Leitão da Carapuça | Por Anderson Santana
Confira a primeira reportagem da série especial sobre a comunidade remanescente de quilombo localizada em Afogados da Ingazeira, no Sertão do Pajeú
Postado em 31/07/2022 2022 09:24 , Cultura. Atualizado em 31/07/2022 09:54
Chegada à comunidade
O Jornal do Sertão inicia viagem com destino a Afogados da Ingazeira, conhecida como Princesa do Pajeú e terra dos tabaqueiros. Afogados é destaque por ser polo moveleiro, educacional e de saúde. Com mais de 37 mil habitantes, de acordo com estimativa do IBGE, recém completou 113 anos de emancipação.
A cidade se destaca pelo acolhimento aos seus filhos naturais e adotivos, que fizeram desse lugar sua moradia. No entanto, a parada final do JS não é na área urbana, mas sim na zona rural. Dentre os diversos povoados da região, buscamos o Leitão da Carapuça, uma comunidade remanescente de quilombo.
Para chegar lá, basta seguir pela estrada de terra da Queimada Grande, depois do bairro Manoela Valadares, 19 quilômetros adentro. A gentileza dos moradores é o que nos guia, pois se disponibilizam a explicar detalhadamente como chegar no Leitão.
Uma pequena escola, que foi construída pelos próprios moradores, recepciona os visitantes e chama atenção; com o nome de Antonio Venerando, o espaço simples é acolhedor. Nela, muitos dos moradores que trabalharam na construção da comunidade aprenderam a ler e a escrever.
Em meio ao verde das árvores que envolvem a comunidade, repleta de natureza e tranquilidade, é possível avistar tons azuis das casas. É o lar do anfitrião Sebastião José da Silva, 54, líder da comunidade. Com muita hospitalidade, apresenta a comunidade e explica que no local também são realizadas as reuniões da Associação de Moradores, que surgiu em meados da década de 1990.
Ele conta para o JS que hoje, aproximadamente, 30 famílias moram no Leitão; mas, no passado, já moraram cerca de 50. “Nós viemos para a comunidade na época que eu estava com 3 anos de idade. Essas famílias que residem aqui vieram, a maior parte, do município de Custódia”, recorda.
Sebastião lembra que seus familiares desbravaram a área e iniciaram a habitação da comunidade: “Foram duas famílias que vieram primeiro: a do meu pai — dos Venerando — e a família Gonçalo. Eles começaram plantando roça, depois rancho de palha de coco e casa de taipa. Iniciaram passando fins de semana por aqui e assim surgiu a comunidade”, destaca.
Mais à frente, em uma casa verde, reside Antônio José da Silva, 70, um dos mais antigos moradores, que viu a comunidade surgir e crescer. Com saudosismo, conta que não havia estradas e foi necessário o trabalho braçal dos primeiros habitantes para melhorar o acesso ao Leitão da Carapuça. “Tudo era difícil. Aqui não tinha estrada, não tinha escola, não tinha nada; só tinha o pessoal mais velho que morava, e as estradas nós começamos a fazer. Chegou um ponto que a gente ia de pé até a Queimada Grande — comunidade a alguns quilômetros de distância — para tirar areia de lá até aqui. Não era por dinheiro. A gente fazia porque precisava, tinha aquela vontade de fazer”, enfatiza.
No próximo domingo, você confere a segunda reportagem da série especial e vai conhecer mais sobre a história da comunidade.