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Pernambuco, 30 de novembro de 2024

Cultura

Leitão da Carapuça | Por Anderson Santana

Confira a primeira reportagem da série especial sobre a comunidade remanescente de quilombo localizada em Afogados da Ingazeira, no Sertão do Pajeú

Postado em 31/07/2022 2022 09:24 , Cultura. Atualizado em 31/07/2022 09:54

Jornalista ,

Imagem Divulgação

Chegada à comunidade

O Jornal do Sertão inicia viagem com destino a Afogados da Ingazeira, conhecida como Princesa do Pajeú e terra dos tabaqueiros. Afogados é destaque por ser polo moveleiro, educacional e de saúde. Com mais de 37 mil habitantes, de acordo com estimativa do IBGE, recém completou 113 anos de emancipação.

A cidade se destaca pelo acolhimento aos seus filhos naturais e adotivos, que fizeram desse lugar sua moradia. No entanto, a parada final do JS não é na área urbana, mas sim na zona rural. Dentre os diversos povoados da região, buscamos o Leitão da Carapuça, uma comunidade remanescente de quilombo.

Imagem Divulgação

Para chegar lá, basta seguir pela estrada de terra da Queimada Grande, depois do bairro Manoela Valadares, 19 quilômetros adentro. A gentileza dos moradores é o que nos guia, pois se disponibilizam a explicar detalhadamente como chegar no Leitão.

Uma pequena escola, que foi construída pelos próprios moradores, recepciona os visitantes e chama atenção; com o nome de Antonio Venerando, o espaço simples é acolhedor. Nela, muitos dos moradores que trabalharam na construção da comunidade aprenderam a ler e a escrever.

Escola Antonio Venerando, construída pela própria comunidade do Leitão

Em meio ao verde das árvores que envolvem a comunidade, repleta de natureza e tranquilidade, é possível avistar tons azuis das casas. É o lar do anfitrião Sebastião José da Silva, 54, líder da comunidade. Com muita hospitalidade, apresenta a comunidade e explica que no local também são realizadas as reuniões da Associação de Moradores, que surgiu em meados da década de 1990.

Líder da comunidade, Sebastião José da Silva

Ele conta para o JS que hoje, aproximadamente, 30 famílias moram no Leitão; mas,  no passado, já moraram cerca de 50. “Nós viemos para a comunidade na época que eu estava com 3 anos de idade. Essas famílias que residem aqui vieram, a maior parte, do município de Custódia”, recorda.

Sebastião lembra que seus familiares desbravaram a área e iniciaram a habitação da comunidade: “Foram duas famílias que vieram primeiro: a do meu pai — dos Venerando — e a família Gonçalo. Eles começaram plantando roça, depois rancho de palha de coco e casa de taipa. Iniciaram passando fins de semana por aqui e assim surgiu a comunidade”, destaca.

Antônio José da Silva participou desde o início da transformação da comunidade

Mais à frente, em uma casa verde, reside Antônio José da Silva, 70, um dos mais antigos moradores, que viu a comunidade surgir e crescer. Com saudosismo, conta que não havia estradas e foi necessário o trabalho braçal dos primeiros habitantes para melhorar o acesso ao Leitão da Carapuça. “Tudo era difícil. Aqui não tinha estrada, não tinha escola, não tinha nada; só tinha o pessoal mais velho que morava, e as estradas nós começamos a fazer. Chegou um ponto que a gente ia de pé até a Queimada Grande — comunidade a alguns quilômetros de distância — para tirar areia de lá até aqui. Não era por dinheiro. A gente fazia porque precisava, tinha aquela vontade de fazer”, enfatiza.

No próximo domingo, você confere a segunda reportagem da série especial e vai conhecer mais sobre a história da comunidade.