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Pernambuco, 14 de julho de 2024

Coluna Psicanálise no Cotidiano

Abordagens psicanalíticas da depressão: as perspectivas de Freud e Winnicott

Winnicott, por outro lado, focou no desenvolvimento emocional e na importância do ambiente facilitador. Ele acreditava que a depressão muitas vezes se origina de falhas no ambiente primário, especialmente na relação mãe-bebê

Postado em 12/07/2024 2024 19:29 , Coluna Psicanálise no Cotidiano. Atualizado em 13/07/2024 01:11

A depressão é uma condição complexa que afeta profundamente a vida emocional e funcional das pessoas. No campo da psicanálise, Sigmund Freud e Donald Winnicott ofereceram importantes contribuições para a compreensão e o tratamento desse transtorno. Freud, com sua teoria do inconsciente e dos conflitos internos, e Winnicott, com seu foco no ambiente facilitador e no desenvolvimento emocional, fornecem uma base teórica rica para abordar a depressão de maneira abrangente e integradora.

Freud, em seu ensaio “Luto e Melancolia”, identificou a depressão como resultado de uma perda significativa e do luto não resolvido. Ele sugeriu que a melancolia ocorre quando o indivíduo internaliza a perda, voltando a agressividade contra si mesmo. Esse processo, inconsciente e profundo, resulta em sentimentos intensos de culpa, desvalorização e desespero. Freud via a depressão como uma manifestação do conflito entre o Eu e o Supereu, onde o Eu se sente esmagado pelas exigências e críticas internas.

Winnicott, por outro lado, focou no desenvolvimento emocional e na importância do ambiente facilitador. Ele acreditava que a depressão muitas vezes se origina de falhas no ambiente primário, especialmente na relação mãe-bebê. Segundo Winnicott, se a mãe (ou cuidador primário) não consegue fornecer um suporte emocional consistente e confiável, o bebê pode desenvolver um falso self, escondendo suas verdadeiras necessidades e emoções para se adaptar às expectativas externas. Esta desconexão com o self verdadeiro pode levar a sentimentos de vazio e depressão na vida adulta.

Para Winnicott, a criação de um ambiente seguro e acolhedor no processo analítico é crucial para tratar a depressão. Ele introduziu o conceito de “holding” ou sustentação, onde o psicanalista oferece um suporte emocional constante que permite ao paciente sentir-se seguro para explorar suas emoções mais profundas. Este ambiente seguro facilita a expressão e a integração de partes do self que foram reprimidas ou fragmentadas devido a experiências traumáticas ou deprivação emocional. A análise torna-se um espaço onde o paciente pode começar a reconectar-se com seu self verdadeiro e desenvolver um senso de integridade emocional.

Freud e Winnicott concordariam que a transferência e a contratransferência são elementos essenciais no tratamento da depressão. Freud enfatizou a importância da transferência como uma repetição das relações passadas, permitindo que os conflitos inconscientes sejam trabalhados na relação terapêutica. Winnicott, por sua vez, via a transferência como uma oportunidade para o paciente experimentar uma relação de cuidado e suporte que pode ter faltado em sua infância. Através da transferência positiva, o paciente pode reexperimentar e integrar vínculos afetivos saudáveis, facilitando a cura.

Na prática clínica, combinar as perspectivas de Freud e Winnicott oferece uma abordagem abrangente para o tratamento da depressão. O psicanalista deve ser capaz de explorar os conflitos internos e inconscientes do paciente, ao mesmo tempo em que fornece um ambiente seguro e acolhedor para a expressão emocional. Isso implica em uma escuta empática, uma presença constante e uma capacidade de conter e transformar as emoções intensas do paciente. Ao valorizar tanto o conteúdo inconsciente quanto as necessidades emocionais do paciente, o analista pode promover uma cura mais profunda e duradoura.

Portanto, a compreensão da depressão através das lentes de Freud e Winnicott revela a importância de abordar tanto os conflitos internos quanto as falhas no ambiente de suporte emocional. O processo psicanalítico deve ser um espaço onde o paciente se sinta seguro para explorar suas emoções mais profundas e integrar partes de si mesmo que foram reprimidas ou fragmentadas. Ao combinar a análise dos conflitos inconscientes com a criação de um ambiente psicoterapêutico acolhedor, é possível promover uma transformação genuína e uma vida emocional mais integrada e satisfatória.

 

Daniel Lima, teólogo, filósofo e psicanalista.

Psicanalista membro do Grupo Brasileiro de Pesquisas Sándor Ferenczi – GBPSF.

Pós-graduado em ciências humanas: sociologia, história e filosofia.

Pós-graduado em psicanálise e teoria analítica.

www.psicanalisedaniellima.blogspot.com

daniellimagoncalves.pe@gmail.com

@daniellima.pe