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Pernambuco, 12 de fevereiro de 2025

Agronegócios

Valorização de trabalho no semiárido

Com o avanço da educação formal ou da qualificação profissional, as empresas e entidades públicas passaram a contar com pessoas mais preparadas e capazes de exercerem múltiplas funções e de forma mais eficiente.

Postado em 02/05/2024 2024 18:05 , Agronegócios. Atualizado em 02/05/2024 18:06

Colunista

 

 

Uma luta desigual

O ideal é primarmos pela harmonia entre os que empregam e os trabalhadores. Sempre que há uma negociação em que as partes se sentem confortáveis é uma vitória do diálogo, do bom senso e das relações humanas.

As conquistas conseguidas desde 1886 quando em Chicago, nos Estados Unidos, uma greve por redução de horas de trabalho resultou em um massacre de trabalhadores e, anos a seguir, o primeiro de maio passou a ser o dia universal do trabalhador. Foram aperfeiçoadas as legislações, de modo geral houve melhoria nos salários, e a semana de quarenta horas de trabalho é reconhecida na maioria dos países. Hoje há movimentos não apenas de sindicatos operários mas, também de segmentos empresariais advogando a redução das horas de trabalho semanais para um tempo que gira entre trinta e trinta e seis horas.

Ainda bem que a grande maioria dos empregadores é consciente de que  contar com colaboradores satisfeitos e que se sintam parte da empresa é algo extremamente salutar e um ganho. Associada às conquistas, há um componente adicional no mercado de trabalho, a qualificação dos recursos humanos. Com o avanço da educação formal ou da qualificação profissional, as empresas e entidades públicas passaram a contar com pessoas mais preparadas e capazes de exercerem múltiplas funções e de forma mais eficiente.

O importante é que a relação trabalhador-patrão seja encarada como uma via de mão dupla e que a empresa esteja ciente de que o lucro não pode ser obtido às custas de menores remunerações e ambientes desconfortáveis para seus colaboradores. Afinal, não se deve ser ingênuo reconhecer que o trabalhador sempre estará em uma situação defensiva.

Dignidade e tratamento humano

Há também quem não reconheça o mérito de se contar com uma justiça trabalhista capaz de dirimir questões e resolver pendências de forma rápida e correta. É importante também lembrar que boa parte das causas que tramitam nas varas trabalhistas merecem celeridade, uma vez que o objeto da ação é algo que se dá entre o final de um contrato e a busca por uma outra oportunidade. Não é razoável que a justiça seja tendenciosa e que acate sempre as demandas de uma das partes sem analisar o contexto social, econômico e legal de cada causa. O tratamento digno ao mais humilde é algo inegociável e que deve ser buscado em qualquer circunstância.

No caso específico dos ambientes empresariais do semiárido, em alguns textos tem-se alertado para o ciclo positivo que se vive a região em se contar com jovens egressos dos cursos médios e superiores de dezenas de instituições públicas e privadas em todas as áreas demandadas pela economia regional. Um fenômeno recente. Observado a partir da expansão do ensino técnico, das universidades, campi e institutos nos últimos vinte anos. No primeiro momento suponho que não houve um perfeito entendimento por parte de alguns empregadores de que, para se contar com uma mão-de-obra mais preparada, uma contrapartida melhor deveria ser ofertada em termos de remuneração, perspectiva  e conforto. As primeiras turmas formadas ainda se confrontaram com salários mínimos, o que, do ponto de vista legal é a remuneração mínima para permitir um trabalhador contar com uma vida básica do ponto de vista material e bem-estar.

É evidente que esta realidade não se sustenta uma vez que após quinze anos de estudos formais e de quatro ou cinco anos em uma escola de nível superior, o cidadão ou cidadã além de haver se tornado em uma pessoa mais culta, esclarecida e preparada, aspira por uma vida digna e do conforto que na maioria das vezes não foi presenciada na casa de seus pais.

O alerta aqui é para que ao se pretender contar com profissionais de qualidade e de novos empreendedores, a remuneração deve condizer com o preparo intelectual e a aptidão para  as diversas funções. A não observância desta função básica resultará em uma falha gritante do esforço de dotar a região de um padrão de educação equivalente às regiões mais avançadas. A fixação da juventude no Agreste e Sertão é uma condição sem a qual o desenvolvimento do Semiárido será adiado permanentemente.

Não somente entre os egressos de cursos superiores

São vários os registros das exigências de mão-de-obra qualificada na agricultura irrigada do Vale do São Francisco. De quão habilidosa deve ser uma trabalhadora ao podar os parreirais, de um podador de mangueiras ou de alguém que está envolvido com o pós-colheitas em galpões e ‘packing-houses’. Em se tratando de produtos que visam o mercado interno e externo e que devem chegar e de alto valor agregado para o padrão dos produtos agrícolas, essas habilidades são recompensadas com maiores salários e gratificações e, consequentemente com a elevação do padrão de consumo e nível de vida de municípios como Petrolina.

O que ocorre no Vale do São Francisco deve ser entendido como inspirador para as demais regiões e atividades do Semiárido. Não é somente a fruticultura irrigada que deve valorizar seus trabalhadores, mas todos que fazem o agronegócio regional. Em havendo cadeias que estão sendo subvalorizadas, a exemplo dos lácteos em algumas regiões e determinados produtos, a exemplo do queijo de coalho, algo deve ser feito visando uma recompensa digna a quem produz e comercializa de modo que a atividade seja não apenas rentável mas que também seja capaz de melhor remunerar o trabalhador que ordena, o vaqueiro, e aqueles envolvidos na produção dos lácteos.

As atualizações das leis trabalhistas

Fica ainda um sinal para quem imagina que reduzir os direitos dos trabalhadores e camuflar certas medidas que são negativas ao trabalhador sejam consideradas como algo positivo. Uma hipótese que não se configura como verdadeira no mundo real do trabalho. Nas últimas décadas a legislação trabalhista conseguiu desconfigurar o acesso ao FGTS, facilitar a indústria dos empréstimos consignados fazendo com que o trabalhador ou o aposentado fique refém de agiotas camuflados como instituições financeiras e outras subtrações, como a terceirização e o microempreendedor, vendidas como ´modernização` do mercado de trabalho. Há o risco de se elevar a taxa de pobreza entre a população, negando não apenas à região mas ao país uma oportunidade da construção de uma sociedade próspera e menos desigual.

Que o Dia do Trabalhador, primeiro de maio, seja sempre comemorado como exemplo de avanços e nunca de retrocessos.