 50%. Essas estatísticas colocam o Brasil próximo da meta 3.2 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que visa eliminar as mortes evitáveis de recém-nascidos e crianças menores de 5 anos. De acordo com a ONU, o foco é atingir uma taxa abaixo de 12 por 1.000 nascidos vivos para crianças de até 1 ano e 25 por 1.000 para crianças menores de 5 anos.

Em Pernambuco, a taxa de mortalidade infantil caiu de 15,25 por mil nascidos vivos em 2010 para 13,27 em 2022, representando uma redução de quase 13%. No entanto, chama a atenção a tendência de crescimento desse indicador desde 2020. Outra métrica importante para aferir a qualidade das condições de saúde de uma população é olhar para os óbitos que podem ser evitados com auxílio de programas de assistência a gestantes e recém-nascidos. No Estado, cerca de 7 a cada 10 mortes de crianças poderiam ser prevenidas com melhores políticas públicas. 

O Informe Mortalidade Infantil da Secretaria de Saúde de Pernambuco indica as principais causas de óbitos infantis evitáveis. Em 2020, durante a gestação, as afecções maternas como diabetes e hipertensão gestacional. No parto, além da hipóxia intrauterina e asfixia ao nascer, a síndrome de aspiração neonatal e a placenta prévia/descolamento aparecem com elevada frequencia. Na atenção ao recém-nascido, além das infecções no período neonatal, temos os transtornos respiratórios, cardiovasculares e endócrino-metabólicos transitórios, e do aparelho digestivo. Tudo isso pode ser evitado com a oferta de melhores serviços públicos para a população. 

No âmbito federal, a primeira fase do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na área da saúde visa a construção de 36 maternidades com centros de parto normal intra-hospitalares e leitos de cuidados intensivos para gestantes, puérperas e recém-nascidos. Com capacidade para mais de 500 mil atendimentos anuais, essa iniciativa beneficia diretamente 26,7 milhões de mulheres em idade fértil, representando cerca de R$ 5 bilhões em investimento. 

Foi Chico Buarque, na música Pedaço de Mim, quem disse que “a saudade é o revés de um parto. A saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu”. A eliminação da mortalidade infantil por causas evitáveis é um desafio que precisa ser enfrentado com urgência. A implementação de políticas públicas eficazes, o fortalecimento da assistência médica e o acesso universal a cuidados de saúde são fundamentais para que nenhuma família tenha que experimentar a inexplicável dor de perder um filho devido à ausência de serviços básicos de saúde.