A Caatinga um verdadeiro caleidoscópio de oportunidades
Caatinga celebra seu Dia Nacional hoje, mas com um olhar no futuro nesse caleidoscópio de agronegócios nas suas áreas banhadas pelos rios e pelas terras de sequeiro dependentes das chuvas com o imenso potencial mineral e de colheita da energia solar. Quais as conquistas, desafios e oportunidades dessa região que tem driblado os desafios da falta de água e se destaca em atividades econômicas, como na fruticultura, para se desenvolver economicamente.
Postado em 28/04/2021 2021 17:56 , Agronegócios. Atualizado em 28/04/2021 18:02
Para a Secretária Executiva do Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Caatinga, Ana Rubia Torres de Carvalho, que desde 2014 atua com Economia Circular como Consultora Associada Exchange4Change Brasil para o Nordeste, há muito o que se comemorar nesta data. “A menina dos meus olhos é a fruticultura irrigada. Ver o Sertão pernambucano produzindo duas safras e meia de uvas por ano e vinhos e espumantes de qualidade 365 dias por ano, nos enche de orgulho.
A Caatinga da economia circular, da bioeconomia
Segundo Ana Rubia, as Caatingas são muitas e diversas. “Não sou uma otimista ingênua, que não enxerga a Caatinga do sequeiro onde o agricultor sofre, nos anos de estiagem sem milho nem feijão para sua subsistência”, reconhece Ana Rúbia. Contudo, ela destaca a Caatinga da fruticultura, que com duas safras e meia de uvas por ano, produz vinhos e espumantes de qualidade todo santo dia, como orgulho diário. “O Brasil é o segundo produtor mundial de manga e é da Caatinga essa liderança mundial. Nossos melões, mamões, mangas e uvas adoçam o paladar dos gringos mundo afora”, enfatiza, lembrando outra grande atividade econômica forte da região – a caprinocultura. “Somos a Caatinga da caprinocultura da Taperoá de Suassuna, de onde saem nossos tradicionais queijos finos, para mim, até melhores que os tais finos”, lembra Ana Rubia.
Ela também destaca o potencial da Caatinga da gipsita, do Araripe, que provê 97% do gesso que abastece o setor da construção civil nacional, com alto teor de pureza e qualidade.
Outro grande potencial da região, para a especialista, é a exploração da energia solar. Como exemplo, ela cita a maior planta de geração solar da América Latina, instalada no sertão do Piauí. “Nosso maior desafio é transformar o crescimento em desenvolvimento. Nossa missão precisa ser distribuir a riqueza gerada de forma mais justa, diminuindo a desigualdade na região”, explica Ana Rúbia.
Caatinga, um caleidoscópio de oportunidades
Segundo Geraldo Eugenio, o bioma Caatinga é por si só um caleidoscópio de solos, climas e vegetações e atividades econômicas. Do ponto de vista geográfico, o Sertão do Pajeú não é a mesma da Chapado do Araripe ou do Sertão do Moxotó. “Durante muito tempo achava-se que não tinha muita oportunidade na Caatinga, até que começou a se explorar os cursos naturais das áreas irrigadas e verificou que havendo água se plantava quase tudo”, destaca o engenheiro agrônomo e pesquisador Instituto Agronômico de Pernambuco, Geraldo Eugênio, ao reconhecer que a fruticultura foi um verdadeiro divisor de águas quando se fala em Caatinga.
Desafios e Oportunidades
Geraldo Eugênio lembra, contudo, que nem toda água da Caatinga vem de rios. Pelo contrário, a grande maioria da sua extensão depende exclusivamente da água da chuva. Por isso, ele enfatiza que há que se encontrar uma forma de conviver com situações extremamente díspares entre o vale dos rios e o planalto seco. “A interação entre esses cenários geográficos é fundamental e a oferta de tecnologias modernas não deve se prender apenas a agricultura irrigada”, argumenta o engenheiro.
De acordo com ele, a agricultura de precisão também é previsão climática, com plantas e animais adaptados à estresses hídricos e altas temperaturas e agregação de valor, através de mercados futuros e negociações online dos produtos do Sertão. “Assim se deve ver a vida econômica do Bioma Caatinga e notando que esta visão será a maneira mais eficaz de preservamos a riqueza biológica, o patrimônio genético e nossas paisagens”, pondera.
Ele explica que para que o desenvolvimento ocorra de forma coerente com a realidade do sertanejo, é necessário que haja um olhar atento e políticas públicas eficazes de promoção de gestão dos recursos naturais. “Estamos tratando de uma região onde o principal obstáculo à produção empresarial é a água. Então, saber gerir, como guardar para usar de forma racional, além de tratar essa água é essencial”, reforça.
Ana Rubia destaca que para que o desenvolvimento da região aconteça de forma eficaz, é necessário investimento básico em áreas chaves. “É necessário uma educação fundamental universal e de qualidade, investimentos públicos e privados em infraestrutura. Pois, hoje, a região ainda apresenta um baixo índice de escolaridade com uma infraestrutura de transportes ainda deficiente”, afirma.
Potenciais e oportunidades de agronegócios
Sem pestanejar, Ana Rúbia afirma que o maior potencial para o desenvolvimento econômico da região da Caatinga é, sem dúvidas, a energia solar. “A maior usina solar da América Latina está no sertão do Piauí. Parceria público-privada. Então, posso afirmar que o nosso maior potencial para desenvolver a nossa região é sim, o sol”. Segundo ela, a geração desse tipo de energia tem baixo custo com a evolução da tecnologia, contudo, há um grande desafio de transformar esse crescimento em desenvolvimento de fato. “Nossa missão precisa ser distribuir a riqueza gerada de forma mais justa, diminuindo a desigualdade na região”, afirma a especialista.
Já para Geraldo Eugênio, a Caatinga é uma fonte praticamente inesgotável do ponto de vista biológico de microrganismos e animais que podem ser utilizados na produção de fármacos, cosméticos e de uma vasta produção industrial que pode se tornar um grande negócio. “Quem conhece a Caatinga sabe dos aromas inconfundíveis que há na região, algo que merece ser muito explorado ainda”, diz o engenheiro.
Outra possibilidade, de acordo com ele, ainda pouco ou quase não explorada, é o potencial turístico do local. “Nossa, há histórias fantásticas por toda a região de personagens reais que fizeram parte da construção da nossa história e cultura. Nomes como Graciliano Ramos, Lampião e Maria Bonita, Luiz Gonzaga, Antônio Conselheiro. Não se trata de uma atividade ligada ao agronegócio, mas de uma que atrai renda, visitantes, demanda mão de obra e faz a economia girar”, argumenta o engenheiro agrônomo.