Educação e Tecnologia: Um Novo Olhar Para Uma Nova Realidade Por Diedson Alves
Passamos a viver um momento de crise e num contexto de crise a filosofia se estabelece, ficamos mais sensíveis, nos interrogamos mais e buscamos respostas até então passadas despercebidas.
Postado em 13/07/2021 2021 12:40 , Educação. Atualizado em 19/07/2021 17:53
Jamais imaginei passar por uma crise pandêmica como a atual, mesmo sendo professor de história e ter analisado infinitos momentos parecidos, foi uma verdade bomba especificamente na sala de aula.
Segundo Leandro Karnal – “Três fatores aceleram a história: guerra, revolução e epidemia. O primeiro fator de uma epidemia, guerra ou revolução é acelerar processos que já estavam em curso. Essa é uma mudança irreversível”.
Diante de um momento de tamanha convulsão, com uma sociedade fragilizada, vulnerável, uma enorme parcela desta população acometeu-se da, popularmente conhecida como peste negra, que acelerou o enfraquecimento do sistema feudal, no que tange o aspecto econômico, politico, social e religioso. E trouxe à tona o renascimento, que tem como esteio um modelo de homem, humanista, racionalista, individualista, competitivo e que busca na ciência reduzir as incertezas e ampliar as certezas. Acelera-se a crença no progresso humano, projeta-se um ser mais confiante em suas forças e possibilidades.
Revolução Francesa
Foi assim na Revolução Francesa, marco histórico do mundo contemporâneo. As mudanças propostas pela Revolução Francesa já vinham sendo trabalhadas na Europa, no entanto, a sua culminância potencializou, ecoou para o mundo como forma de organização da sociedade, a universalização do poder, a criação de instituições, que garantissem o exercício da pluralidade, a universalização de princípios fundamentais.
E mais recente, no século XX, dois grandes conflitos mundiais prolongados com a Guerra Fria contribuíram velozmente para o egresso da mulher no mercado de trabalho e o fortalecimento científico e tecnológico: o avanço da medicina, desenvolvimento de antibióticos, aperfeiçoamento da comunicação, do transporte, ou seja, mudanças drásticas que impactaram no cotidiano civil.
Nesse momento, você leitor faz a seguinte pergunta: E os impactos provocados pela COVID 19? O que mudou? Como será o mundo pós-pandemia? Vou me atentar ao ambiente educacional usando como bússola o passado histórico como bem disse, E.Galeano: “A história é um profeta com o olhar voltado para trás: pelo que foi, e contra o que foi, anuncia o que será”.
Ficou evidente o impacto social provocado pela pandemia
Fomos colocados em um “laboratório” e testados, de forma individual e incessante, ficando expostas nossas fragilidades e fortalezas.
Problemas sociais como desigualdade, baixo investimento tecnológico, de infraestrutura, escassez de políticas públicas mais consistentes de acesso ao conhecimento, enfim, como um fio que não aguenta a potência de energia derrete sua capa ficando exposta e a mercê de um curto circuito.
Os mecanismos tecnológicos invadiram a esfera educacional, reflexo em toda a sociedade, uma vez que a escola é um recorte do contexto em que vivemos. Fomos de forma geral pegos de surpresa, não imaginávamos tão cedo ter que dar aula sem o espaço físico, usar o aparelho celular para fins didáticos pedagógicos, monitorar tudo da própria casa. Postando vídeos, salvando links, deixando claro, de forma geral, nossas deficiências tecnológicas.
Aqueles planejamentos prontos, o físico livro didático, o quadro, o pincel, o olhar no olho, o deslocamento até a escola tudo isso passou por um processo de atualização, um download da própria história do docente. Vejo no olhar e nos depoimentos de muitos profissionais, sobretudo da educação, um saudosismo das aulas presenciais tradicionais, a vontade de que tudo isso passe para voltar a ser como era antes.
Isso me faz lembrar um movimento no século XIX chamado luddismo, onde trabalhadores ingleses com o surgimento das máquinas (Revolução Industrial) alterou todo o contexto laboral, levando os operários à quebra de máquinas, como forma de protesto. Tendo como exigência, algo impossível, o retorno às antigas rotinas de trabalho.
Ao mesmo tempo com o protagonismo das máquinas passou-se a trabalhar mais, a dedicar-se mais tempo direto e indiretamente ao trabalho. Ouço constantes comentários em relação ao home office – onde não existe mais um tempo específico, uma jornada de trabalho específica. Não se leva trabalho para casa, o trabalho está em casa.
As pessoas mostram-se mais cansadas, mais estressadas com menos paciência e visivelmente todos os momentos do tempo acompanhados de um celular resolvendo questões relacionadas principalmente ao ambiente de trabalho.
A isso cabe uma reflexão a partir da obra sociedade do cansaço de Byung-Chul Han, em que o filósofo aborda um cenário tenebroso da valorização de indivíduos cada vez mais inquietos e hiperativos que se arrastam no cotidiano produtivo realizando múltiplas tarefas.
A humanidade, até então, não se redimiu de crises, pandemias, revoluções, guerras. Continuamos a repetir os mesmos equívocos.
O mundo tem a oportunidade de escrever uma nova história, dar uma guinada, um outro sentido a sua real existência.
Fazer desse apogeu tecnológico nosso grande e fiel aliado, como aperfeiçoamento de práticas pedagógicas em busca de uma aprendizagem mais significativa. Continuar estreitando espaços físicos, ter acesso às infinitas obras e olhares sem sair de casa, aproximar as gerações numa troca de experiência e novas ferramentas.
Ademais, fazer ecoar a ética, a tolerância além dos muros, otimizar tempo e sobretudo buscar o equilíbrio entre vida profissional e pessoal a ponto de não perder o olhar contemplativo de coisas simples, mas que a pandemia nos mostrou essências, que estão bem próximas, na nossa casa e tinha passado despercebido, pois se chegamos até aqui é porque pudemos contar com aquilo que é caseiro, singelo, gratuito e essencial para nossa vivência.
Quem é Diedson Alves: Mestre em Ciência da Educação pela UDE – Universidade de La Empresa em
Montevideu URU (2012), convalidado pela UTP – Universidade de Tuiuti do
Paraná; Graduado em Licenciatura Plena em História pela UPE – Universidade
de Pernambuco (2001) – Especialista em Psicopedagogia pela FACINTER –
Faculdade Internacional de Curitiba (2002) e Ensino de Sociologia pela UCAM –
Universidade Cândido Mendes- RJ (2019). Docente em História pelo IF-Sertão
Pernambucano (Campus Petrolina) e da Rede Particular de Ensino da Região do
Vale do São Francisco. Palestrante por meio do projeto DIÁRIO DE UM
PROFESSOR – UM ESTALO DE RAZÃO .
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