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Pernambuco, 27 de novembro de 2024

Agronegócios

Quem tem medo de música clássica?

A música como divisor de águas na civilização

Postado em 26/11/2024 2024 15:15 , Agronegócios. Atualizado em 26/11/2024 15:19

 

 

Vivi por alguns anos em Brasília, uma cidade que aprendi a admirar, admirar seus espaços, sua arquitetura e seu plano urbanístico. Parabéns aos arquitetos Niemeyer e  Lúcio Costa. Neste ambiente conheci um programa da TV Senado, apresentado pelo ex-senador do Rio de Janeiro, Arthur de Távola, intitulado Quem tem medo de música clássica?

Este homem culto, conhecedor profundo da história da música traduzia para o grande público o que era a música erudita, apresentava seus compositores, explicava o que era uma sinfonia, uma orquestra, seja ela sinfônica, de câmara, de jazz, o que seria um quarteto, os instrumentos e até como se comportar em um teatro. Ele foi uma pessoa distinta do que normalmente se espera de um político profissional. Para mim, o programa de domingo pela manhã ficou gravado em minha mente. Grandes lições que pude assistir até seu falecimento em 2008.

Anos depois tive a chance de conviver durante um semestre na cidade de Lincoln, em Nebrasca, Estados Unidos, quando me tornei um assíduo acompanhante da programação do Lied Center for Performing Arts, uma estrutura de apoio ao Colégio de Artes e devotada à apresentações de música e peças teatrais. A temporada que me proporcionou a Associação Fulbrigth foi um programa paralelo de cultura que tentei aproveitar ao máximo. Essas duas experiências além do que aprendi na vida me fez um daqueles que acredita que Deus se comunica com os homens em dois idiomas, a matemática e a música.

O que é uma orquestra?

No caso específico de uma orquestra sinfônica, um conjunto entre 50 e 100 músicos, com ao redor de 20 tipos diferentes de instrumentos de corda, madeira, metal e percussão procurando somar as notas de forma que se encontre uma harmonização perfeita e o melhor que poderia ser feito em se aproximar da voz humana. Saber a diferença entre um  trompete e um violino é até fácil, mas entre um fagote e um oboé já é um estágio diferente e isto era o que me deixava encantado. Tenho em viva memória a primeira apresentação que assisti do Chiara String Concert, aquela que me abriu o horizonte para participar de outras tantas. Este quarteto de cordas lamentavelmente se desfez em 2019 mas deixou um grande legado aos professores, estudantes e aos cidadãos de Nebraska.

Parabéns, IF Sertão e UFRPE-UAST

Como uma grata surpresa há cerca de dois meses a Professor Elisiane Alba, ex-diretora geral da UFRPE-UAST informou que no dia 28 de novembro de 2028 estaria programada uma apresentação da Orquestra Sinfônica do Instituto Federal do Sertão, de Petrolina, no auditório principal da escola. Primeiro se faz necessário enaltecer a visão, a coragem e os esforços da direção do IF Sertão em fundar uma orquestra sinfônica em 2019, tendo como principal base artística seus professores e alunos do curso de bacharelado em música. Nota 10.

Em seguida lembrar da bandeira levantada pelo amigo empresário de Serra Talhada, Simplício Pereira Lira, o Pio, que desde há dois anos vem batendo na tecla da necessidade de se construir em Serra Talhada, aproveitando a infraestrutura universitária, os talentos um programa permanente de música, teatro e letras tendo como base a UFRPE-UAST. Este pleito foi levado por ele, Francisco Mourato e Maurício Melo à Profa. Elisiane em um encontro em que estive presente.  Este movimento cultural conta com a participação do empresariado de Serra Talhada que prontamente abraçou a causa, financiando parte das despesas.

O que representa a cultura para um jovem estudante

E aí, o que tem a  ver um concerto que tem como base as músicas dos Beatles com o agronegócio regional. Primeiramente vamos recordar que esta banda composta por John Lennon, George Harrison, Ringo  Star e Paul MacCartney foi, para muitos, o mais importante grupo de música popular em todos os tempos. Redesenhou o rock, redescobriu caminhos nunca trilhados e, aproveitando-se de um momento de inquietação que passava a humanidade, nos anos sessenta do século passado, conquistou corações de milhões de jovens em todos os continentes. Seu impacto foi tanto que até hoje dificilmente há de se encontrar alguém que não goste de alguma música ou de toda a obra dos Beatles, tenha oitenta ou vinte anos.

Mas o que tem a ver a música com a formação de um jovem bacharel, engenheiro, médico, professor? Há um componente inalienável entre a qualidade humana dos indivíduos e a cultura. Quanto mais lido, mais dedicado, mais culto a jovem ou o jovem exercerá seu papel na sociedade de modo mais digno e construtivo.

Entenderá melhor o mundo que o rodeia, expressar-se-á com maior elegância, terá mente aberta para o presente e o futuro e cultivará valores como a leitura e a música, que nenhuma inteligência artificial pode substituir, mesmo com todas as vantagens que a IA oferece ao aprendizado.”.

A universidade por seu lado se irmana ao Instituto Federal e abre as portas para um concerto público, esperando que não apenas seus professores, técnicos e estudantes se façam presentes, mas que se possa contar com a presença da sociedade de Serra Talhada e do Sertão. Há quem diga que não se faz necessário ler. O fato é que o Brasil perde a cada ano milhões de leitores. Há lideranças que nunca leram um livro e debocham de quem o faz, mas não entrem nesta anedota. Aqueles que cultivam as artes sempre estarão mais aptos a contribuírem com seu povo e sua região, a começar por sua família. Falando em humanismo não deixem de ver o filme em cartaz “Ainda estamos aqui”. Fiquem atentos. A história não é uma farsa como tentam demonstrar.

 

                                                                

1Professor Titular da UFRPE-UAST