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Pernambuco, 11 de dezembro de 2024

Agronegócios

A Caatinga um verdadeiro caleidoscópio de oportunidades

Caatinga celebra seu Dia Nacional hoje, mas com um olhar no futuro nesse caleidoscópio de agronegócios nas suas áreas banhadas pelos rios e pelas terras de sequeiro dependentes das chuvas com o imenso potencial mineral e de colheita da energia solar. Quais as conquistas, desafios e oportunidades dessa região que tem driblado os desafios da falta de água e se destaca em atividades econômicas, como na fruticultura, para se desenvolver economicamente.

Postado em 28/04/2021 2021 17:56 , Agronegócios. Atualizado em 28/04/2021 18:02

Jornalista ,

Foto: Reprodução

Hoje, dia 28, é marcado pelo Dia Nacional da Caatinga, uma região que apesar de ser muito lembrada pela seca, tem se tornado destaque em vários segmentos da economia do Nordeste, em especial, pelo grande potencial da fruticultura. Mas ainda há grandes desafios e oportunidades para tornar esse enorme bioma, que estima-se ter quase 1 milhão de hectares de extensão, prosperar para além dessa atividade que se tornou peça-central da economia da região.

Para a Secretária Executiva do Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Caatinga, Ana Rubia Torres de Carvalho, que desde 2014 atua com Economia Circular como Consultora Associada Exchange4Change Brasil para o Nordeste, há muito o que se comemorar nesta data. “A menina dos meus olhos é a fruticultura irrigada. Ver o Sertão pernambucano produzindo duas safras e meia de uvas por ano e vinhos e espumantes de qualidade 365 dias por ano, nos enche de orgulho.

 

A Caatinga da economia circular, da bioeconomia

Segundo Ana Rubia, as Caatingas são muitas e diversas. “Não sou uma otimista ingênua, que não enxerga a Caatinga do sequeiro onde o agricultor sofre, nos anos de estiagem sem milho nem feijão para sua subsistência”, reconhece Ana Rúbia. Contudo, ela destaca a Caatinga da fruticultura, que com duas safras e meia de uvas por ano, produz vinhos e espumantes de qualidade todo santo dia, como orgulho diário. “O Brasil é o segundo produtor mundial de manga e é da Caatinga essa liderança mundial. Nossos melões, mamões, mangas e uvas adoçam o paladar dos gringos mundo afora”, enfatiza, lembrando outra grande atividade econômica forte da região – a caprinocultura. “Somos a Caatinga da caprinocultura da Taperoá de Suassuna, de onde saem nossos tradicionais queijos finos,  para mim, até melhores que os tais finos”, lembra Ana Rubia. 

Ela também destaca o potencial da Caatinga da gipsita, do Araripe, que provê 97% do gesso que abastece o setor da construção civil nacional, com alto teor de pureza e qualidade. 

Ana Rubia, Secretária Executiva do Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Caatinga acima.

Outro grande potencial da região, para a especialista, é a exploração da energia solar. Como exemplo, ela cita a maior planta de geração solar da América Latina, instalada no sertão do Piauí. “Nosso maior desafio é transformar o crescimento em desenvolvimento. Nossa missão precisa ser distribuir a riqueza gerada de forma mais justa, diminuindo a desigualdade na região”, explica Ana Rúbia.

 

Caatinga, um caleidoscópio de oportunidades 

Segundo Geraldo Eugenio, o bioma Caatinga é por si só um caleidoscópio de solos, climas e vegetações e atividades econômicas. Do ponto de vista geográfico, o Sertão do Pajeú não é a mesma da Chapado do Araripe ou do Sertão do Moxotó.  “Durante muito tempo achava-se que não tinha muita oportunidade na Caatinga, até que começou a se explorar os cursos naturais das áreas irrigadas e verificou que havendo água se plantava quase tudo”, destaca o engenheiro agrônomo e pesquisador Instituto Agronômico de Pernambuco, Geraldo Eugênio, ao reconhecer que a fruticultura foi um verdadeiro divisor de águas quando se fala em Caatinga.

 

Desafios e Oportunidades 

Geraldo Eugênio lembra, contudo, que nem toda água da Caatinga vem de rios. Pelo contrário, a grande maioria da sua extensão depende exclusivamente da água da chuva. Por isso, ele enfatiza que há que se encontrar uma forma de conviver com situações extremamente díspares entre o vale dos rios e o planalto seco. “A interação entre esses cenários geográficos é fundamental e a oferta de tecnologias modernas não deve se prender apenas a agricultura irrigada”, argumenta o engenheiro.

Geraldo Eugênio Eng. Agrônomo e pesquisador do IPA

De acordo com ele, a agricultura de precisão também é previsão climática, com plantas e animais adaptados à estresses hídricos e altas temperaturas e agregação de valor, através de mercados futuros e negociações online dos produtos do Sertão. “Assim se deve ver a vida econômica do Bioma Caatinga e notando que esta visão será a maneira mais eficaz de preservamos a riqueza biológica, o patrimônio genético e nossas paisagens”, pondera. 

Ele explica que para que o desenvolvimento ocorra de forma coerente com a realidade do sertanejo, é necessário que haja um olhar atento e políticas públicas eficazes de promoção de gestão dos recursos naturais. “Estamos tratando de uma região onde o principal obstáculo à produção empresarial é a água. Então, saber gerir, como guardar para usar de forma racional, além de tratar essa água é essencial”, reforça.

Ana Rubia destaca que para que o desenvolvimento da região aconteça de forma eficaz, é necessário investimento básico em áreas chaves. “É necessário uma educação fundamental universal e de qualidade, investimentos públicos e privados em infraestrutura. Pois, hoje, a região ainda apresenta um baixo índice de escolaridade com uma infraestrutura de transportes ainda deficiente”, afirma. 

 

Potenciais e oportunidades de agronegócios 

Sem pestanejar, Ana Rúbia afirma que o maior potencial para o desenvolvimento econômico da região da Caatinga é, sem dúvidas, a energia solar. “A maior usina solar da América Latina está no sertão do Piauí. Parceria público-privada. Então, posso afirmar que o nosso maior potencial para desenvolver a nossa região é sim, o sol”. Segundo ela, a geração desse tipo de energia tem baixo custo com a evolução da tecnologia, contudo, há um grande desafio de transformar esse crescimento em desenvolvimento de fato. “Nossa missão precisa ser distribuir a riqueza gerada de forma mais justa, diminuindo a desigualdade na região”, afirma a especialista. 

Foto: Reprodução

Já para Geraldo Eugênio, a Caatinga é uma fonte praticamente inesgotável do ponto de vista biológico de microrganismos e animais que podem ser utilizados na produção de fármacos, cosméticos e de uma vasta produção industrial que pode se tornar um grande negócio. “Quem conhece a Caatinga sabe dos aromas inconfundíveis que há na região, algo que merece ser muito explorado ainda”, diz o engenheiro. 

Vinícola Terranova oferece tour guiado com direito a degustação. Foto: Márcio Diniz/Catraca Livre

Outra possibilidade, de acordo com ele, ainda pouco ou quase não explorada, é o potencial turístico do local. “Nossa, há histórias fantásticas por toda a região de personagens reais que fizeram parte da construção da nossa história e cultura. Nomes como Graciliano Ramos, Lampião e Maria Bonita, Luiz Gonzaga, Antônio Conselheiro. Não se trata de uma atividade ligada ao agronegócio, mas de uma que atrai renda, visitantes, demanda mão de obra e faz a economia girar”, argumenta o engenheiro agrônomo.