
Pompoarismo e Exercícios de Kegel: afinal, qual é a diferença?
Saiba como essas técnicas podem ajudar com as disfunções pélvicas, além de transformar a relação com o próprio corpo.
Postado em 06/04/2025 2025 16:58 , Saúde. Atualizado em 06/04/2025 17:05
Mestranda em Ciência e Tecnologia em Saúde
Pós-Graduada em Fisioterapia Pélvica
Atualmente, os termos “pompoarismo” e “exercícios de Kegel” vêm sendo bastante utilizados e circulam em rodas de conversa, redes sociais ou mesmo são questionados durante uma consulta de reabilitação uroginecológica. Embora essas expressões estejam relacionadas à musculatura do assoalho pélvico (MAP) – conjunto de músculos que sustentam os órgãos pélvicos como bexiga, útero e intestino, e que auxiliam na contenção urinária e fecal, além de desempenharem função sexual masculina e feminina –, esses dois termos não são sinônimos. Conhecer a diferença entre eles é fundamental para entender seus objetivos e benefícios.
Na década de 1940, o ginecologista americano Dr. Arnold Kegel desenvolveu uma série de exercícios voltados para a MAP, com a finalidade de reabilitar disfunções oriundas da região pélvica. Esses exercícios tinham como objetivo fortalecer a MAP de maneira clínica e funcional, para manter ou restaurar as funções de continência anorretal e uretral em pessoas com incontinência urinária – os famosos “escapes de xixi” –, sem, necessariamente, recorrer a procedimentos cirúrgicos ou medicamentosos.
Surgem, então, os exercícios de Kegel, que consistem em realizar contrações e relaxamentos da MAP, ou seja, um movimento como se estivesse tentando segurar o xixi ou as fezes, e depois soltar. Mas não se engane: mesmo parecendo algo simples, não é fácil de executar e exige um nível de consciência da MAP para realizá-los de forma isolada e adequada. Executá-los de qualquer forma pode desencadear disfunções e sintomas que comprometem a saúde dessa região.
Quando Kegel desenvolveu os exercícios, pelas limitações científicas da época, ele recomendava que os pacientes realizassem um número elevado de contrações (cerca de 300 por dia). No entanto, esse número não é mais adotado literalmente pela fisioterapia moderna, pois, com o avanço dos ensaios clínicos científicos na área, sabe-se que o excesso de repetições pode gerar fadiga e dificultar o tratamento, além da falta de individualização que hoje se reconhece como essencial.
As evidências científicas atuais mostram que a prescrição deve ser baseada na avaliação e nos aspectos funcionais de cada paciente, além de considerar relaxamento, coordenação e sinergia durante os exercícios.
Dessa forma, os exercícios de Kegel continuam sendo fundamentais e amplamente aplicados por fisioterapeutas na reabilitação de incontinência urinária e demais disfunções da MAP. No entanto, não existe uma quantidade padrão de repetições e séries para todos, pois a prescrição depende de fatores individuais. Por isso, o acompanhamento com um especialista é essencial para manter a saúde pélvica e evitar complicações por práticas incorretas.
Os exercícios de Kegel são indicados para:
Incontinência urinária ou fecal
Pós-parto e recuperação perineal
Durante e após a menopausa
Disfunções sexuais femininas e masculinas
Pós-cirurgias ginecológicas, urológicas ou coloproctológicas
São recomendados também para pessoas saudáveis, que desejam manter a MAP funcional ou prevenir problemas futuros. Em outras palavras, são indicados tanto para prevenção, quanto para manutenção e reabilitação das disfunções do assoalho pélvico.
Já o pompoarismo tem origem empírica, ou seja, é um conhecimento tradicional passado de geração em geração entre as mulheres do Oriente, com raízes na Índia. Tornou-se uma técnica popular em diversas culturas orientais, com foco no prazer sexual e na fertilidade.
Ao contrário dos exercícios de Kegel, que têm uma abordagem clínica e funcional comprovada cientificamente, o pompoarismo está mais relacionado ao autoconhecimento, à sensualidade, ao erotismo e ao empoderamento da mulher. É uma prática voltada ao público feminino, com o objetivo de intensificar o prazer sexual para si e para o parceiro.
As práticas de pompoarismo vão além das contrações e relaxamentos da MAP. Envolvem também respiração, uso de acessórios como as bolinhas de Ben-Wa, e movimentos pélvicos que estimulem prazer, ligados a um aspecto mais erótico. Acredita-se que, ao ser praticado corretamente, o pompoarismo pode aumentar a libido, favorecer a lubrificação vaginal, elevar a consciência corporal, melhorar a conexão com a região íntima e potencializar o prazer sexual.
Vale destacar que, embora o pompoarismo não tenha origem científica, muitos de seus princípios coincidem com o que a ciência moderna reconhece como fortalecimento do assoalho pélvico. Ainda assim, ele não substitui os exercícios de Kegel, especialmente em casos de disfunções pélvicas.
Assim como os exercícios de Kegel requerem orientação especializada, o mesmo vale para o pompoarismo. É comum encontrar pessoas que, após lerem algo na internet ou adquirirem cones vaginais ou bolinhas, tentam praticar sozinhas e acabam desenvolvendo quadros de dor vulvar, por exemplo. Por isso, a chave está em ter objetivos claros e buscar orientação segura com profissionais qualificados.
Kegel | Pompoarismo |
---|---|
Finalidade clínica e terapêutica | Finalidade erótica e sensorial |
Indicado para homens e mulheres | Mais popular entre as mulheres |
Trata incontinências | Não trata disfunções |
Trata disfunções pélvicas | Potencializa o prazer sexual |
Pode usar ou não acessórios | Frequentemente usa acessórios |
Recomendado por profissionais da saúde | Pode ter caráter mais autodidata |
Buscar ajuda apropriada é o melhor caminho antes de iniciar qualquer uma dessas práticas. Isso garante resultados reais e seguros, seja para tratar sintomas, melhorar a qualidade de vida ou potencializar a função sexual.
Sua saúde pélvica merece atenção – e pode ser uma grande aliada da sua autoestima e do seu prazer. Cuide de sua saúde íntima e, se possível, conte com um olhar profissional.
Fontes:
4.TORQUATO, Isabel Cristina; BRANDÃO, Marília Novaes. Pompoarismo e sexualidade feminina: um estudo sobre as contribuições dessa prática para o autoconhecimento corporal. Revista Interfaces da Saúde, São Paulo, v. 2, n. 6, p. 3–13, 2021.
Profª. Lays Anorina – Fisioterapeuta Pélvica
Mestranda em Ciência e Tecnologia em Saúde
Pós-Graduada em Fisioterapia Pélvica
IG: @laysanorina2
E-mail: laysanorina@gmail.com