
O Agreste meridional, o leite e o ovo
O que representa o leite em Pernambuco?
Postado em 01/05/2025 2025 12:20 , Agronegócios. Atualizado em 01/05/2025 12:22
Pernambuco conta com aproximadamente sessenta mil produtores de leite distribuídos em todo o estado, mas com uma concentração expressiva no Agreste Meridional, cujo principal município é a cidade de Garanhuns, representando ao redor de setenta e cinco por cento da produção total. Atualmente, o estado apresenta uma produção diária entre dois e dois milhões e quinhentos mil litros.
Outras duas regiões importantes são a Chapada do Araripe, destacando-se o município de Bodocó, e o Sertão do São Francisco com os planteis de Afrânio e Dormentes, incluindo aí uma reconhecida atividade de criação de ovinos para abate.
A produção estadual é predominantemente de pequenos produtores, oscilando entre cinquenta e duzentos litros ao dia, muito embora na região do Agreste a pecuária de leite se caracterize por produtividades que fazem dela um destaque regional.
Durante a semana passada, ocorreu no município de São Bento do Una a 24ª. Expoleite. Um evento liderado pela Proleite, a associação de produtores de leite de São Bento, destacando-se a pessoa de seu presidente, o empresário do setor de alimento animal e produtor de leite, Edenildo Gomes, que com sua equipe e patrocinadores realizaram mais um grande evento. Algo importante para manter a tradição, troca de informações, fortalecimento da rede de contatos e tornar público aquilo que existe de melhor em termos de máquinas, equipamentos e, em especial, as vacas e cabras especializadas na produção leiteira.
Durante o almoço do segundo dia do evento, ao qual estive presente, tive a oportunidade de conhecer o empresário José Almeida, cujas granjas são responsáveis pela produção de quatro milhões de ovos ao dia. O empresário é um dos mais destacados produtores de leite do estado de Pernambuco. O interessante é que seu exemplo nas duas atividades é visível e, ao que foi comentado, o município de São Bento do Una alberga granjas cuja produção diária está ao redor de sete milhões de ovos, o que o coloca entre os principais municípios produtores do país.
A contribuição do IPA.
Retornando à pecuária leiteira, por mais que o sistema de produção haja avançado. A inseminação artificial e a transferência de embriões se tornaram algo corriqueiro, mas é de pleno reconhecimento a contribuição do rebanho de gado holandês da Estação Experimental do IPA de São Bento do Una. Um trabalho que se estende ao longo dos últimos sessenta anos e dentre os fatos mais notáveis se destaca o melhoramento genético do plantel de Pernambuco e de Alagoas pela disponibilização de tourinhos e fêmeas leiloadas sistematicamente. O fato é que Pernambuco, e em destaque o Agreste Meridional, conta com uma pecuária de leite reconhecida em todo o país e os pilares de sua qualidade foram definidos por um projeto consistente e de longo prazo em reprodução animal, além da genética, um outro que merece um reconhecimento até superior que é o programa de pesquisa com a palma forrageira, este tendo a Estação Experimental de Arcoverde como unidade coordenadora, liderado pelo Engenheiro Agrônomo Djalma Cordeiro dos Santos, um filho de São Bento do Una.
Esta citação é um testemunho da contribuição que tem dado esta instituição para a agropecuária estadual e de todo o Nordeste. Aqui vale o registro, expresso em outras ocasiões, do tratamento negligenciado que as instituições estaduais de pesquisa e extensão rural sofreram ao longo de décadas. Não foram poucos os governantes que, imaginando que tecnologia é algo que se pode adquirir e transferir automaticamente, extinguiram ou levaram a um processo de sucateamento suas instituições técnicas. Este passo em falso é uma das razões para que no Nordeste o desempenho da pequena e média propriedade, que representa a agricultura familiar, não tenha em grande parte mostrado resultados compatíveis com o que se observa em outras regiões.
Apesar de tudo, a produção se sustenta.
O mais importante disto tudo é ver que a pecuária leiteira regional continua forte e se mantendo como a principal atividade da economia em bacias leiteiras em todos os estados nordestinos. Um exemplo desta saga foi a capacidade de resistência demonstrada durante o último ciclo de secas no Semiárido, entre os anos 2012 e 2018. Alguns estados, como o Ceará, não contaram com redução da produção em todo o período. Em outros, como Pernambuco, apesar do decréscimo acentuado da produção leiteira em 2012 e 2013, a partir de 2014 se testemunhou um processo de recuperação em que a produção de leite em 2018 foi equivalente ao último ano anterior à seca.
As razões foram várias, mas uma que merece destaque foi a universalização do cultivo da palma forrageira Orelha de Elefante Mexicana, resistente à cochonilha do carmim, atualmente o material preferido para a instalação de campos de palma em todo o Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste, além da procura por clones de palma desenvolvidos pelo IPA por instituições da região por vários países da África, Ásia e da América Latina, especialmente, que tem no México o centro de origem para a palma forrageira dos gêneros Opuntia e Nopalea, as mais cultivadas em todo o mundo.
Impasses e oportunidades.
Há uma grita geral quanto aos preços, seja do leite ou dos ovos, por outro lado, o consumidor está a cada dia mais preocupado com o valor final do ovo e do leite. Importante que se entenda que o produtor não é o vilão dessa narrativa. As margens de lucro na produção desses alimentos são mínimas, estando um litro sendo recebido pelos laticínios por valores que oscilam entre R$ 2,35 e R$ 2,60, a depender da qualidade, quantidade e confiabilidade na entrega. Fazendas que oscilam a produção mais do que o esperado devido à sazonalidade perdem a fidelização e a oportunidade de melhores negócios. Em se tratando de leite, de ovos ou qualquer produto.
Quanto às oportunidades, é importante destacar que em breve Pernambuco deve ser um estado exportador de ovos e carne de frango. As mudanças na política de mercado de alimentos sofreram uma ruptura nos últimos meses devido às tomadas de decisão do governo americano e dificilmente voltarão ao que se considerava normal. A guerra comercial estabelecida tem causado danos profundos entre produtores de vários países, destacando-se os Estados Unidos, mas, por incrível que pareça, beneficia o agronegócio nacional. A demanda por produtos proteicos, cereais e outras commodities tende a aumentar e a quebra de confiança dos países consumidores com alguns fornecedores tem forçado a busca por novas parcerias. Se o Brasil continuar sendo um parceiro confiável, as portas continuarão abertas para ele.
É neste contexto que a cadeia produtiva da avicultura pernambucana tende a se beneficiar da instabilidade gerada, inserindo-se no mercado internacional de alimentos. Em se tornando real esta hipótese, dificilmente ela deixará de ser um sócio efetivo deste clube. Foi o que ocorreu com a participação brasileira no comércio mundial de carne bovina após as ocorrências de animais com a síndrome da vaca louca nos Estados Unidos e Reino Unido, prevendo-se o mesmo movimento com o ovo e o frango. É só conferir.