
A economia regional em discussão
Além das oficinas, palestras, mesas redondas, apresentações de trabalhos, estão programadas duas visitas.
Postado em 23/11/2023 2023 17:02 , Agronegócios. Atualizado em 22/11/2023 23:25
Um fórum importante para ao Sertão
No início do ano esteve visitando Serra Talhada o Professor Tales Vidal para, em nome da Sober – Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural, convidar a UFRPE-UAST, em especial os docentes dos cursos de Economia e Administração, a hospedar o XV Congresso da Sober NE, no que foi bem sucedido. Hoje, 22 de novembro de 2023, será iniciado o evento que trará profissionais experientes e renomados de várias regiões do país, jovens estudantes e profissionais de todas as regiões. Parabéns a todos que compuseram as comissões de trabalho. Um verdadeiro gol de placa.
Esclarecendo que o colega e amigo Tales Vidal, infelizmente encontra-se hospitalizado, recuperando-se dessas mazelas da idade e não se fará presente no evento, embora esteja sendo municiado de informações sobre quão prolífica foi sua visita. Aqui também vale os parabéns para a UFRPE e para a APCA – Academia Pernambucana de Ciência Agronômica, instituições representadas durante sua missão prospectiva ao Sertão.
Além das oficinas, palestras, mesas redondas, apresentações de trabalhos, estão programadas duas visitas. Uma à cidade de Triunfo e a segunda ao município de Flores a fim de se conhecer o empreendimento ousado de produzir uvas de mesa em pleno Sertão do Pajeú.
O fato de poder aprender com as lições trazidas bem como mostrar aos visitantes o que de fato configuram o Sertão de Lampião e Maria Bonita no século XXI é uma oportunidade ímpar. A imagem da região Nordeste nem sempre é devidamente clara quando se trata da visão dos nossos irmãos do Sul e Sudeste, mas a leitura presencial é inconfundível. Conviver alguns dias com a hospitalidade, a cultura, a culinária e o clima da região não deixam de ser um empreendimento mais do que saudável e uma semente para visitas futuras. Gostaria de lembrar aqui a importância de uma visita de trabalho realizada há 40 anos, a visita de estudo do magnífico escritor peruano Mário Varga Llosa que ao conhecer factualmente a história da Guerra de Canudos fez com que nos presenteasse com a Guerra do Fim do Mundo, um romance que, por incrível que pareça levou os Sertões de Euclydes da Cunha a ser ainda mais conhecido e valorizado mundialmente.
Uma região que se redesenhou
É provável que alguns de nossos economistas e administradores não estejam vindo ao Sertão de Pernambuco pela primeira vez. Com certeza aqueles que não estiveram aqui nos últimos cinco anos hão de se surpreender com as mudanças ocorridas, com o crescimento das cidades, do comércio, dos serviços, do ambiente de saúde e educação. O Semiárido mudou e mudou definitivamente.
Os desafios continuam enormes mas a conversa não se estende em contendas familiares, honra, secas, estradas carroçáveis, distância abismal, comunicação sofrível. O diálogo certamente se dará sobre ampliação e atração de investimentos, planejamento estratégico, visão de futuro e desenvolvimento regional.
Não é à toa que Serra Talhada recebe diariamente pacientes e estudantes de dezenas de municípios de Pernambuco, da Paraíba e até de Alagoas e da Bahia. A cidade se tornou um polo regional de negócios, educação e desenvolvimento tecnológico dificilmente imaginado há duas décadas apenas.
A síndrome de patinho feio ficou para trás
O que se vê é ampliação dos negócios locais, em Pernambuco e outras regiões, bem como a busca de grandes empresários do atacado, da educação e da saúde por uma fatia do mercado regional.
Recentemente o município de Serra Talhada foi considerado um dos cem mais dinâmicos do Nordeste superando locais tradicionalmente conhecidos como alavancas da economia do semiárido. Aqui há um aspecto distinto representado pela união dos empresários locais em torno das causas comuns. Durante muito tempo este denominador comum não existia e, com isto, quem perdia era a cidade uma vez que com a desculpa de não se desagradar amigos, a vida continuava com uma no prego e outra na ferradura e nada de concreto sendo observado.Esta é uma situação em que nenhum município está imune. Carece de permanente atenção em deixar claro para os grupos e atores políticos que eles existem não para usufruto das localidades, municípios ou das pessoas, mas foram escolhidos para trabalharem bem e usarem os recursos físicos e humanos da forma mais racional e proba. Não há outras opções e assim, se assegurará a permanência nos trilhos de uma locomotiva que por seu peso tende a se arrastar incessantemente.
Que não se contente com as sobras
O dever de casa local é a mais importante força na dinâmica do desenvolvimento regional, contudo os gestores estaduais e locais podem ajudar muito no atingimento de objetivos bem planejados. No caso do governo estadual é fundamental que note que o estado é um retângulo irregular com pouco mais de cem quilômetros de norte a sul e setecentos e cinquenta quilômetros de leste a oeste. Apesar de um terço de sua população se concentrar na região metropolitana, talvez a predominância dos problemas também estejam por lá e ao se mergulhar nos neste espaço, não sobra quase nada para os municípios que, de fato, estão redesenhando a economia pernambucana.
Um olhar mais amplo sobre as oportunidades do estado dificilmente sairá de quem se acostumou com a beleza, o trânsito, a institucionalidade e a proximidade com o mundo que destaca a capital do estado, entretanto é bom lembrar que a espinha dorsal do estado, que é a BR 232, com a bifurcação em Salgueiro, estendo este Y até Petrolina e Araripina é função estratégica para o futuro do estado. Do litoral ao Sertão.
Assim, aproveitando-se do belo momento que representa o XV Sober NE, a primeira versão do Congresso a ser realizado no Sertão do Pajeú para refletir, cobrar e arregaçar as mãos. O futuro está à espera e não simpatiza com intrigas e malemolência.
1Professor Titular da UFRPE-UAST
Serra Talhada, 22 de novembro de