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Pernambuco, 20 de maio de 2025

Agronegócios

O ensino superior continua atrativo?

O sonho de consumo para jovens e suas famílias

Postado em 17/04/2025 2025 17:51 , Agronegócios. Atualizado em 17/04/2025 18:07

Colunista

Somente quem conhece o Brasil profundo, aquele que constitui as regiões como o Semiárido, o Cerrado, a Amazônia e o Pantanal, sabe descrever o  sonho das famílias em terem seus filhos e filhas libertados do trabalho exaustivo e de baixa  remuneração no campo. Os mais sábios investiam para que as crianças tivessem acesso à escola e, como não podiam seguir com todos, elegiam aquele ou aquela que demonstrasse mais aptidão para avançar nos estudos. Seguiam então para Recife ou outras capitais do Nordeste, para, sob condições franciscanas, alcançarem a glória ao conquistar um diploma, principalmente em medicina, engenharia ou direito.

Novas profissões foram surgindo e fazendo parte dos sonhos. Mesmo assim, sair da roça e chegar ao portal de uma universidade pública era um fato raro e motivo de orgulho para os jovens e seus familiares. Volte-se ao tempo em que a admissão às escolas públicas se dava através do vestibular que normalmente ocorria na segunda quinzena de dezembro. Os principais jornais dos estados quando traziam o resultado do concurso eram disputados e se convertiam em relíquias. Todos queriam conservar a página em que foi publicado o nome dos que passaram. Ao retornarem às suas cidades e localidades, esses jovens desfilavam com as cabeças raspadas e as boinas azuis, verdes ou vinho indicando o curso que seguiriam. Muito tempo depois, as jovens passaram pelo ritual de rasparem uma das sobrancelhas. Coisas do passado.

Mudam-se os tempos, mudam-se os métodos

Ao se deparar com o mundo novo  da universidade, o jovem  entrava num cenário ficcional. Disciplinas das quais nunca havia ouvido falar, colegas de vários estados, cada um com seu sotaque próprio. Professores que impressionavam pelo conhecimento, domínio da matéria quase que exótica e muitas vezes com um jeito superior de se comportar que assustava aos calouros. A cada dia aprendia-se algo de novo, inclusive de como sobreviver a uma biblioteca com muitos leitores e poucos livros.

Nas áreas técnicas, o que se contava era com poucas cópias de livros disputadas entre dezenas de estudantes. O comércio de fotocópias era um próspero negócio quando não se deparava com algum “espírito de porco” que rasgava as páginas mais demandadas.

O fato é que as coisas mudaram e com o advento da internet na primeira metade da década de noventa o acesso à informação foi reconfigurado e, em um piscar de olhos, se passou a contar com as revistas, os livros, os relatórios, os cursos, as apostilas do mundo inteiro ao seu dispor. As mais importantes universidades do mundo construíram suas agendas de ensino à distância como uma forma de fidelizar seus egressos e atrair um público de profissionais que necessita de continuar aprendendo, mas sem o tempo suficiente para se dedicar exclusivamente a um curso de graduação ou pós-graduação formal.

A pandemia do Covid 19 trouxe uma outra situação de pressão, quando em 2020 por um longo período as atividades  presenciais foram evitadas ou proibidas. Não se sabia o que fazer da doença e enquanto isto acumulavam-se os óbitos até que as primeiras vacinas surgiram e a vida, lentamente foi retornando ao normal. As escolas particulares protagonizaram um movimento de adoção de novas tecnologias de formação sem precedentes. Ou se recriavam ou pereciam. As escolas públicas foram mais lentas e mesmo assim, apesar da insistência em parte do corpo docente em não admitir que se encontrava em um novo momento, tiveram que também se curvar perante o mundo da comunicação virtual e do novo modelo de comunicação e aprendizado.

Na realidade, o uso de lousas eletrônicas, bibliotecas virtuais, testes eletrônicos simulando as provas do Enem, plataformas de ensino totalmente dependentes da internet é mais comum em escolas e universidades privadas do que no sistema público de ensino. Uma incoerência levando-se em consideração o acervo humano disponível nos institutos e escolas estaduais e federais. Esta situação é um tanto bizarra quando se vê algumas instituições privadas contarem com um número de estudantes superior à congênere pública. Mas é o que tem sido visto.

As escolas chegaram. E aí?

Em várias situações se tem destacado a sabedoria por trás da democratização do ensino superior com a expansão geográfica das universidades, institutos e campi. A limitação do jovem do interior em cursar engenharia, economia, administração, agronomia foi reduzida substancialmente. É muito mais fácil o deslocamento para Serra Talhada, Souza ou Delmiro Gouveia do que Recife, João Pessoa e Maceió. Aparentemente uma difícil equação havia sido resolvida mas à medida que o tempo passa pode-se ver que a resolução foi parcial. O pós-pandemia não conseguiu atrair os jovens na mesma intensidade que antes. Ainda hoje o número de alunos que ingressam nas escolas públicas tem sido inferior às vagas ofertadas, o que é preocupante, exigindo dos dirigentes, professores e colaboradores um esforço extra em convencer à sociedade que vale a pena estudar e concluir um curso superior mesmo que nem sempre o aluno vá exercer a profissão para o qual foi preparado.

O esforço não deve ser apenas dos que estão no comando das instituições de ensino, mas também da sociedade  que é responsável por criar este ambiente de valorização e demanda por jovens mais qualificados. Sem que esta força seja posta em prática não há como convencer que estudar é salutar, importante e estratégico.

Educar é a melhor opção para uma sociedade

Contar com jovens preparados, cultos, confiantes é um preceito primário para se contar com uma sociedade próspera, elevada, criativa, empreendedora. Importante que fique claro também que a educação média e superior torna a chance de um jovem alcançar quase sempre um padrão de vida melhor. Com este movimento de elevação do espírito individual e coletivo uma civilização é construída. Estudar não é uma tarefa fácil. Convencer ao jovem que ele ou ela deve debruçar sobre o livro, o notebook, os equipamentos de laboratório, consultórios, pranchetas e o campo como se fosse um passatempo é o que todo professor gostaria de alcançar.

Independente de quão chato alguém considere estudar, é importante que se entenda a beleza que é a imersão sobre cenários nunca vistos, estruturas moleculares e fórmulas inimagináveis, autores exemplares. Aprender é um passatempo. É assim  que a educação deve ser encarada. Por falar em autores, ontem quatorze de abril de 2025, a humanidade perdeu um dos seus autores mais brilhantes, o peruano Mario Vargas Llosa. Em homenagem a tudo que ele escreveu de tão bonito rendemos homenagem à cultura e ao conhecimento.

Professor titular da UFRPE-UAST