Um país em ajuste mas em movimento
O acréscimo que teve foi apenas em Real, devido à desvalorização da moeda e dos propalados investimentos externos que não passavam da aquisição a preços vis, das empresas nacionais. A Petrobras por pouco não foi completamente destruída nesta fúria entreguista.
Postado em 21/12/2023 2023 10:48 , Agronegócios. Atualizado em 21/12/2023 10:50
Não se sabe se a história do país desde a era Getúlio é um romance de ficção ou tragédia. Talvez os dois estilos interligados. Por vinte anos, de 1935 a 1954, a sombra do caudilho pairou sobre o país. Quer seja como ditador ou presidente eleito, este intrépido gaúcho levou o Brasil a pensar que tinha plena condições de se transformar em uma nação desenvolvida, deixando uma economia unicamente dependente do campo que por muito tempo contava apenas com dois produtos de exportação, o café e o açúcar, para sonhar com uma industrialização dirigida que resultou em alguns símbolos da nação que conseguia se libertar do século XIX, a exemplo da Petrobras e da Companhia Vale do Rio Doce.
Com a morte de Getúlio, por pouco esses esforços não foram soterrados, já que a nossa elite empresarial, mesmo sendo beneficiária dos avanços, tal como hoje, em sua maioria, preferia conviver com um Brasil dependente totalmente da produção industrial estrangeira. Desde lá a cantilena da privatização frequenta o noticiário político e as academias. Persistindo a hipótese falsa de que o estado diminuto, minúsculo, apático é o que de melhor existe e que o deus chamado mercado tem a capacidade de resolver todo o resto.
Após um breve período, de Kubitschek a Goulart o país contou com governos democráticos, instalando-se a seguir o período militar que durou nada menos do que vinte e um anos, resultando em uma país com a economia em frangalhos, sem perspectiva alguma de crescimento e uma inflação muito bem documentada. O rentismo tomou conta da economia e aplicar no ´overnight` era o mesmo que conseguir a senha para a caverna de Ali Baba. Se enriquecia em muito pouco tempo às custas daqueles que não tinham o que aplicar e toda a riqueza era dirigida a adquirir alimentos e bens de consumo que a cada mês podiam ter os preços majorados em mais de cem por cento.
Neste vai e vem o Brasil consegue a estabilização da moeda, o que se deve a Fernando Henrique que para não ficar apenas no positivo desencadeou uma campanha de desestatização em que os ´investidores` normalmente entravam com a pose e alguma migalha e o estado entregava seus ativos sem o mínimo constrangimento. Chegou-se ao século XXI e com isto um período virtuoso para economia mundial e brasileira. O Brasil deu sinais de vida e chegou a ser considerada a sexta economia mundial em termos de PIB – produto interno bruto. Mas para não abandonar o estigma de Stephan Zwigler, o Brasil continuou sendo o país do futuro
Um longo período de estagnação – 2014-2022
Cresceu a instabilidade política, a economia entrou em parafuso, não soube administrar a pandemia e o Brasil como caso de sucesso desapareceu das manchetes internacionais como locomotiva e passou para o rabo da fila no comboio. Apesar de algumas versões fantasiosas, o fato é que o país patinou por dez anos com um PIB na casa de dois bilhões de dólares. O acréscimo que teve foi apenas em Real, devido à desvalorização da moeda e dos propalados investimentos externos que não passavam da aquisição a preços vis, das empresas nacionais. A Petrobras por pouco não foi completamente destruída nesta fúria entreguista.
Neste mesmo período em que quase todos os males são jogados às costas da Pandemia Covid 19, algumas nações quase duplicação seus produtos internos, a exemplo do Vietnã, da Malásia, da Indonésia, da Índia, sem falar no motor do crescimento mundial nos últimos quarenta anos, a China.
Quase nenhuma preocupação com o país
Alguns setores da economia nacional foram severamente afetados, como a indústria. O que tem ocorrido neste período de conto de fadas foi uma completa desindustrialização. O país não conseguiu ser competitivo por várias razões: mão de obra qualificada, logística deficiente, baixa capacidade de investimento, competição com as congêneres estrangeiras. Tudo isto vendido como a ameaça chinesa que tal qual o dragão de olhos vermelhos devorava os pobres empresários brasileiros e americanos.
Um oásis foi o agronegócio que contou com a intrepidez de milhões de pequenos e médios empresários, com tecnologias que ao longo das últimas cinco décadas foram sendo desenvolvidas e adaptadas, com uma boa ajuda do governo, independente do credo político. Não faltaram os empréstimos, nem as renegociações de dívidas. É um mercado demandante por alimentos e matérias primas que alçaram o país a uma posição privilegiada entre as nações. O Brasil é hoje essencial para o futuro da humanidade e, aproveitando este ativo e sendo o suficientemente ousado, o que não tem sido, poderá chegar ao meio do século como um dos mais importantes atores na geopolítica internacional.
No nosso semiárido destacam-se os avanços na fruticultura irrigada e na avicultura como principais carros chefes, incluindo a produção de hortaliças, flores e ornamentais. Não se leva em consideração neste contexto a região da mata e litoral que, do ponto de vista agrícola deveria mostrar bem mais vigor, em o nordeste ocidental, que se integrou completamente a dinâmica do Cerrado, tendo hoje os estados da Bahia, Piauí e do Maranhão como grandes parceiros na produção nacional de grãos e produtos animais.
Sinais positivos mas ainda frágeis
Passado o uso da exploração das grandes áreas e se contendo o desmatamento da Amazônia, da Caatinga, do Cerrado e o que restou da Mata Atlântica resta o semiárido a ser mais bem utilizado com sua área de aproximadamente um milhão de quilômetros quadrados[LG1] . Há oportunidades à serem operadas, em especial quando se trata de se desencadear um programa regional tendo como fundamento o uso de tecnologias modernas de captação de águas pluviais, uso eficiente de água, de sistemas de irrigação modernos, de sensores que auxiliam no controle da água, dos nutrientes e das pragas, da farta energia renovável, da internet, dos mecanismos de mercado à distância, do ensino à distância e da mão de obra egressa das escolas de ensino superior na região.
Aparentemente esta soma de atributos não tem sido levada em consideração. O que se vê são iniciativas localizadas e minúsculas que apesar da boa vontade nelas embutidas não levam a rupturas no sistema e no padrão de vida da região.
Ainda bem que, do ponto de vista nacional, chega-se ao Natal com sinais de melhora do paciente. Inflação sob controle, Real valorizado, taxa de desemprego em queda, reservas maiores e um país que volta a participar dos principais fóruns internacionais, sejam econômicos, ambientais ou tecnológicos. Os BRICS vieram para ficar. Se o Brasil souber conduzir um bom diálogo, cresce como um país maduro e propositivo. O fato é que, não sei vocês, mas não são poucos os que estão cansados dessa balela de país do futuro. O futuro está à nossa frente.
Feliz Natal e um Próspero Ano Novo às leitoras, leitores e a equipe do Jornal do Sertão.
1Professor Titular da UFRPE-UAST
Serra Talhada, 20 de dezembro de 2023