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Pernambuco, 12 de maio de 2025

Agronegócios

Ciência, tecnologia e a nova face do semiárido | Por Geraldo Eugênio

Felizmente nunca houve tanto avanço em tecnologia quanto nas últimas três décadas. O mundo saiu da máquina de datilografar ao celular. A Voz do Brasil passou a ser um programa surrealista e talvez muitos poucos alimentam o hábito de estar com o rádio ligado às sete da noite como de costume

Postado em 21/04/2022 2022 19:06 , Agronegócios. Atualizado em 21/04/2022 19:18

Colunista

Geraldo Eugênio, professor Titular da UFRPE-UAST/arquivo JS

Estamos vivendo um bom período de chuvas

O ano agrícola de 2022 em Pernambuco tem sido pródigo. Em poucos momentos se viu toda uma época de estiagem com a caatinga se mantendo verde. É o que ocorreu. Desde agosto de 2021 parece até que, ao menos a cada três semanas, havia uma chuva alimentando o ambiente e tornando o cenário chamativo aos olhos e as temperaturas suportáveis.

O milho e o feijão semeados em janeiro logo mais estarão aparecendo nas feiras. Caso tudo continue indo neste ritmo, a canjica, a pamonha e o cuscuz de milho novo estão garantidos. As feiras são fartas e aparecem frutas e verduras que normalmente pouco se vê por aqui.


Projeções para safra de milho é positiva/Foto: Reprodução Internet


0 que representa a água pluvial

Os grupos de whatsapp trocam mensagens dias inteiros chamando a atenção para quão choveu naquela localidade, ou mostrando fotos de ruas bairros completamente alagados. Os açudes e barragens quase todos com uma quantidade razoável de água acumulada durante os últimos meses. Vários desses, transbordando.

Vai e volta aperto na mesma tecla. O que representa 600 milímetros de chuvas? São 600 litros por metro quadrado ou uma lâmina uniforme de 60 cm de altura. Não é pouco e quem vive em regiões áridas ou semiáridas de outros países sabe muito bem o que aqui se comenta.

Ao sul da Espanha, há regiões com precipitações pouco superiores a 200 milímetros/anos e em uma grande quantidade de países a precipitação anual não chega a 100 milímetros. Aparentemente seria um ano em que não se falaria de carros pipas ou de períodos emergenciais. Não é assim que se procede. Mesmo agora ainda há quem lute por aumentar a cota de carros pipas e, se possível for, de número de inscritos no programa de auxílio emergencial, cestas básicas ou outro tipo de ajuda qualquer.

O importante é que a prática se reverta em votos e aí o profissionalismo é inigualável. As cotas de necessitados são estabelecidas e muito bem distribuídas entre líderes e chefes políticos.

E aí vem a ciência em nossa ajuda

Felizmente nunca houve tanto avanço em tecnologia quanto nas últimas três décadas. O mundo saiu da máquina de datilografar ao celular. A Voz do Brasil passou a ser um programa surrealista e talvez muitos poucos alimentam o hábito de estar com o rádio ligado às sete da noite como de costume.

Adicionalmente, o governo em defesa dos interesses pouco claros permitiu a flexibilização do horário, o que fez com que a cada dia um número menor de pessoas ouça o programa e com isto serão poucos os que se lembrarão dos acordes do Guarany, de Carlos Gomes.

O celular, a internet, os novos materiais, os satélites, as imagens tomaram conta da cultura universal e até o presente têm demonstrado que quando o uso dessas ferramentas é utilizado da forma adequada, ganham todos.

Que se ponha junto o quebra-cabeça e direcione o conhecimento embutido para a raiz da equação do ambiente chamado semiárido: a água. Que se pergunte em que dimensão as tecnologias digitais irão contribuir para o desenvolvimento rural e urbano do semiárido?

Quando o uso eficiente da água receberá o mesmo tratamento de um mal-estar ou doença. Nestes casos procuramos os mais modernos laboratórios e fazemos questão de contar com o que existe de mais moderno. Já no campo não é assim e sempre procuramos alguma desculpa para protelar a aplicação de sistemas de informações e as tecnologias digitais quase sempre com a alegação de que o produtor não está preparado.

Este dia está próximo. O impacto da internet, dos novos materiais e da energia renovável sendo aplicada de forma rotineira é visível. O celular, do qual somente é utilizada uma pequena fração de suas aplicações, passará a ser a principal arma do bem nas mãos dos pequenos e médios agricultores e pecuaristas. E, ao mesmo tempo, passa a ser utilizado para armazenamento e transmissão de dados, elevando em muito pouco tempo a capacidade de aprendizado do homem comum, a eficiência do diagnóstico e a solução, o que é mais importante.

Terra à vista

Nada de ficção, mas em breve teremos os distritos, assentamentos e vilas conectados a redes de alta velocidade, acesso permanente à internet e o uso deste aparato fazendo parte da rotina do homem comum. Alguns países têm avançado em soluções amigáveis empregadas na pequena e média propriedade e uma verdadeira revolução se encontra em curso

O Sertão em breve será testemunha desta mudança. Restará investir na mudança de percepção das pessoas para com a ciência e a tecnologia, a começar pelas escolas, instituições de pesquisa, desenvolvimento e inovação, empresas do setor, agentes financeiros. Aqui fica um alerta. Não haverá espaço para aqueles que não aportaram no século XXI.

As premissas de Malthus, quanto à incapacidade de se produzir o alimento suficiente para a população continuará sendo adiada, mesmo com todos os riscos e com as mudanças climáticas assombrando algumas regiões, como o semiárido.

O homem é o suficiente inteligente e ardiloso para saber até onde pode ir, corrigir o curso e aproveitar de modo muito mais efetivo e racional os recursos naturais e o conhecimento posto à sua disposição. Que o diga Ulysses em seu retorno à Ítaca.

 

*Geraldo Eugênio é professor Titular da UFRPE-UAST