Expansão do ensino médio e universitária no Sertão
Os novos Institutos Federais
Postado em 23/07/2024 2024 16:48 , Agronegócios. Atualizado em 23/08/2024 16:47
Comentou-se em uma crônica anterior quão importante foi o anúncio de instalação de dois campi de Institutos Federais em Águas Belas e Araripina. As razões são óbvias. Águas Belas, além de se localizar uma região em que predomina a pecuária de leite, tem um componente cultural inapelável por se tratar de uma área com uma população predominantemente indígena e de povos nativos.
Certamente este Campus não se concentrará apenas nestes dois grandes temas. Há espaço mais do que o suficiente para enfatizarmos áreas técnicas como as engenharias, saúde e as ciências educacionais e humanas. O estado de Pernambuco carece de profissionais de nível técnico que atendam a demanda empresarial local bem como atividades capazes de ocupar de modo intensivo os jovens egressos. Este é um ponto crítico quando do planejamento para as novas instituições.
Aqui se toma a liberdade de defender uma agenda específica nas profissões relacionadas à química, física e matemática. A UFRPE-UAST, em Serra Talhada, instalada em 2006, tem entre os cursos de licenciatura em Letras e Química. A elevação do padrão educacional no Sertão do Pajeú é marcante. O reflexo se dá no desempenho dos alunos que procuram seguir em seus estudos ou entre as empresas locais. Não são poucos os testemunhos de empresários enaltecendo a qualidade de seus colaboradores, sem deixar de citar nominalmente o sucesso que o curso de Sistema de Informação como fontes de jovens qualificados para a comunidade empresarial da região.
A UFPE em Sertânia
Há um mês, a equipe diretora da UFPE – Universidade Federal de Pernambuco anunciou a instalação de seu quarto campi no município de Sertânia. Uma vitória para o município e para as regiões do Pajeú e Moxotó e um grande tento para a Universidade que, finalmente, consegue se projetar para o Sertão. A agenda da UFPE em temas do Semiárido é rica, diversificada e crescente. Entretanto, é insubstituível o fato de se contar com uma base física no Sertão. A satisfação demonstrada pela fala dos dirigentes da UFPE quanto ao feito é prova contundente do compromisso da instituição para o Semiárido e merece a atenção e o apoio das lideranças regionais de forma que o campus seja instalado o mais breve quanto possível.
Há um vazio de instituições federais de ensino e pesquisa em áreas do Sertão que merecem ser atendidas de imediato. Este anúncio atende uma expectativa real e fortalece a política de descentralização do ensino superior em direção ao interior do estado.
A demanda real por uma universidade federal no Sertão do Araripe
Voltando ao Araripe e, em particular à Araripina, não há explicação lógica para uma cidade com uma população de noventa mil habitantes, centro de desenvolvimento regional de aproximadamente vinte municípios dos estados de Pernambuco e do Piauí não conte com uma presença estadual e federal de ensino técnico e superior. Afinal, Araripina é a fronteira ocidental do estado e unidade de integração de Pernambuco com o estado do Ceará ao norte e, do Piauí ao Oeste, além de exercer forte influência na região do Araripe, no Sertão Central e no Sertão do São Francisco.
De antemão, não há como enxergar um campus universitário que não enfatize as engenharias química, civil e eletroeletrônica, ou seus derivativos, nem tampouco contar com uma escola de agronomia exemplar em ciências do solo. O Araripe é uma região em que as jazidas de gipsita oferecem o gesso de melhor qualidade e pureza para o uso agrícola, um mercado forte ainda pouco conhecido e até negligenciado. Tais minas se localizam ao sopé da Chapada do Araripe que contempla um pouco mais de um milhão de hectares, que, atendendo aos requisitos legais e à legislação ambiental pode se tornar um forte núcleo de produção de grãos, mandioca e apicultura.
Provavelmente a UFRPE seja a instituição mais qualificada neste momento para propor a instalação de um campus em Araripina. Esta universidade conta com um campus em Serra Talhada, em operação desde 2006, e uma estação experimental em Parnamirim, em um município contíguo à Chapada. Implementou nos últimos quinze anos uma agenda de ensino de engenharia criativa e atual, através de suas unidades do Cabo de Santo Agostinho e Belo Jardim e pode se dar ao direito de propor sua extensão ao Araripe. Chamando a atenção para o fato de que em Araripina se localiza uma estação experimental do IPA que, em um programa conjunto pode se tornar um centro de referência em tecnologia e inovação para solos e culturas adaptadas à área de altitude.
Há espaço para um Centro de Pesquisa em Biotecnologia voltado para as espécies da Caatinga
Voltando à Caatinga que representa a principal cobertura vegetal do Semiárido não há como não chamar a atenção para a necessidade de contar com uma instituição líder em genômica voltada para as regiões áridas e semiáridas enfatizando-se os genes de sua flora, fauna e microbiota, envolvidos com a tolerância à estresses hídricos e secas e às temperaturas mais elevadas , uma demanda que transcende o Brasil por, devido às mudanças climáticas em curso ter caráter global.
A necessidade por algo similar é tão óbvia que não há contestação defensável em qualquer ambiente político, financeiro ou acadêmico. Laboratórios de alta complexidade não podem carecem de um planejamento minucioso com objetivos e propósitos claros. Ou se tem uma capacidade de resolução adequada ou não contará com resultados de impacto. Pernambuco conta com um número expressivo de ministros, que, com o governo estadual e as lideranças parlamentares e municipais, podem liderar uma ação desta natureza. A outra opção é deixar que outros estados, atentando para este estado de letargia, tomem a iniciativa e ver escapar pelos dedos uma iniciativa que poderia ser sua.
1Professor Titular da UFRPE-UAST
Serra Talhada, 03 de julho de 2024.