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Pernambuco, 07 de novembro de 2024

Economia

Alta dos combustíveis já impacta os pequenos empreendedores 

A microempreendedora do segmento de cosméticos Selene Barros, de Serra Talhada, já sente aumento nos custos. O economista João Ricardo Ferreira Lima avalia que os impactos serão para empresas de todos os portes

Postado em 23/03/2022 2022 08:00 , Economia. Atualizado em 23/03/2022 08:23

Jornalista ,

A guerra entre Rússia e Ucrânia e a consequente alta nos preços do barril de petróleo no mercado internacional provocaram uma disparada nos preços dos combustíveis no Brasil. Na última semana, o consumidor se deparou com reajustes na gasolina, diesel e gás de cozinha que variaram entre 18% e 25%, em média.

De acordo com a 12ª edição da Pesquisa de Impacto da Pandemia nos Pequenos Negócios, realizada em parceria com a Fundacao Getúlio Vargas (FGV), os gastos com combustíveis, junto a insumos e mercadorias, foram citados como os que mais impactam os negócios por 63% dos microempreendedores individuais (MEI) e por 61% das micro e pequenas empresas. Somado esse custo às despesas com gás e energia elétrica, eles sobem para 76% (entre os MEI) e 77% para as MPE.

Para os donos de pequenos negócios, que representam quase 99% de todas as empresas do país, a escalada dos preços trouxe um impacto direto nos custos de operação e no resultado financeiro, já comprometidos após dois anos de pandemia.

Impacto no custo de delivery

A microempreendedora e consultora no segmento de cosméticos, Selene Barros, está entre os que já sentem o impacto em suas vendas e serviços oferecidos, principalmente porque depende muito do serviço de delivery para entregar suas mercadorias.

 “A alta dos combustíveis impactou diretamente o meu estabelecimento, uma vez que eu trabalho com delivery e dependendo da localidade a loja não cobra pela entrega, então, tivemos um forte impacto nos últimos dias”, declarou a microempreendedora que atua no setor de cosméticos em Serra Talhada, no Sertão do Pajeú.

Segundo Selene, outro fator que prejudica as pequenas empresas é o teto do MEI, que permanece em apenas R$ 81 mil, apesar da alta dos meios de produção e logística, fatores que oneram sobremaneira os microempreendedores.

“A gente vem sofrendo com isso há quatro anos e não tem um reajuste sequer desse limite por parte do governo. Enquanto isso tudo aumentou, a matéria-prima aumentou, subiram todos os custos, e somos obrigados a trabalhar com esse limite. Ou você migra para o Simples ou é obrigado a comprar menos produtos e lucrar menos para não ultrapassar o valor”, explicou.

Resultados generalizados

Para o economista João Ricardo Ferreira de Lima, a alta dos combustíveis traz impactos para os pequenos negócios, principalmente para os empreendedores e empresas em que o custo dos combustíveis compõem parte significativa do custo de seus produtos e serviços.

Economista João Ricardo Ferreira Lima avalia que cenário é complexo para todas as empresas/ Foto: arquivo JS

 

“A situação econômica atual é bastante complexa, pois de um lado os custos de produção em geral têm crescido muito em todos os setores da economia. Combustíveis, dado que a nossa matriz logística é baseada no modal rodoviário, têm forte impacto nos indicadores de inflação. Assim, sem dúvida que toda a economia, os pequenos, médios e grandes sentem o efeito do aumento do custo dos combustíveis, que tanto fazem aumentar os gastos das empresas quanto reduzem a demanda também”, opinou.

O economista acrescenta ainda que, neste cenário, as famílias brasileiras acabam tendo que reorganizar seus gastos para adequar a perda de poder aquisitivo que enfrentam toda vez que se tem aumento dos combustíveis e crescimento da inflação em geral. “Ainda mais que existem muitos desempregados e a renda não tem acompanhado o crescimento da inflação”, explicou.

Margens estão no limite

João Ricardo avalia que tanto o mercado quanto o consumidor todos estão no limite em relação à alta de preços nos serviços e produtos. “As margens têm sido reduzidas para evitar repasse total dos custos para os preços visando evitar uma redução ainda maior da demanda pelos produtos. Do lado das famílias, as estratégias usadas para substituição de produtos, compra de bens em oferta, pesquisa, já não são mais suficientes e o que se sente é um empobrecimento generalizado. Assim, estratégias para gerar choque de oferta são realmente necessárias, como as propostas de redução de impostos de importação”, afirmou.

Cenário para o agronegócio

Contextualizando os impactos no agronegócio do Vale do São Francisco, ele afirma ser possível para os setores da economia substituir o aumento do combustível, do preço dos fertilizantes, por outro de menor impacto.

“No caso dos fertilizantes, entendemos que o processo é um pouco mais demorado, mas já existem pesquisas em andamento que serão aceleradas agora”. Ele lembra que, do lado do combustível, o Brasil criou o Proálcool nos anos 70 visando proteger das crises do petróleo.

“A maior parte dos carros brasileiros é flex, ou seja, pode andar tanto com gasolina quanto com álcool, mas a imensa maioria das pessoas só abastece com gasolina devido o elevado preço do álcool. Existe solução, aumentarmos a produção de etanol e passarmos a abastecer mais com álcool do que com gasolina. Para isto, ajustes no setor precisam ser realizados e são viáveis de serem feitos”, pontua.

Vendas on-line prejudicadas

Caso permaneça a alta dos preços, os impactos nas vendas on-line, para os pequenos negócios que dependem da logística de entrega, deve acarretar no aumento no valor dos fretes.

“O número de empresas prestando este serviço tem crescido bastante nos últimos anos. A redução da demanda por compras on-line pode reduzir, no nosso entendimento, mais em função da própria queda da renda das famílias do que por estes aumentos recentes. Contudo, tudo tem um limite. Se o preço do barril passar a atingir recordes diários, se o preço do dólar continuar aumentando e se a Petrobrás mantiver a política atual de ajustes, é possível que o setor tenha problemas com a necessidade de aumentar o valor dos fretes”, concluiu.