Três Décadas de Real: O Desafio de Sustentar o Poder de Compra
A inflação acumulada de 708,01% em 30 anos não significa que a população ficou mais pobre na mesma proporção, pois o poder de compra é influenciado pelo crescimento econômico e pela reposição salarial.
Postado em 01/07/2024 2024 11:44 , Economia. Atualizado em 01/07/2024 12:28
Completando três décadas de existência, o real enfrenta o desafio de preservar seu poder de compra diante de um contexto de inflação global em expansão. Segundo Virene Matesco, professora de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), a elevação da inflação no período pós-pandemia de covid-19 pode ser facilmente justificada e é algo que afeta todo o mundo. Questões como interrupções das cadeias de produção, mudanças geopolíticas globais com conflitos regionais e os impactos das mudanças climáticas na oferta de alimentos estão entre os fatores que contribuem para esse cenário desafiador.
O economista principal da Way Investimentos e professor do Ibmec, Alexandre Espírito Santo, afirma que o cenário da inflação após o término da pandemia é extremamente complexo e representa um desafio para os Bancos Centrais ao redor do globo. Ele ressalta que houve uma perturbação na oferta, devido ao colapso das cadeias de produção em nível mundial, que ainda estão em processo de recuperação. Além disso, os bancos centrais realizaram uma grande injeção de dinheiro na economia global, e esse capital ainda está em circulação. Segundo ele, a inflação pós-pandemia possui múltiplas origens e é prevista para perdurar por bastante tempo.
Cada vez mais a mesma quantia compra menos. “Com R$ 100¨
A inflação acumulada de 708,01% em 30 anos não significa que a população ficou mais pobre na mesma proporção, pois o poder de compra é influenciado pelo crescimento econômico e pela reposição salarial. Em momentos de expansão econômica e queda do desemprego, os trabalhadores têm mais poder de negociação salarial, resultando em aumentos reais. Isso leva os preços a se estabelecerem em níveis mais altos.
Na prática, a reposição do poder de compra é influenciada pelo crescimento econômico. Em momentos de expansão da economia e de queda do desemprego, os trabalhadores têm mais poder para negociar reajustes salariais. Segundo o Dieese, 77% das negociações salariais resultaram em aumento real (acima da inflação) em 2023. Até maio deste ano, o percentual subiu para 85,2%. Com os reajustes acima da inflação, os preços se estabelecem num nível mais alto, sem a possibilidade de retornarem aos níveis anteriores.
Em 2024, a inflação começou o ano em desaceleração. O IPCA, que acumulava 4,51% nos 12 meses terminados em janeiro, caiu para 3,69% nos 12 meses terminados em abril. O índice, no entanto, acelerou para 3,93% nos 12 meses terminados em maio, por causa do impacto das enchentes no Rio Grande do Sul e da seca na região central do país. Para os próximos meses, a previsão é de novas altas, com alguns preços influenciados pela recente alta do dólar.
“A inflação depende de muitos fatores. No médio e no longo prazo, a economia se adapta às variações, inclusive à alta recente do câmbio que estamos experimentando. Existe a reposição dos salários e a interação do preço de um insumo com o restante da cadeia produtiva”, diz o economista Leandro Horie, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Com informações da Agência Brasil / e IA