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Pernambuco, 12 de setembro de 2024

Agronegócios

Energia de última geração para Fernando de Noronha

Cultivar a relação Brasil-Japão, uma iniciativa louvável da UFPE

Postado em 08/08/2024 2024 12:14 , Agronegócios. Atualizado em 08/08/2024 12:14

Colunista

 

O Japão é um país com o qual sempre o Brasil teve uma relação especial. Afinal não é a toa que existe no país ao redor de um milhão e quinhentos mil brasileiros de origem nipônica. Tal como a saga de outros migrantes, chegaram aqui em situação difícil, lutaram por entender um país cuja cultura era distinta, o idioma completamente diferente, os hábitos e costumes em pouco ou nada se assemelhavam aos seus

Foi com uma grande dose de sacrifício que a comunidade  passou a falar o português e participar da vida social, econômica e política desta casa que a acolheu. Tendo como base um alto sentido de coletividade, os nisseis se fizeram visíveis, tornaram-se exímios agricultores, estudantes exemplares e profissionais de altíssimo nível.

No caso específico do desenvolvimento da moderna agricultura brasileira, na do Cerrado foi totalmente financiado pelo governo do Japão. E, conforme década de 70 do século passado, um programa específico para o desenvolvimento citado em colunas anteriores, o Brasil se tornou um dos mais importantes produtores de alimentos e  parceiro estratégico no comércio mundial de commodities agrícolas.

Em momentos mais difíceis, milhares de descendentes retornaram ao Japão em busca de oportunidades de trabalho e de uma vida mais digna. Esta adaptação inversa foi ainda mais árdua e apesar de muito haverem se fixado no Japão, grande parte não se adaptou e retornou ao  Brasil. O interessante é que os dois países continuaram a ter um papel importante no cenário mundial e quase sempre um ao lado do outro entre as grandes causas que consomem a geopolítica internacional.

Pernambuco conta com uma comunidade de descendentes japoneses atuantes e, pasmem, entre eles um jovem engenheiro mecânico, nascido em São Paulo, chegou ao estado para ser professor da UFPE, o Dr. Armando Shinohara. O trabalho do professor não se limitou às boas aulas no Departamento de Engenharia Mecânica mas demonstrou uma dedicação ímpar no que diz respeito à conexão entre a UFPE e universidades japonesas. Além da área acadêmica, uma iniciativa mais do que reconhecida foi a do Prof. Shinohara ter se dedicado à construção de oportunidade para que jovens estudantes viessem a contar com um curso do idioma japonês, fazendo com que milhares de estudantes da UFPE tenham avançado no domínio dessa língua.

Durante esta semana, o Professor Shinohara nos brinca com um exemplo do que representa esta cooperação entre nações, o IV Simpósio Brasil-Japão, tratando de um tema específico: a conversão de energia térmica oceânica, abreviada em inglês como OTEC que, entre vários desdobramentos espera-se criar as condições de instalar uma unidade de produção e distribuição de energia OTEC na ilha de Fernando de Noronha.

Fernando de Noronha é única

Esta ilha, parte estado de Pernambuco, se tornou ao longo dos anos um dos mais requisitados destinos turísticos internacionais. Sua beleza é reconhecida pelas companhias de turismo e de transporte de passageiros e com uma elevada frequência, está sendo divulgada nas campanhas publicitárias e revistas de bordo nos mais diversos países.

Atendendo a esta característica o território da Ilha é considerado como um santuário e tratado como um ecossistema único e que não pode sofrer alterações que  perturbem o cenário paradisíaco que encontra os visitantes e aqueles que lá vivem. Sendo assim, discutir a possibilidade da Ilha contar com um sistema de produção de energia que não polui, não emite gases de efeito estufa e cuja infraestrutura se encontra em uma coluna oceânica com profundidade de aproximadamente 800 metros é  algo de destaque. Foi sob esta ótica que o Consulado do Japão em Pernambuco e a comunidade acadêmica e de alunos da UFPE, UFRJ, UFRPE, IFPE e empresas como a Brazil-Dutos, do pernambucano adotado, Marcelino Guedes, se fizeram presentes, para entenderem, avaliarem e trabalharem pelo sucesso de um empreendimento que seria a instalação de uma unidade OTEC na Ilha.

Energia e água sempre serão prioridades

Como professor da UFRPE-UAST, em Serra Talhada, me senti extremamente honrado em ser convidado para este evento e poder dividir algumas informações sobre a demanda da educação tecnológica em Fernando Noronha e em Pernambuco em duas grandes frentes: energia e abastecimento de água. No presente, a energia disponível aos habitantes e visitantes de Fernando de Noronha é gerada a partir de termoelétricas operadas a óleo diesel, a instalação de parques eólicos seja na terra ou no mar seria não recomendável por sacrificar o maior entre todos os encantos a paisagem tão procurada. Algo similar, porém em  escala menor de perturbação, seriam os painéis solares. A verdade é que, devido ao reduzido território da ilha e à biodiversidade, seja marinha ou terrestre, não seria possível se contar com estas opções, de modo que atenda a demanda e ao mesmo tempo preserve o ambiente natural.

Considerando que apesar do controle do fluxo de pessoas, a tendência é o incremento de demandas por energia e água através de  tecnologias que possam ser instaladas localmente com   uma área mínima sem  poluir o ar ou o oceano são  sempre bem vindas.

No caso específico da OTEC,  ela atende a esses requisitos, ficando apenas de se avaliar, quando da elaboração do projeto, do custo necessário à instalação desta planta. Ao mesmo tempo, chama a atenção para o fato de que Fernando de Noronha não é um local qualquer e o valor financeiro talvez não seja o principal desafio a se contar com uma unidade comercial na Ilha.

Neste sentido a UFRPE, se irmana à UFPE no sentido de dar o suporte técnico necessário visando tornar realidade uma opção que se apresenta fruto de um esforço diferenciado. Afinal, a UFRPE conta com duas unidades acadêmicas voltadas às engenharias, a UACSA – Unidade Acadêmica do Cabo de Santo Agostinho e a UABJ – Unidade Acadêmica de Belo Jardim, tendo a segunda como foco principal a geração, acumulação e distribuição de energia.

São iniciativas como esta que engrandecem o mundo acadêmico pernambucano e mais uma vez parabenizo o Professor Armando Shinohara pelo fôlego em tornar realidade algo tão estratégico para o estado e para o país. Deixando um alerta, o Brasil precisa se aproximar da Ásia de modo mais intenso. É neste continente onde o que há de novo está ocorrendo, seja nos aspectos econômicos, culturais ou científicos.

        

        

1Professor Titular da UFRPE-UAST