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Pernambuco, 11 de março de 2025

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O Ministério da Pesca – Águas interioranas

Com certeza o ministério deverá contar com total apoio dos bancos de fomento facilitando o empréstimo à produção, beneficiamento e comercialização dos produtos resultantes de uma iniciativa desta natureza.

Postado em 05/01/2023 2023 20:00 , Colunistas. Atualizado em 05/01/2023 15:32

Colunista

Jornal do Sertão

 

A aquicultura tem sido um sucesso em várias regiões do mundo

Pernambuco foi um estado muito bem atendido quanto a participação no Ministério do Governo Lula. Até o momento são três ministros: José Múcio Monteiro, na Defesa; Luciana Santos, em Ciência, Tecnologia e Inovação; André de Paula, na Pesca; o Secretário Executivo do Ministério da Previdência Social, Wolney Queiroz e o Secretário Nacional de Segurança Pública, Tadeu Alencar.

Haverá oportunidade de se comentar o que o semiárido pode esperar das pastas citadas, que se inicie pelo Ministério da Pesca. Para muitos uma estrutura frágil ou uma invenção do Governo Lula que transformou uma mera Secretaria do Ministério da Agricultura em Ministério, desde seu primeiro mandato, para outros uma área estratégica negligenciada pelo Brasil. Talvez a segunda colocação esteja mais próxima da realidade.

É difícil de admitir que um país com um litoral superior a sete mil quilômetros de extensão e uma área que excede oito milhões e quinhentos mil quilômetros quadrados apresente uma atividade pesqueira que não se encaixa entre as nações que mais eficientemente exploram seus mares, rios e espelhos de água interioranos.

No caso específico espera-se do Ministério recriado que ande rápido quanto a exploração da aquicultura nos rios, lagos, lagoas, açudes, barragens, tanques de alvenaria ou em terra batida, gaiolas e tudo o mais possível. Algumas regiões do planeta, em particular o Sudeste asiático que promoveu uma verdadeira mudança no que tange a produção de peixes e camarões, elevou a um outro patamar a eficiência do uso das águas e das terras e promoveu um crescimento significativo no padrão de vida de suas populações.

Sendo o Ministro André de Paula um conhecedor de Pernambuco quer como parlamentar e como Secretário de Agricultura, espera que um amplo programa de suporte à aquicultura interiorana seja deflagrado nas primeiras semanas de seu mandato à frente desse ministério. Não hesite, Ministro, consiga organizar seu programa a partir dos planos que foram realizados e pouco realizado, de uma visão futura, já que a realidade atual é muito diferente do setor há uma década e aproveite o ambiente econômico e institucional a seu favor.

Aquicultura é renda

Em seu discurso de posse já foi expresso o desejo de apoiar iniciativas tal qual a que aqui se discute. Falta um componente extremamente importante que deve ser levado em consideração. A aquicultura tem sido um exemplo preciso da profissionalização, da aplicação de tecnologias e da agregação de valor aos produtos advindos dos criatórios ou da pesca. Na da Ásia, em referência, foram milhares ou milhões de pequenos produtores que trocaram a agricultura e a pecuária pela produção de peixes e outras espécies aquícolas. Na maioria dos casos as pequenas e médias propriedades adicionaram ao seu cardápio de atividades econômicas o uso mais adequado de suas águas. Basta tão somente checar os mercados, dos mais sofisticados aos mais humildes o preço da tilápia, do camarão, do cará, do tambaqui ou da manjubinha.

Por falar em manjubinha ou outras piabas que são objeto da culinária regional, é importante se frisar que já não é uma comida dos mais pobres, nem vendidas em sacos de estopa ou ráfia, embrulhadas em papel-jornal, mas um componente gourmet, especialmente no preço.

Com certeza o ministério deverá contar com total apoio dos bancos de fomento facilitando o empréstimo à produção, beneficiamento e comercialização dos produtos resultantes de uma iniciativa desta natureza. Caberá ao governo, além da coordenação do processo auxiliar o negócio, além do empréstimo na logística, nas compras governamentais, no acesso à internet e ao e-commerce e na capacitação permanente. Em alguns casos haverá a necessidade de se contar com instituições públicas no fomento, em particular na produção de alevinos e larvas de camarão. O restante será resolvido em se tratando o produtor como um empresário.

Renda é o melhor antídoto contra a fome

Sempre haverá de lembrar que a produção aquícola auxiliará na mitigação da fome, o que é verdadeiro, entretanto o mais importante caminho a ser traçado é o fortalecimento do aparato produtivo de modo que este pequeno empreendedor eleve seu nível de renda e assim a aquisição de alimentos não será o obstáculo à saúde e a uma boa nutrição.

Em se tratando de nutrição, é importante lembrar que um dos problemas que o país e ainda mais o interior padece é o baixo consumo de pescados, derivados e frutos-do-mar. Não serão campanhas educativas que mudarão o hábito alimentar, mas a introdução desses alimentos na merenda escolar e nas demais entidades públicas que fornecem alimentação a crianças escolares, menores, idosos e militares. É importante sempre ter em mente que o Brasil é um dos países com um consumo médio per capita de peixe inferior a grande maioria dos países.
As condições estão postas

Além dos pequenos e médios proprietários, dos ribeirinhos, das empresas do setor, quem estaria mais qualificado a auxiliar neste movimento? No caso de Pernambuco há uma tradição em fomento a aquicultura que começa com a Sudene, seguindo-se do DNOCS, da Codevasf, das Universidades que contam com cursos de Engenharia de Pesca e Aquicultura, as instituições regionais de pesquisa e extensão rural e as prefeituras municipais.

Em Pernambuco há um componente adicional: o fato da UFRPE em sua Unidade Acadêmica de Serra Talhada, em 2006, haver instalado um curso de Engenharia de Pesca. A visão de futuro dos gestores da época é algo a se considerar, bem como o fato de após dezesseis anos o ambiente encontrar-se pronto para a colheita. Que o diga o Prof. Diogo Nunes, coordenador do curso em referência. São dezenas de jovens professores e alunos em busca de opções de ocupação e aplicação dos conhecimentos adquiridos. Em havendo um programa devidamente coordenado serão dezenas de novas empresas que surgirão não apenas tendo a produção como foco, mas a consultoria, o fornecimento de insumos, o processamento e a comercialização.
Resumo da ópera. O Ministério da Pesca é um dos mais importantes do governo e delineando-se o devido planejamento poderá ser uma das áreas com resultados mais visíveis em relativamente pouco tempo. Ficou o débito de se tratar da Amazônia Azul, o oceano Atlântico em toda nossa costa leste. Este será o assunto de um próximo texto.

1Professor Titular da UFRPE-UAST
Serra Talhada, 04 de janeiro de 2022