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Pernambuco, 29 de março de 2024

Cultura

Má, canção da recifense Camila Ribeiro, retrata os amores nos meios digitais

Single do álbum Ventre, lançado em dezembro de 2019, fala de um amor que nasceu na internet, mas não evoluiu para o mundo físico

Postado em 11/08/2020 2020 08:18 , Cultura, Últimas Notícias. Atualizado em 11/08/2020 16:20

Camila Ribeiro, cantora e musicista, aborda temas atuais e mistura influências na sua música – Foto: (Ascom Camila Ribeiro)

 

“Que má, mas que menina má! Que má, ela não sabe amar…” esses versos expressam o desabafo de uma parte rejeitada em um relacionamento que dava os seus primeiros passos pela internet. O trecho, parte da canção Má, primeiro single do álbum Ventre, composto e interpretado pela cantora recifense, Camila Ribeiro, foi lançado em dezembro de 2019. A faixa tem a participação especial da compositora e cantora carioca Monique Kessous. A canção, que trata de um amor virtual não correspondido, suscita uma pergunta: será que o meio digital potencializa as chances das relações afetivo-sexuais não darem certo? Hoje, mais do que nunca, esta questão é necessária, considerando que, ao longo desta pandemia, a empresa Kantar registrou, por exemplo, um aumento de 76% no uso do Whattsapp, alavancado pelo isolamento social.

“Essa canção faz parte do meu álbum Ventre, que foi lançado no final do ano passado, ou seja, pouco antes da pandemia, quando já havia um uso intenso das redes sociais e que, agora, ficou ainda mais forte. Ela trata de um amor não correspondido que começou na internet, mas não evoluiu para o mundo físico por não haver interesse de uma das partes. Eu resolvi contar esta história por que eu pensei que assim como eu, muitas outras pessoas poderiam estar sofrendo as transformações promovidas pela tecnologia”, explica Camila.

Camila Ribeiro ao lado da cantora e compositora Monique Kessous, parceira na canção Má – Foto:(Ascom Camila Ribeiro)

O fato de haver uma tela mediando as relações, às vezes, pode levar as pessoas a omitirem os seus sentimentos e outras informações ao seu respeito. Ainda assim, tornou-se bastante comum se relacionar por meio de aplicativos e outros dispositivos online, como relata Adriana Nunan e Marília Amélia Penido, autoras da obra Relacionamentos Amorosos na Era Digital. O que começou, aos poucos, com o Orkut, passou pelo Facebook, hoje conta com o Tinder, Par Perfeito e mais uma infinidade de aplicativos.

Será que há uma receita para que as relações virtuais superem a tela e sigam para o meio físico? Uma possível resposta para essa questão pode ser encontrada em outros versos de Má. “Eu sempre escutei falar: amar não é pra qualquer um. Reconhecer a sensação é coisa singular. Precisa desembaraçar, tocar no ponto do assunto, mirar no alvo a intuição para não desperdiçar”, avalia Camila na canção. Má promove uma reflexão a respeito das relações afetivo-sexuais no mundo digital de uma forma poética e embalada, misturando influências musicais como tango argentino, fado português e xote nordestino. A canção reflete ainda aquelas relações que já existiam no mundo físico, mas que esfriaram e até mesmo chegaram ao fim durante a pandemia, devido ao isolamento social. Ou seja as videochamadas, trocas de mensagens de texto e de áudio, não deram conta da necessidade de contato físico, da interação interpessoal, da troca de carinhos.

Falar de temas atuais por meio da música é o terreno de Camila Ribeiro. A artista iniciou-se na música, aos 13 anos, aprendendo a tocar Violão de 7 Cordas, Guitarra e Bandolim com grandes nomes pernambucanos e sempre alinhada com as raízes culturais, os seus ancestrais e os temas atuais. O seu último trabalho, Ventre, inspira reflexões sobre o parto humanizado, a importância de marcar a vinda ao mundo, bem como a experiência da maternidade de forma festiva, especial, outro tema importante para se discutir, especialmente neste Agosto Dourado, mês de incentivo ao aleitamento materno, prática diretamente ligada ao parto humanizado.

“Além desta canção, o álbum Ventre apresenta o meu primeiro single Ajaí no Baque, gravado em parceria com Davi Moraes, filho do saudoso Moraes Moreira, um dos membros dos Novos Baianos, que nos deixou recentemente. Davi é uma das minhas referências como artista, além de ser o meu ídolo da adolescência. Essa música celebra o ritmo, a cultura e o swing negros. Nos meus álbuns, canções como Ode a Odé, Aspirante, Ciranda sobre o Tempo e Brincando na Bahia também convidam o público a refletir sobre questões atuais, seja com letras temáticas, seja pelos arranjos e melodias”, considera a multiartista.

 

A música e a arte de Camila Ribeiro

Aos 19 anos, Camila Ribeiro iniciou uma plena jornada tocando profissionalmente em Orquestras de Frevo, a exemplo da Orquestra da Maestrina Lourdinha Nóbrega e do Maracatu Nação Pernambuco. Venceu o Prêmio Nacional Bolsa Funarte de Fomento aos artistas e Produtores Negros/2015, conquistando a maior nota do país pela co-criação e direção musical do espetáculo “Minha Pequena África”. Ao longo de seis anos, atuou no projeto Cordelândia, que combinava literatura de cordel com música folclórica. Em 2017, lança o seu primeiro disco solo Brincado na Bahia, balizada por cantores e músicos que inspiraram a sua carreira, a exemplo de Davi Moraes, um dos mais respeitados nomes da música Afropop baiana. No fim deste mesmo ano, Camila presenteou o público com o ousado Baile Frevo Roots, projeto composto por shows que promovem uma simbiose de clássicos do frevo, obras de compositores brasileiros que flertam com o ritmo e até mesmo frevos autorais, com outras espécies musicais do mundo. Ouça Má e as demais canções do álbum Ventre, neste link.