Nós Temos Asas Por Luiz Thadeu
Na última terça feira, 24/08, foram abertas em Tóquio, as Paralimpiadas; vamos assistir a exibição dos super-heróis.
Postado em 28/08/2021 2021 08:03 , Esportes. Atualizado em 28/08/2021 09:13
A Paralimpíadas é um evento esportivo realizado a cada quatro anos, para atletas com algum tipo de limitação física. Atualmente, o programa esportivo possui 22 modalidades, tendo a sua primeira edição realizada em 1960, em Roma, Itália.
A primeira participação brasileira foi em 1972 e hoje o Brasil é considerado uma potência paralímpica estando entre as dez maiores nações competidoras do mundo, na conquista de medalhas.
Modalidades esportivas
A Paralimpíadas agrega variadas modalidades esportivas trazendo atletas com variadas deficiências: atletas com deficiências motoras, amputados, cegos, além de pessoas que sofreram paralisia cerebral e que possuem alguma deficiência mental. O mote da cerimônia, “Nós Temos Asas”, foi materializado em diversos momentos, com alusões ao vento, voos, aeroportos e aeronaves. Na bonita cerimônia de abertura, a Pira Paralímpica, foi acesa simultaneamente por três atletas: Yui Kamiji (tênis), Shunsuke Uchida (bocha) e Karin Morisaki (halterofilismo). Eles subiram a rampa que levava ao símbolo dos Jogos, em cadeira de rodas.
Hoje, no mundo, existe um bilhão de pessoas com algum tipo de deficiência, no Brasil, segundo dados do IBGE, somos 48 milhões de pessoas deficientes, ou seja, 25% da população. Digo somos, porque com o acidente automobilístico que sofri em julho de 2003, entrei para a tribo dos deficientes físicos. Após 43 cirurgias, aprendi a me locomover de muletas, me adaptei a uma nova realidade. Em dez anos pisei em 143 países em todos os continentes. Minha meta é conhecer todos os 194 países. Os jogos paralímpicos é um exemplo de superação para os deficientes físicos e nos faz enxergar aquilo que o preconceito, (e não a deficiência), nos impede de ver. Levadas pelo preconceito, muitas pessoas associam deficiência à incapacidade. Asseguro a você caro leitor e leitora, não há deficiências, e sim limitações, que nos impõem a seguir em frente, buscando saídas para vencer o dia-a-dia.
Livro dos recordes
Depois de viajar tanto, entrei para o Livro dos Recordes Brasil como o brasileiro mais viajado do mundo com mobilidade reduzida. Já fui chamado diante de enorme plateia de “homem com asas nos pés”. Apenas como exemplo do que nossos super-campeões são capazes: em 2016, no Rio de Janeiro, os atletas olímpicos brasileiros ganharam 19 medalhas, já os paralímpicos colecionaram 72 medalhas. O gaúcho Mário Quintana, com estrema sabedoria e inspiração soube definir “Deficiências”, em um lindo poema: “Deficiente” é aquele que não consegue modificar a vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono de seu destino. “Louco” é quem não procura ser feliz com o que possui.
Uma visão distorcida
“Cego” é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, miséria, e só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores. “Surdo” é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou apelo de um irmão. Pois está sempre apressado para o trabalho para poder garantir seus tostões no fim do mês.“Mudo” é aquele que não consegue falar o que sente, se esconde atrás da hipocrisia.“Paralítico” é quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda., “Diabético” é quem não consegue ser doce. “Anão” é quem não sabe deixar o amor crescer. E finalmente, a pior das deficiências é ser miserável, pois:“Miseráveis” são todos que não conseguem falar com Deus. Podemos ser deficientes perigosos para nós mesmos e para aqueles que nos cercam. As deficiências éticas e comportamentais são mais destruidoras que as limitações físicas, já que essas são, na maioria das vezes, imperceptíveis ao olhar. É preciso educar o olhar para ver quantas pessoas estão lutando para participar do cotidiano, dando o melhor de si, se reinventando permanentemente.
Superação e resiliência
Nossos super-heróis paralímpicos já mostram o que foram fazer em Tóquio, e já estão ganhando medalhas, suas limitações não os impede de superar suas restrições com exemplos de superação e resiliência. Com as características que podem nos fazer diferentes, mas não, menos humanos, dá pra entender que o mundo poderia ser um lugar muito melhor se houvesse acessibilidade para todos. Como bem disse a medalhista paraolímpica do atletismo, Verônica Hipólito, a gente precisa aprender a olhar a EFICIÊNCIA, e não a deficiência. Vale para o esporte e para a vida.Rumo à vitória, campeões.
Quem é Luiz Thadeu Nunes e Silva: Engenheiro Agrônomo, Palestrante e maior viajante sul-americano do mundo, com mobilidade reduzida, visitou 143 países de todos os continentes.