O Sertão e a chuva do caju
Bom prenúncio para a temporada chuvosa de 2023. A primeira sensação é que havendo boa colheita de frutas o inverno estará assegurado. Uma crença que perdura há séculos e que quase sempre se confirma. O que significa dizer que as colheitas de milho, feijão e as pastagens crescerão bem no próximo ano. Por incrível que pareça, não é toa que alguns mais otimistas já iniciaram o preparo de suas terras para o plantio.
Postado em 03/11/2022 2022 19:18 , Agronegócios. Atualizado em 03/11/2022 19:55
Antes da caatinga secar completamente, vem a chuva
Tudo indica que o ano de 2023 vem com boas perspectivas de chuvas. O verão avançava outubro adentro quando de repente a chuva retorna, baixa a temperatura e a poeira, as plantas que mudavam aceleradamente sua roupagem voltam ao verde original e a paisagem toma outra tonalidade.
Do ponto de vista fisiológico, as trovoadas de outubro e novembro são conhecidas como a chuva do caju, ou o indutor floral para as fruteiras que, em dezembro oferecerão as esperadas safras de caju e manga. A primavera de 2022 não falhou e ocorreram precipitações entre 50 e 150 milímetros em quase todos os municípios do sertão de Pernambuco.
Bom prenúncio para a temporada chuvosa de 2023
A primeira sensação é que havendo boa colheita de frutas o inverno estará assegurado. Uma crença que perdura há séculos e que quase sempre se confirma. O que significa dizer que as colheitas de milho, feijão e as pastagens crescerão bem no próximo ano. Por incrível que pareça, não é toa que alguns mais otimistas já iniciaram o preparo de suas terras para o plantio.
Em caso de seguir o postulado Faris, do pesquisador Egípcio Mohammed Faris, que esteve em Pernambuco entre os anos setenta e oitenta do século passado, após ocorrer 75 milímetros de chuva, com isso o solo estaria apto a receber as sementes de sorgo, em seu clássico trabalho em que mapeava a chance de sucesso do plantio de cereais no Agreste e Sertão do estado.
As tendências
E em ocorrendo boas chuvas, o que se plantar? Nos dois últimos anos, sem dúvida, a grande vedete da agricultura brasileira foi o milho. O aumento da demanda externa e interna fez com que este cereal acumulasse ganhos significativos de valor, chegando a cento e dez reais a saca há cinco meses, estabilizando-se entre oitenta e noventa reais. Uma vez que as tecnologias que vem sendo recomendadas no cultivo deste cereal tem sido efetivas e os ganhos de produtividade visível, ele continuará sendo a principal recomendação para os plantios no Cerrado e no Semiárido brasileiro.A demanda interna por milho não será arrefecida, em particular no que se refere às rações para aves e, conforme relatado em outros momentos, os empresários da AVIPE – Associação dos Avicultores de Pernambuco continuam a tomar as rédeas em suas mãos e apoiam o programa Grãos PE que visa a expansão da área cultivada e da produção em Pernambuco.
Um segundo programa que desde sua origem concentra-se no apoio ao pequeno e médio produtor, O Prospera, amplia duas atividades em Pernambuco e outros estados do Nordeste. Contratou-se extensionistas, ampliou os estados de atuação e começa a incorporar os médios produtores do Sertão que a partir das demonstrações e dias de campo estão apostando na cultura.
Em se falar na difusão tecnológica os exemplos são tão expressivos que merecem ser comentados. A partir de unidades demonstrativas instaladas na Estação do IPA, em Serra Talhada, acompanhadas pelas equipes de agronomia e de economia da UFRPE-UAST e do IPA, o interesse tem crescido e para 2023 um grupo de pequenos e médios produtores participarão do esforço não no modelo convencional de receber os insumos e a assistência de modo gratuito, mas de, nesta retomada se predispuserem a dividir os custos com o programa em curso
Este esforço do empresariado, independente de tamanho de sua área de cultivo, do governo estadual, da iniciativa privada e das instituições de fomento leva a crer que, também conforme já se comentou, não facilmente veremos o estado produzir grãos suficientes para atender sua demanda, mas ao menos elevar a produtividade nos próximos quatro anos para um patamar entre dois mil e dois mil e quinhentos quilos de milho por hectare.
Vale lembrar dos esforços que vêm sendo realizados por grupos empresariais que se instalaram às margens da barragem de Itaparica e estão tendo no milho uma opção de cultivo antes de se elegerem algumas espécies frutícola ou mesmo a produção de forragem.
A importância das instituições locais
No caso em análise, o fato dos programas de difusão tecnológica estarem contando como apoio irrestrito de instituições como o IPA – Instituto Agronômico de Pernambuco que decidiu-se por capacitar seus extensionistas nas tecnologias que compõe o sistema atual da cultura, da UFRPE, do IFPEA, da incorporação do Banco do Brasil como um dos mantenedores e de, juntamente com o BNB, ser parte fundamental do apoio creditício, além é óbvio daqueles que fazem a produção, os pequenos e médios produtores, acena-se para um crescimento continuado da oferta de grãos em Pernambuco.
A crônica iniciou com a importância das trovoadas de final de ano no Sertão como sinal positivo para as safras do ano que se inicia e foi mudando seu foco para a produção de milho. A verdade é que não se trata apenas da previsão de uma única cultura. Este diagnóstico pode ser extrapolado para o feijão-caupi, por exemplo e, para as áreas de cerrado no Nordeste, desde o sul do Piauí e Maranhão ao Oeste da Bahia, a soja.
Neste sentido fica aqui reconhecimento pioneiro de colegas do IPA haverem iniciado há mais de quatro décadas uma iniciativa visando a introdução da soja na Chapada do Araripe. Este trabalho dever ser continuado de forma que se tenha consciência do que vem sendo ofertado aos produtores do Brasil central e consequentemente das áreas de altitude do Semiárido para o cultivo dessa leguminosa de elevada expressão econômica.
Professor Titular da UFRPE-UAST